Empresa que comprou a Ferronorte demite funcionários em Mato Grosso
A notícia surpreendeu os trabalhadores, que fizeram protestos. Na sexta-feira, eles bloquearam com pessoal e equipamentos o trecho da ferrovia Novoeste, em Araçatuba, São Paulo, interrompendo o tráfego de trens entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Mais de 20 vagões carregados com 2,1 mil toneladas de açúcar não puderam seguir viagem para o porto de Santos. A ferrovia foi desinterditada somente depois da zero hora de sábado. Mas o tráfego foi interrompido novamente na noite de domingo, por dois acidentes, que segundo a ALL, foram causados por sabotagem, nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Em Promissão, São Paulo, duas locomotivas e dois vagões com 120 mil litros de óleo vegetal saíram dos trilhos, cujos dormentes, segundo a ALL, foram retirados do local de propósito para causar o descarrilamento. Em Alto Alegre (MS), uma locomotiva e um vagão com 60 mil litros de óleo diesel descarrilaram pelo mesmo motivo. O óleo não vazou dos vagões, segundo a assessoria da ALL.
O Sindicato dos Trabalhadores em Ferrovias em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que responde pela malha, negou a sabotagem e disse que os acidentes foram causados por falta de gente e manutenção. Segundo o sindicato, as demissões foram feitas sem critério, sem que os trabalhadores fossem avisados e em plena época de dissídio coletivo.
"Faltou até mesmo equipes de salvamento nesses acidente, porque foi quase todo mundo demitido", diz José Carlos da Silva, coordenador do sindicato. Segundo ele, as demissões atingiram na verdade 1.926 trabalhadores, 45% do quadro das empresas. Na malha da Novoeste, que cobre 1,6 mil quilômetros entre Bauru e Corumbá e mais o ramal entre Campo Grande e Ponta Porã, foram demitidos 430 dos 780 trabalhadores do trecho.
"Não tem como tocar o trabalho com este número de funcionários, por isso, há os acidentes e os trens são obrigados a transitar a 15km/h", disse. O sindicato, segundo ele, vai recorrer ao Ministério Público do Trabalho para denunciar irregularidades nas demissões e tentar com a ALL uma forma de ela rever as demissões.
De acordo com a ALL, as demissões foram "pulverizadas" e necessárias para acabar com a duplicidade de cargos ocorrida pela compra das empresas e como uma tentativa de reanimar a saúde financeira da Brasil Ferrovias, que atravessa situação falimentar. Além disso, segundo a ALL, as empresas estavam com o quadro de funcionários "inchado". Segundo a ALL, os debates do dissídio coletivo vão continuar e a empresa está cumprindo a legislação obrigatória com os demitidos. Já a redução da velocidade dos trens se deve às informações que a ALL recebeu de que haveria sabotagens com a retirada de dormentes dos trilhos.
A ALL explicou que a reestruturação das empresas inclui, além de mudança no quadro de pessoal, redesenho operacional e alterações no setor de mecânica e na via permanente, além da implantação de uma gestão voltada para resultados e redução de custos.
"A decisão leva em conta a necessidade de implantar um modelo para recuperação da empresa que estabeleça condições reais de crescimento, buscando assegurar o emprego daqueles que nela permanecem e viabilizar investimentos", diz o atual presidente da Brasil Ferrovias, Pedro Roberto Almeida em texto distribuído pela assessoria da ALL.
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