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Internacional
Quinta - 22 de Junho de 2006 às 17:50

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A nacionalização do setor energético boliviano pode ter afastado grandes petrolíferas européias e norte-americanas, mas o interesse de China, Rússia e Venezuela na indústria deu ao presidente Evo Morales argumentos suficientes para defender a medida.

Analistas afirmam, porém, que ainda não se sabe se as novas propostas de investimento serão concretizadas, apesar de empresas como a venezuelana PDVSA e a russa Gazprom dizerem que estão dispostas a aceitar as novas condições do mercado boliviano.

"Isso entra na teoria de que as petrolíferas sabem que o prognóstico de longo prazo para os mercados de energia é desfavorável e que será preciso fazer muitas concessões, conforme os governos tentem aumentar suas receitas", disse Enrique Alvarez, analista de mercados emergentes da consultoria IDEAglobal, de Wall Street.

"As empresas russas e chinesas estão mais dispostas a aceitar (isso) do que suas equivalentes norte-americanas ou européias", acrescentou ele.

Desde que Morales enviou soldados para proteger os recém-nacionalizados campos de petróleo e gás natural, no dia 1.o de maio, a Bolívia recebeu várias propostas de empresas estrangeiras.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez — fortalecido pela renda do petróleo e sonhando em unir a América Latina em torno da esquerda — prometeu um investimento de 1,5 bilhão de dólares pela estatal PDVSA.

O montante é equivalente ao que a Petrobras investiu na última década na Bolívia. A Petrobras é atualmente o maior investidor do setor na Bolívia, que possui as maiores reservas de gás natural da região, depois da Venezuela.

O presidente da nova estatal de energia boliviana, a YPFB, Jorge Alvarado, disse que um pequeno grupo de empresas estrangeiras de porte menor — entre elas duas chinesas — está disposto a investir.

A gigante russa Gazprom também está estudando projetos conjuntos com a YPFB, que afirmou que as propostas podem levar a um investimento de 2 ou 3 bilhões de dólares.

Quando questionado se a Gazprom encarava a nacionalização como um obstáculo, o embaixador russo em La Paz respondeu que, ao contrário, "as condições são absolutamente lógicas".

NOVO CLIMA

Nem todos, porém, estão tão otimistas com o novo clima e com toda a atenção que a Bolívia está atraindo.

"Tenho a impressão que, a partir de agora, só vamos ficar em contato com petrolíferas de segunda categoria", escreveu o analista econômico Humberto Vacaflor na revista semanal boliviana La Epoca.

Outros estão céticos em relação ao cumprimento das promessas por algumas dessas empresas. "Os chineses vêm prometendo ir para a América Latina há anos, e ainda não vimos nada. Ficaria muito surpreso se esses projetos se realizassem", disse Ricardo Amorim, chefe de estratégia latino-americana do banco WestLB, em Nova York.

As medidas bolivianas seguem atitudes semelhantes tomadas por Venezuela e Equador para limitar os lucros das empresas estrangeiras, mas a YPFB diz que a última coisa que deseja é espantar os investidores.

Morales já reforçou o recado. "Os acordos e os negócios com outros governos e outras empresas vão continuar", disse ele na semana passada na região do Chaco, rica em gás, próximo do local em que anunciou a nacionalização.

Depois do anúncio de maio, a Petrobras rapidamente anunciou que estava suspendendo temporariamente o projeto do gasoduto, mas uma semana depois aceitou a nacionalização — que reduz as margens de lucro e dá a YPFB o controle sobre a produção — e concordou em negociar novos contratos de operação.

O presidente da Repsol, Antonio Brufau, disse que a nacionalização "contraria a lógica dos negócios", e a empresa não voltou a mencionar seus planos anteriores de investimento.

Para analistas, o ressentimento das empresas não surpreende, depois dos anos de investimento na instável Bolívia.

"O mundo está começando a ver que os países pobres têm de administrar seus recursos naturais, mas esse governo quer administrar as empresas também, o que será bastante desagradável para aqueles que já investiram pesado", disse Mansilla Peña, analista independente do setor e ex-integrante da YPFB.

Segundo ele, novas empresas podem ter menos temores, já que investir na Bolívia é menos arriscado hoje, pois o país possui mercados vizinhos sólidos e reservas certificadas.





Fonte: Reuters

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