Sebo de boi pode virar biodiesel
"O biodiesel pode ser feito a partir de várias matérias-primas oleaginosas, e o sebo liquefeito é um óleo como qualquer outro", diz o produtor Carlos Zveibil Neto, que desenvolveu a tecnologia com ajuda do Centro de Pós-Gradução da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Um pouco mais barato do que o biodiesel de óleo de soja, que Zveibil também produz, mas em outra unidade, em Taubaté (SP), o combustível feito de sebo tem potencial, já que cada boi abatido fornece 15 quilos de sebo aproveitável (o sebo junto da pele não é usado). Com o abate de 23 milhões de cabeças no ano passado, dados do IBGE e da Scot Consultoria, o potencial brasileiro é produzir quase 350 milhões de litros de biodiesel de sebo/ano. Hoje, o sebo é mais usado como combustível em caldeiras de frigoríficos.
O biodiesel feito de sebo não é invenção brasileira, mas sim italiana, tanto que a metalúrgica Dedini, de Piracicaba (SP), adquiriu o know how e está iniciando a produção de equipamentos para fazer biodiesel de sebo, com licença da Balestra, empresa italiana. Esses equipamentos, porém, já encomendados pela Ponte Di Ferro e por um grande frigorífico, que também pretende usar sebo para biodiesel, permitem produzir de forma contínua, mas são caros e não estão disponíveis.
Para adiantar o início da produção, pois ganhou um leilão para entregar 50 milhões de litros à Petrobrás, a Ponte Di Ferro passou a produzir no sistema desenvolvido pela UFRJ, de batelada. Ela compra o sebo semi-processado de uma graxaria de Jales (SP), já com a acidez e a quantidade de água reduzidas. Ao recebê-lo, a Ponte Di Ferro liquefaz o sebo, o que não exige muita energia, já que com 60 graus ele já derrete.
O próximo passo é misturar o metanol e alguns componentes químicos. Para cada matéria-prima destinada à produção de biodiesel há um tratamento especial. Da soja, é preciso retirar o fósforo; do girassol, a cera; do algodão, as fibras, e o sebo também exige certas reações químicas. Processado, o sebo oferece três produtos: o biodiesel, que é igual ao produto feito de soja ou de girassol, cujo odor lembra o do álcool; a glicerina loira, que também é vendida; e a água misturada com metanol, que pode ser recuperado posteriormente, para reutilização.
O biodiesel de sebo já foi analisado pelos laboratórios credenciados pela Petrobrás e atingiu as normas da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Ele só não é indicado para exportação porque, a menos de 5 graus, precipita a gordura, enquanto o biodiesel de soja é mais resistente, precipitando a 0 grau.
Embora esteja confiante no biodiesel de sebo, Zveibil enumera alguns problemas. O sistema que está usando, de batelada, é menos adequado do que as usinas que encomendou. "Se há um problema na produção, a usina o corrige logo, enquanto no sistema de batelada corre-se o risco de perder uma quantidade maior do produto até que o erro seja corrigido."
O outro problema é o preço - R$ 650 por tonelada de sebo processado, pois há poucas graxarias. Outro problema é a logística, pois tem que transportar o sebo por mais de 800 quilômetros. "O transporte torna inviável fazer biodiesel com sebo de Estados distantes", diz. E, justamente por causa do custo do transporte, ele está produzindo igualmente biodiesel a partir de soja, 19 milhões de litros, que também serão entregues à Petrobrás.
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