Sem-terra ameaçam soltar 10 mil bois em Mato Grosso do Sul
O cumprimento ou não da ameaça está vinculado ao resultado de uma reunião que será realizada na próxima segunda-feira pela manhã em Brasília, entre dirigentes do MST e membros do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Os invasores afirmam que aguardarão até às 11 horas uma decisão sobre o impasse criado quando a Justiça Federal suspendeu os efeitos da desapropriação da área, ocorrida por decreto presidencial em outubro de 2001. Os manifestantes estão armados com ferramentas agrícolas e continuam bloqueando todos os acessos.
Eles recolheram o gado do Grupo Agropecuário Teijin, proprietário do imóvel, e fecharam o rebanho em uma área próximo à rodovia, a fim de soltá-lo na estrada.
Essa ação, conforme garantiram os líderes do movimento, é independente do despejo judicial determinado pela Justiça Federal de Dourados, dia 13, em regime de urgência e com requisição autorizada para o uso de força policial.
“Nós resistiremos ao despejo até as últimas conseqüências, isto já está decidido. Quanto ao resultado da reunião em Brasília é outra coisa. Se sair a nosso favor, faremos uma festança. Caso contrário, soltaremos os 10 mil bois na estrada”, disse um dos líderes.
Eles não querem ser identificados para não serem responsabilizados pela manifestação. “Ninguém vai assinar a notificação de despejo. Não queremos sair na imprensa com nomes completos para depois a Justiça nos procurar com essa notificação”, concluiu o líder.
Reféns Os 28 funcionários da Fazenda Teijin estão com todos os trabalhos de máquinas, montaria e manejo do gado paralisados. Essa condição torna cada um deles, na condição de trabalhador, reféns dos ocupantes da Teijin. Os sem-terra negam ter feito reféns, embora as pessoas só possam circular a pé, sem o uso de cavalo ou outro veículo.
Os sem-terra alegam que se existir algum culpado pela situação é o próprio governo federal, que decretou a desapropriação, delimitou os lotes e colocou as 1.057 famílias na fazenda. A Justiça Federal desconsiderou a existência do projeto de assentamento, deixando as famílias em situação difícil, conforme reclamaram os ocupantes. Existem famílias que investiram na construção de moradias, perfuração de poços artesianos e outros gastos, enquanto esperam a liberação dos créditos da reforma agrária.
Para as famílias, não existem invasores no local. “Somos assentados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Não invadimos esse lugar. O Incra nos deu esperança de dias melhores e agora perderemos tudo, até a esperança de ter uma vida mais digna”, desabafou um dos acampados. No interior da fazenda, estradas estão sendo abertas por empresas contratadas pelo Incra, sítios são formados e casas são construídas.
Todos os 28,5 mil hectares da fazenda estão demarcados e divididos em 1.057 lotes com tamanhos que variam de acordo com a qualidade da terra. Quanto melhor, menores são os lotes, de 18 hectares a 25 hectares.
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