Um mês após ataques do PCC, número de mortes é incerto
Os números oficiais revelam que morreram 42 policiais e agentes de segurança durante a semana de ataques e rebeliões --que atingiram 82 unidades prisionais. Mas não há consenso entre as autoridades sobre a identidade e o número de suspeitos mortos por policiais durante o período.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo diz que são 123 mortos. O Ministério Público Estadual identificou três mortes a mais do que a polícia.
Peritos analisam 492 laudos necroscópicos de todas as pessoas mortas por arma de fogo no Estado no período, e o número de mortos na reação aos ataques pode crescer.
Contagem
Entidades de direitos humanos se reúnem nesta segunda-feira para fazer o balanço de um mês após os ataques do crime organizado e a reação da polícia e de grupos de extermínio.
"Um mês após os ataques e as mortes, sequer sabemos exatamente quantos morreram no período", disse o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos.
As entidades responsabilizam o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, pela não-divulgação da lista completa dos mortos e de sonegação de informações com relação às apurações dos casos.
A secretaria afirma que houve transparência na divulgação de informações. Mesmo assim, na reunião das ONGs que defendem os direitos humanos marcada para hoje também será discutido o possível início de uma campanha para pedir a exoneração do secretário.
O governo de São Paulo diz que só vai se manifestar sobre o assunto se receber o pedido oficialmente.
"Desmantelado"
Em 2002, o governo chegou a qualificar o PCC como "uma organização falida e desmantelada". Mas a facção continua dando demonstrações de força e organização dentro dos presídios.
"A enorme adesão de outros criminosos, após os primeiros ataques, surpreendeu até mesmo a liderança do PCC, que não imaginava ser tão forte", disse o coronel da reserva José Vicente da Silva, ex-titular da Secretaria Nacional da Segurança Pública. "Agora que descobriram esse poder, vão usá-lo para desafiar o Estado e fazer exigências. Estamos vivendo sobre um barril de pólvora."
Enquanto o PCC se fortalece, fica claro que a onda de violência deflagrada em São Paulo estremeceu as bases do governo do Estado.
Depois dos ataques, o governador Cláudio Lembo (PFL) ainda teve de aceitar o pedido de demissão do ex-secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Ele entrou em confronto com o secretário Saulo de Castro Abreu Filho depois de confirmar que houve algum tipo de negociação entre o Estado e o PCC. A Secretaria da Segurança nega.
Lembo nega também que Furukawa tenha deixado o governo por uma rixa com o secretário da Segurança. "Os dois secretários tinham suas visões do mundo. Um quis sair, saiu", disse o governador.
"Rebelião Branca"
Na última semana, detentos ligados à facção iniciaram uma espécie de "rebelião branca", na qual os presos se recusaram a sair das unidades para se apresentar em audiências nos fóruns.
De acordo com um levantamento do TJ (Tribunal de Justiça), entre segunda e quinta-feira, 476 das 1.041 requisições para transporte de presos não foram cumpridas.
Para especialistas em segurança, os 373 ataques do PCC, que começaram após a transferência de 765 presos para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, marcam uma nova era da criminalidade brasileira.
José Afonso da Silva, ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo, diz não acreditar que ocorram novos ataques neste ano. "Se houve mesmo negociação do Estado com os criminosos, o PCC só voltará à carga quando o novo governo estiver composto, em 2007. Mas daqui para a frente eles vão sempre experimentar a reação oficial para tentar negociar."
Marcola
Na última quinta-feira (8), a CPI do Tráfico de Armas ouviu o depoimento do chefe máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Em suas declarações, Marcola não citou o nome da facção criminosa PCC, organização à qual ele nega pertencer. Mas relatou, a pedido dos parlamentares, a existência de "alguns grupos" que controlam o sistema penitenciário do Estado.
O relator da CPI do Tráfico de Armas, deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), disse que o depoimento do chefe máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, ajudou a confirmar que a principal rota para entrada de armas no Brasil é pela fronteira com o Paraguai.
Para os especialistas, a melhor forma de combater o crime organizado é investir em inteligência policial. "Temos de nos antecipar às possíveis ações. Senão ficaremos sempre adotando medidas reativas aos ataques e de curto prazo", diz José Vicente.
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