A profissão do caminho das águas
Atualmente, o serviço de transporte fluvial é pago pela Prefeitura de Várzea Grande e atende aproximadamente 30 pessoas diariamente, desde estudantes a trabalhadores que exercem suas funções do outro lado do rio, em Cuiabá.
O serviço é feito por dois canoeiros, Avelino José da Conceição, 43 anos, e ‘seo’ Sebastião. Os dois recebem um salário mínimo da Prefeitura para trabalhar de segunda-feira a sábado, em períodos diferentes. Sebastião trabalha das 6 às 12 horas e seo Avelino das 12 às 18 horas.
Avelino é neto de Manoel Benedito da Conceição, antigo canoeiro da Passagem, e que faz parte da família do fundador da comunidade, Manoel Antônio da Conceição. Ele faz a travessia há seis anos. “Não conseguia emprego em outro lugar e então surgiu a oportunidade e eu abracei”, disse Avelino.
Ele contou que se sente feliz em realizar o mesmo trabalho que um dia seu avô realizou. “Tenho orgulho. E, além de trabalhar, a gente também se diverte e faz amizades com o pessoal que atravessa”, explicou o canoeiro.
O barco cedido pela Prefeitura de Várzea Grande cabe até oito pessoas e todos usam coletes salva-vidas. “Todo mundo usa colete. Quem não tiver colete não vai”, ressaltou Avelino. Mas os cuidados não param por aí. Quando o rio está mais cheio, o barqueiro só transporta quatro pessoas, mas com o rio na vazante o número aumenta até o máximo de oito.
O canoeiro contou que já perdeu as contas de quantas pessoas já atravessou e de quantas vezes já fez a travessia. “Eu levo até lá e volto. Quando chega alguém do outro lado que quer vir para cá, dá um grito ou mesmo a gente vê que tem gente lá e vai buscar”, esclareceu.
A travessia de barco, segundo seo Avelino, fica mais fácil para o pessoal da comunidade se deslocar para a capital do que ter que ir até a rodovia Mário Andreaza e pegar ônibus. “Daqui eles vão pro outro lado e pegam ônibus em frente à fábrica da Antarctica, perto do bairro Sucuri. É bem mais perto”, contou.
O barqueiro relatou que a travessia com o barco a remo é feita em aproximadamente 30 minutos. “Se tivesse motor, ficaria bem melhor. O tempo cairia pela metade, mais ou menos 15 minutos. Mas por enquanto vamos remando”, concluiu.
Nome da localidade faz homenagem a lavrador
O lavrador Manoel Antônio da Conceição se instalou no local hoje conhecido como Passagem da Conceição em 1813, possibilitando a travessia de canoa pelo rio Cuiabá, na altura do ribeirão Pari e assim aumentava a sua renda.
Por causa do nome do lavrador, a prática da travessia resultou na expressão “pedir passagem ao Conceição” ou “ir pelo porto da passagem do Conceição”, que acabou por emprestar seu nome à localidade, adaptando-se para o feminino em virtude da posterior construção da igreja com a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
A ocupação da região deu-se pela obrigatoriedade de se passar pelo porto situado em Passagem da Conceição, pois ainda não havia acesso à BR-364. Os ‘senhores’ e seus escravos também povoaram a região, cuja população era predominantemente negra. Um deles, José Felicíssimo, comprou a sesmaria da Passagem e, com a colaboração do arcebispo dom Aquino Corrêa, fundou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em 1910.
Somente em 1953, cinco anos após a criação do município de Várzea Grande, Passagem da Conceição foi anexada como distrito da Cidade Industrial, o que não alterou muito a situação do marasmo e pobreza da população que ali residia.
Hoje o local é um belo cartão-postal, de “beleza nostálgica”, com restaurantes que servem o tradicional peixe em suas diversas formas, além da atração das praias formadas no rio Cuiabá durante a época da seca. (DD)
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