Ferrugem e seca são os desafios para a soja
Essas afirmações, bastante ilógicas atualmente, podem vir a se confirmar no futuro. Isso se as previsões pessimistas de aquecimento de 5,8 C na temperatura nos próximos cem anos vier a se confirmar. As mais otimistas indicam elevação de apenas 1º C.
Eduardo Delgado Assad, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, disse, durante o 4º Congresso Brasileiro de Soja, que terminou ontem em Londrina (PR), que uma mudança climática tão drástica promoveria forte mudança na geografia da produção agrícola.
O café, em busca de locais mais frios, desceria para o Sul do Brasil e da Argentina, e o milho e a soja se deslocariam para regiões acima das atuais.
Uma mudança climática tão drástica beneficiaria as agriculturas européia e norte-americana, regiões que, com o aquecimento mundial, ficariam aptas a novos produtos e a alterações no calendário anual de plantio. O inverno norte-americano, período de baixa temperatura e não-apropriado para o plantio hoje, poderia entrar no calendário das safras.
O Brasil seria um dos grandes prejudicados, e a máxima de que "Deus é brasileiro" cairia por terra. Muitas áreas ficariam impróprias para o cultivo e a soja, líder entre os grãos, seria um dos produtos mais afetados. A produção brasileira cairia do potencial atual superior a 60 milhões de toneladas para 22 milhões de toneladas.
Apesar do cenário dramático, o próprio Assad avisa que "há soluções". Uma das vantagens é que se está descobrindo isso cem anos antes de acontecer. Para não chegar a esse ponto, o pesquisador da Embrapa diz que o país precisa de melhoramento genético e usar plantas mais adaptadas a essas novas condições climáticas. Outro ponto básico é a preservação da biodiversidade brasileira.
Perdas elevadas
Diante desse cenário de aquecimento e de secas mais intensas, Alexandre Lima Nepomuceno, da Embrapa Soja, diz que a seca e a ferrugem passam a ser os grandes desafios para a sojicultura brasileira.
Nas últimas três safras, só com os efeitos da seca os agricultores tiveram perdas diretas de US$ 4,5 bilhões. A ferrugem trouxe prejuízos de US$ 7,8 bilhões desde que chegou ao país, em 2001, nas contas de José Tadashi, da Embrapa Soja. Em volume, a perda foi de 15 milhões de toneladas no período.
Na avaliação de Nepomuceno, o Brasil já começa a se preparar para esses eventos adversos. A Embrapa Soja e a japonesa Jircas (uma empresa de pesquisas que é uma espécie de Embrapa japonesa) anunciaram um convênio para o desenvolvimento de uma soja transgênica resistente à seca.
A soja recebeu um gene, extraído de uma planta chamada "Arabidopsis" --a primeira planta a ter o seu genoma seqüenciado. Esse gene, adicionado à soja, aciona os genes de defesa das estruturas celulares da planta, retardando a reação à seca em 20 a 30 dias.
Ao contrário de outras sementes transgênicas, que têm a adição de genes de bactérias, o projeto da Embrapa e da Jircas adiciona o gene de outra planta.
Segundo Nepomuceno, coordenador do projeto, essa será a primeira soja transgênica resistente à seca a ir ao mercado. O projeto deve passar, ainda, pela fase de pesquisas em campo.
O cientista da Embrapa está descrente, no entanto, com o ritmo de aprovação de processos na CTNBio, onde as discussões estão tomando mais um rumo "ideológico e politizado" do que técnico. Há 538 projetos na fila de espera para serem analisados, o que preocupa os cientistas. Nepomuceno diz que outra preocupação é com a presença de um membro do Ministério Público na comissão. "Ela inibe os cientistas."
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