Reeleição de Lula aprofundará erros na política externa, diz Lafer
"A reeleição de Lula aprofundará os equívocos da política externa brasileira e penalizará a inserção global do País", opinou o embaixador, que já se colocou à disposição do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, para participar da elaboração do programa de governo tucano.
Segundo Lafer, a condução da política externa brasileira pelo atual ministro, Celso Amorim, pelo secretário geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e pelo assessor especial do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, tem se dado com sobreposição dos aspectos ideológicos do Partido dos Trabalhadores, sobre o enfoque de inserção econômica do Brasil.
"Como o governo atual seguiu a política econômica da administração anterior, a definição da política externa foi a de dar compensação ideológica ao PT e aos setores que apoiaram a eleição de Lula", declarou, para uma platéia formada por cerca de 50 empresários e militantes do PSDB. Por conta disso, Lafer vê equívocos no afastamento do Brasil dos Estados Unidos e a aproximação ao governo da Venezuela, de Hugo Chávez.
O embaixador acrescentou que a atual administração superestimou o próprio peso nas relações internacionais, tentando se mostrar como um reordenador da geografia econômica mundial e, ao mesmo tempo, subestimando seu papel regional, abandonando a solução de conflitos no âmbito do Mercosul. "O Mercosul sempre foi complicado, mas nunca esteve na situação em que se encontra hoje, de retrocesso", opinou.
Além disso, ele criticou a omissão brasileira na disputa entre os governos do Uruguai e Argentina sobre a construção de duas indústrias de papel e celulose no Uruguai, e que poderá ser resolvida no Tribunal Internacional de Haia.
"Sou professor de política internacional e evidentemente que, quando encerrada essa disputa, dentro de alguns anos, será uma jurisprudência fantástica para eu apresentar para meus alunos", ironizou. "É uma besteira monumental não resolver esse tipo de problema no Mercosul. O Brasil tem que se posicionar, por ser parte interessada", acrescentou.
Ainda na desconstrução que fez da política externa do atual governo, Lafer criticou a "obsessão" brasileira em obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o que teria comprometido a atuação do País em disputas internacionais e que, ao mesmo tempo, levou Brasil a instalar embaixadas desnecessariamente em diversos países. Para ele, essa ação trouxe "resultados muito pouco relevantes economicamente e medíocres politicamente".
Ainda ao criticar a tentativa de Lula de estabelecer uma nova ordem mundial, o ex-ministro afirmou que o governo esqueceu de avaliar quais seriam os interesses internacionais dos outros países, e a ratificação dessa máxima estaria comprovada no fracasso da Cúpula de Países Árabes e América do Sul, no ano passado, e nas derrotas que o Brasil sofreu com seus candidatos a dirigirem a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e na própria tentativa de ser o país a comandar o "combate à pobreza".
"O governo Lula disse que queria ser o marco zero na inserção internacional do Brasil. Isso é muito bonito, altivo, mas a contribuição do Brasil no combate à pobreza tem sido modesta", avaliou.
Ao lançar foco sobre o Mercosul, Lafer afirmou que o ingresso da Venezuela no bloco complicará "o manejo diplomático do relacionamento entre Brasil e Argentina". "O presidente Chávez instiga o conflito para afirmar-se baseado na revolução bolivariana. É o ícone do movimento mundial antiglobalização, e a visão que ele tem não é exatamente igual, por exemplo, à do Uruguai, que quer acordo de livre-comércio com os Estados Unidos", analisou.
Dentro das prioridades do próximo governo, Lafer avaliou ser fundamental que o Brasil reorganize e volte a prestigiar a Câmara de Comércio Exterior (Camex), e evite o isolamento brasileiro na América Latina, ao mesmo tempo em que mantenha esforços para salvar a Rodada Doha da OMC, único item da agenda internacional brasileira a não ser criticado pelo embaixador.
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