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Economia
Sexta - 09 de Junho de 2006 às 18:38

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Após receber uma nova proposta de compra da Varig, a Justiça deve adiar a decisão sobre a venda da empresa para o TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) por R$ 1,01 bilhão. Prevista inicialmente para sair hoje, a aprovação ou rejeição da oferta deve ser divulgada na segunda-feira, segundo a assessoria de imprensa que trabalha para o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, responsável pelo caso.

A rejeição da proposta pode levar à falência da empresa, segundo o próprio Ayoub. Desde o início da tarde de ontem, quando foi divulgado que apenas o TGV havia apresentado proposta para a compra da companhia aérea em leilão realizado no Rio de Janeiro, o magistrado já conversou com representantes do TGV, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), consultoria Alvarez & Marsal (responsável pela reestruturação da empresa aérea), Ministério Público e credores.

O juiz, entretanto, quer ter mais tempo para analisar os detalhes da proposta e precisa, entre outras coisas, conversar com o juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York, que cuida do caso Varig em processos que envolvem credores internacionais.

Além disso, uma nova proposta de compra da Varig chegou hoje às mãos do juiz Ayoub. O fundo Multilong Corporation, de um investidor chamado Michael Breslow, teria oferecido US$ 800 milhões para a compra das operações domésticas e internacionais da empresa, mas o pagamento seria financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo o Justiça, essa proposta também poderia ser combinada com a do TGV.

A nova proposta prevê, entre outras coisas, o pagamento por meio da emissão de debêntures e solicita ordem judicial para que o BNDES dê o aporte total do financiamento.

Boa para comprador

Ainda por meio de sua assessoria de imprensa, Ayoub afirmou hoje que a proposta do TGV é "muito boa" para o próprio grupo de trabalhadores.

Já credores --entre eles, o governo-- e o mercado viram com maior ceticismo a proposta, que alcançou pouco mais da metade do preço mínimo de US$ 860 milhões fixado pela Varig para a venda.

Do total de R$ 1,010 bilhão oferecido pela Varig, somente R$ 285 milhões seriam pagos em dinheiro. O TGV planeja utilizar R$ 225 milhões em créditos que possui como credora da Varig para o pagamento --essa possibilidade está prevista no edital de venda da empresa.

Os outros R$ 500 milhões viriam de debêntures e lucros futuros da Varig, e, por esse motivo, o dinheiro demoraria a chegar aos credores, a quem caberão os recursos da venda.

O grupo também não revelou a origem dos R$ 285 milhões que seriam pagos em dinheiro. A Amvvar (Associação dos Mecânicos de Vôo da Varig, que faz parte do TGV) afirmou que três investidores estrangeiros fazem parte da proposta do grupo de trabalhadores, mas não revelou quem seriam essas pessoas.

Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal, pediu hoje que a proposta seja vista "sem preconceitos". Ele afirmou também que o juiz já informou quem seriam esses investidores e que o TGV tem os US$ 75 milhões necessários para fazer uma injeção de recursos na Varig em até três dias úteis após a decisão da Justiça, conforme previsto no edital.

O próprio juiz Ayoub afirmou ontem, entretanto, que não vai fazer outro leilão e que o caminho da empresa deverá ser a falência caso a proposta do TGV seja declarada inviável.

Garantias

Para que a Justiça confirme a validade do leilão, o TGV precisa comprovar que tem condições de pagar pela compra da Varig e também fazer o aporte necessário para dar continuidade aos vôos da empresa.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) rejeitou no mês passado conceder um empréstimo-ponte para que a Varig pudesse continuar a voar enquanto o leilão não era realizado.

Além da desconfiança sobre o fôlego financeiro do TGV, o valor oferecido será insuficiente para pagar os credores da empresa, que tem dívidas estimadas em R$ 7,9 bilhões.

O presidente da Infraero (empresa que administra os aeroportos brasileiros, credora da Varig), brigadeiro José Carlos Pereira, afirmou que resta à empresa onde trabalha 'rezar' para receber o dinheiro devido pela Varig.

Ele atribuiu a ausência de mais interessados pela Varig a uma estratégia de empresas como TAM e Gol, que preferiram apostar na quebra da Varig para ganhar mercado.

Fontes da Varig divulgaram que outras quatro empresas teriam interesse na compra. TAM, Gol, OceanAir e Céu Azul (do escritório de advocacia Ulhôa Canto, Rezende e Guerra, que representa um fundo de investimento) chegaram a se credenciar para apresentar propostas, mas não fizeram lances oficiais no leilão.

O desinteresse dessas empresas reflete dúvidas se o comprador da Varig teria mesmo garantias de que não herdará dívidas antigas da empresas aérea, principalmente trabalhistas e previdenciárias.

A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional chegou a emitir um parecer favorável à não-sucessão das dívidas, condicionado, entretanto, a que o preço mínimo fosse suficiente para pagar todos os credores.





Fonte: Folha Online

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