Forças Armadas enfrentam a Justiça por atuação no Iraque
O anúncio dessas acusações com três dias de intervalo dá a sensação de que os militares americanos perderam o sangue-frio em operações contra os rebeldes, e se dedicam a combater civis ou pessoas desarmadas.
Quatro soldados foram acusados de terem matado, em 9 de maio, três homens capturados como prisioneiros na província de Salaheddin, e ameaçado de morte outro soldado americano se ele contasse o que havia presenciado.
Em outro incidente, sete marines e um membro da Marinha americana foram acusados de ter matado um civil iraquiano no dia 26 de abril, em Hamdania. Mas o incidente mais polêmico foi o suposto massacre em Haditha, que também pode levar à acusação de marines pela morte de 24 civis, entre eles crianças, em 19 de novembro de 2005, em vingança pela morte de um companheiro num atentado.
Duas investigações estão em andamento para determinar o que realmente aconteceu naquele dia, e se o comando militar tentou esconder os fatos. A investigação interna sobre a atuação do comando já terminou, mas as conclusões não foram divulgadas.
Sob pressão do Congresso americano, o Pentágono prometeu punir os responsáveis se o massacre for confirmado. "Haverá uma mudança de rumo se os marines forem finalmente acusados, e se for comprovado que houve cumplicidade dentro do Corpo de Infantaria da Marinha", afirmou recentemente a colunista Eleanor Clift à revista americana "Newsweek".
A opinião da colunista não é a mesma do especialista Max Boot, do Conselho de Relações Exteriores, um centro de estudos de Washington. "O veredicto dos americanos e iraquianos sobre a guerra não mudará por causa do que aconteceu em Abu Ghraib ou Haditha. Mais importante é o que acontece em Ramadi e Bagdá, cidades onde a segurança tornou-se mais frágil no último ano", comentou, em artigo publicado pelo jornal "Los Angeles Times". "Em vez de se torturar de modo excessivo, o Pentágono e a Casa Branca deveriam tomar medidas, como enviar mais tropas para restabelecer a ordem." O fantasma do Vietnã pesa sobre o Iraque, e o massacre de Haditha lembra centenas de civis vietnamitas assassinados por soldados americanos em 1968, na aldeia de My Lai. O crime representou uma mudança na guerra do Vietnã e teve impacto na opinião pública americana.
Hoje, os americanos são cada vez mais contrários à guerra, mas continuam apoiando seus soldados, pois estimam que eles são obrigados a enfrentar uma batalha impossível. A falta de controle do Exército americano no Iraque piora cada vez mais a imagem dos Estados Unidos no mundo, já manchada por Abu Ghraib e a prisão de Guantánamo, em Cuba.
"Não é uma tragédia apenas para as vítimas. Isso prejudica nosso próprio esforço e atenta contra os nossos valores", declarou o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, durante uma visita aos Estados Unidos, no último dia 9.
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