Relatório da CPI dos Bingos poupa Lula, Dirceu e Carvalho
Foi o próprio governo que liberou o PMDB para votar a favor do relatório, o que resultou num placar arrebatador para a oposição. A decisão só foi tomada, no entanto, quando os governistas perceberam que ao insistir na derrubada do relatório acabariam incluindo Dirceu e Carvalho na lista de indiciados.
Antes da votação, Alves pediu à sua assessoria que preparasse duas versões das alterações do relatório, na linha do voto em separado do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que incluía entre os eventuais suspeitos de envolvimento num esquema para favorecer a empresa multinacional Gtech, os nomes de Dirceu e Carvalho. "Só em último caso vou incluir esses nomes, para não perder todo o resto do trabalho que vem sendo feito há quase um ano."
Na tentativa de aprovar seu relatório, o senador do PMDB também atendeu, conforme admitiu, apelos do PSDB com relação ao suposto envolvimento do partido em Mato Grosso com João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, acusado de ser o líder do jogo no Estado, e que continua preso em Cuiabá. "Não houve acordo", garantiu Garibaldi Alves. Tenho absoluta certeza de que as alterações foram feitas porque as citações anteriores eram inadequadas.
Na primeira substituição, Alves retirou do texto final os nomes do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), do ex-governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, e do deputado Pedro Henry (PP-MT), ex-líder do PP, acusado de participação no esquema do mensalão, mas que acabou absolvido pelo plenário da Câmara.
Os três nomes apareciam no relatório em função dos depoimentos de Zildete Leite dos Reis e Joacir das Neves, ambos ex-funcionários do Comendador. Zildete e Joacir tinham confirmado à CPI que viram Antero, Paes de Barros e Henry na estância de Arcanjo.
Ainda sobre o mesmo tema, Alves modificou o último parágrafo da página 254. O texto narra que, segundo o procurador Pedro Taques, ficou comprovada a entrega de dinheiro de João Arcanjo Ribeiro a alguns coordenadores de campanha do PSDB, na eleição de 2002. Parte do dinheiro utilizado na campanha eleitoral teria vindo de empresas de factoring de propriedade de Arcanjo. O juiz Julier Sebastião da Silva - está no texto do relatório - disse em depoimento à CPI que o Ministério Públicoa apresentou uma lista discriminando as movimentações que ocorreram de agosto a novembro de 2002, revelando um aporte de R$ 240 mil a favor do Comitê do partido.
Essas duas informações são mantidas, mas o relator inclui que "entretanto, ficou comprovado que não se tratou de doação feita por Arcanjo ao PSDB, mas sim de uma operação de antecipação de recebíveis, efetuada em uma factoring de propriedade de Arcanjo".
A mudança livra o PSDB do Mato Grosso de qualquer responsabilidade e inclui a informação sobre "cheques recebidos pelo PSDB de diversas empresas e pessoas físicas em um evento promovido pelo partido, afim de arrecadar recursos para campanha". Livrando a responsabilidade do partido e a suposta relação com Arcanjo, o novo relato diz "que essas doações foram registradas normalmente na prestação de contas do PSDB, que foi aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral".
Na última mudança do relatório final, Alves pede ao Ministério Público de São Paulo para avaliar se quatro ex-funcionários da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), envolvidos na chamada máfia do lixo, praticaram ou não atos ilícitos "sob coação moral irresistível". Caso seja comprovado esse fato, somente os autores da coação ou que deram ordens manifestamente ilegais devem ser denunciados e punidos.
A inclusão beneficia, segundo o senador Garibaldi Alves, Mauro Pereira Júnior, Paulo Henriques Negri, Marilena do Nascimento Falsarella e Sérgio Antônio de Freitas. Na prática, os indiciamentos dessas quatro pessoas são mantidos.
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