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Internacional
Terça - 04 de Julho de 2006 às 05:36

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"O objetivo central não é o comércio", diz o embaixador José Antonio Marcondes, chefe do Departamento de Integração do Itamaraty. "A Venezuela é um país politicamente importante na América do Sul", afirma.

Com a entrada do país andino, ele diz que a ampliação geográfica dá uma dimensão regional ao bloco que hoje reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

"O Mercosul deixa de ter um contexto de Cone Sul para ter um contexto regional, do Caribe à Patagônia", afirmou Marcondes.

Comércio

Os dois países tiveram um intercâmbio comercial de US$ 2,47 bilhões no ano passado, com superávit de US$ 1,96 bilhão para o Brasil.

Entre os quatro países do Mercosul, o intercâmbio foi de US$ 18,7 bilhões, com superávit de US$ 4,7 bilhões para os exportadores brasileiros.

Na prática, a Venezuela "trocou" a participação na Comunidade Andina de Nações (CAN), que deixou em abril por não concordar com a decisão de Peru e Colômbia em negociar tratados de livre comércio com os Estados Unidos, pela filiação ao Mercosul.

A Venezuela já era membro associado do bloco desde 2004, assim como Colômbia, Equador, Bolívia, Chile e Peru.

De todos esses, é o único a se tornar membro pleno, já com direito a participação na próxima reunião de cúpula, dias 20 e 21 deste mês, na Argentina.

Palco

A entrada da Venezuela no Mercosul é vista por alguns analistas como mais um "palco" para os discursos e críticas do presidente venezuelano Hugo Chávez aos Estados Unidos e outros países mais alinhados politicamente com os americanos.

Apesar de exportar aos Estados Unidos boa parte do petróleo que produz, o país rejeita um tratado de livre comércio com os Estados Unidos e não aceita a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Junto com Bolívia e Cuba, a Venezuela fundou a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).

Para estes analistas, a presença de Chávez no bloco ofuscaria a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na região.

O Itamaraty rejeita esta tese. Diplomatas brasileiros vêem vantagens no estilo barulhento do presidente venezuelano. Ele serviria, nesta avaliação, para mandar os recados que o governo brasileiro não quer dizer e tornar o presidente Lula ainda mais importante para o governo americano.

"Uma parte das pessoas que fazem a política externa brasileira acredita que o Brasil pode domesticar Hugo Chávez", diz o historiador José Flávio Sombra Saraiva, coordenador do Instituto de Relações Internacionais (Ibre) da Universidade de Brasília (UnB).

"Mas outra parte tem dúvidas de que isso será possível", afirma Saraiva.

Indústria

"É corajoso tentar domesticar Chávez", diz o historiador.

Ele também tem dúvidas se vai dar certo, mas considera correta a estratégia brasileira de aumentar a integração regional.

"O Brasil não pode mais avançar na internacionalização das empresas sem a Venezuela", afirma Saraiva.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que representa o setor que teoricamente seria o maior beneficiado com a ampliação, considera o mercado venezuelano relativamente pequeno.

"A integração da Venezuela ao Mercosul representará um acréscimo de apenas 7,7% ao PIB total do bloco, incluindo o Brasil, e de 11,6% à sua população", afirma um boletim da entidade analisando os efeitos da ampliação para o setor industrial brasileiro.

Eles salientam que com isso o PIB per capita do bloco vai cair em 3,5%.

Segundo o Itamaraty, com a entrada da Venezuela, o bloco passa a ter mais de 250 milhões de habitantes, uma área de 12,7 milhões de km², um PIB superior a US$ 1 trilhão e um comércio global superior a US$ 300 bilhões.





Fonte: BBC Brasil

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