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Internacional
Domingo - 25 de Junho de 2006 às 11:15

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A busca obsessiva por coisas novas foi catalogada por cientistas japoneses como neofilia, um mal que, para deleite dos fabricantes de bens de consumo, só é curado com visitas freqüentes à loja mais próxima.

Psicólogos da Universidade de Yamagata, a nordeste de Tóquio, asseguram que fatores genéticos, relacionados a uma enzima presente nas mitocôndrias, tornam o paciente vulnerável aos novos lançamentos comerciais.

Segundo o estudo da universidade japonesa, recentemente publicado pela revista "Psychiatric Genetics", a neofilia afeta principalmente "pessoas muito inteligentes e com alto nível educativo", que às vezes sofrem do mal sem se dar conta e o confundem com uma simples dependência.

A inovadora hipótese ajuda a explicar a conduta dos chamados "early adapters", geralmente jovens ou adolescentes cuja adoração pelo recém-lançado no mercado os transforma na "menina dos olhos" do mercado publicitário, que os conhece e estuda há anos.

Para atender os bebedores "neofílicos" do Japão, os fabricantes de bebidas lançam diferentes cervejas para primavera, verão, outono e inverno, com diversos teores de álcool e com nomes que desaparecem em um ou dois meses.

Na indústria automobilística, além dos carros para consumo de massa, as empresas automobilísticas japonesas oferecem veículos como os lançados este mês por Nissan e Conran & Partners, e que consistem em automóveis com design diferenciado e que, com cores chamadas "chocolate amargo" e "creme irlandês", buscam atrair os "early adapters" endinheirados.

Talvez por ainda desconhecerem a extensão e a profundidade desse mal, muitos importadores locais de produtos europeus como vinhos ou azeite de oliva se queixam da necessidade de renovar constantemente os rótulos ou a forma das garrafas, e citam a obsessão japonesa pelo novo como uma das dificuldades para conquistar esse cobiçado mercado.

As sofisticadas propagandas de televisão, que duram menos de um mês no ar, ou as exposições de arte de três dias nas minigalerias de Tóquio, reforçam a percepção de que, no Japão, a neofilia é epidêmica.

Mas, desde que a teoria japonesa foi publicada, surgiram críticos em campos como a ciência e a publicidade que questionam a justificativa genética para uma conduta mais fácil de se explicada pelos padrões de consumo capitalistas.

Especialistas em novas tendências como a revista de internet "Media Life" indicam que a neofilia é consumismo "nu e cru", e citam opiniões de cientistas para defender sua posição.

Segundo a publicação virtual, o professor de sociologia Colin Campbell, da Universidade de York (Reino Unido), argumenta que "as sociedades pré-modernas desconfiavam da novidade" e que a adoração pelo novo nasceu no início da era industrial, em meados do século XVIII.

A neofilia seria assim uma "conduta de origem econômica", já que a cultura moderna depende de pessoas que demandam coisas novas e com um grande senso de curiosidade.

O professor Campbell defende que o amor pela novidade é um dos fundamentos do capitalismo, já que as pessoas estão "predispostas pelo desejo a serem estimuladas por coisas novas".

Os analistas de tendências defendem que a ausência de neofilia seria maléfica e se perguntam: "O que aconteceria se nas sociedades desenvolvidas as pessoas usassem os carros até quebrarem de vez ou vestissem suas roupas até rasgarem?".

Parte da resposta pode estar nos idosos japoneses que viveram a miséria do país devastado pela Segunda Guerra Mundial e que lamentam que seus netos desconheçam os encantos da reciclagem.





Fonte: EFE

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