Treino do Brasil vira uma grande festa
Pelas regras da Fifa, todas as seleções são obrigadas a promover pelo menos um treino aberto ao público e sem cobrar entradas durante a estadia na Alemanha. Mas ontem, um ingresso para ver a seleção chegava a valer 50 euros e pelos menos cinco pessoas foram presas.
O estádio, com capacidade para 25 mil pessoas, estava lotado para ver a seleção e o clima nas ruas próximas ao local era de dia de clássico. Um dia antes, os organizadores distribuíram ingressos gratuitamente.
Filas de até duas horas foram formadas e cada pessoa poderia pegar até quatro entradas. Mas eram os próprios jogadores do time juvenil do Kickars Offenbach, clube da segunda divisão alemã e dono do estádio, quem lideravam o comércio.
Cada atleta ganhou dez ingressos para distribuir para amigos e familiares. "Eu vendi todos os que recebi por 35 euros", disse um dos jogadores, que preferiu não se identificar.
Cambistas
A Agência Estado acompanhou a ação da polícia, que apenas tomou atitudes contra vendedores de ingressos falsos. "Não podemos fazer nada se as pessoas estão dispostas a pagar por ingressos que eram grátis", afirmou um policial.
Mas não eram apenas os jogadores que estavam vendendo as entradas. Nos portões do estádio, alemães, imigrantes turcos e de outras nacionalidades nem sequer se escondiam da polícia para negociar os preços das entradas. Iacha, um imigrante turco, diz que vendeu mais de cinco ingressos a mais a 50 euros cada. "Posso arrumar quantos você quiser", disse o cambista à reportagem da Agência Estado.
Ao saber da ação dos cambistas, inclusive de seus próprios jogadores, o vice-presidente do clube, Thomas Karlt, tomou uma decisão drástica: distribuir os ingressos que ainda tinha guardado para acabar com a ação dos cambistas. Um tumulto se formou e as pessoas tentavam agarrar os ingressos como se fossem famintos em disputa por um pedaço de pão.
Com tantas pessoas envolvidas na venda de ingressos, quem não estava nada satisfeito com a concorrência desleal era o grupo de cambistas brasileiros, que há anos atuam nos estádios da Copa do Mundo. "A CBF precisa tomar uma atitude contra isso. É um absurdo o que está ocorrendo", afirmou um cambista brasileiro.
Animação
Dentro, os alto-falantes tentavam animar a torcida com samba, forró e outros estilos de música brasileira. Nem os alemães resistiram e vestiam a camisa do time que os bateu na final da Copa de 2002. "Todos querem, no fundo, torcer para o Brasil", lamentou Martin, estudante alemão de 17 anos e que vestia a camisa da seleção.
"Torço pelo Brasil porque sei que no país o futebol é muito importante. Na Alemanha, se o time nacional ganhar, será apenas mais um acontecimento", disse Roman Koller, de 24 anos, e que protestava em frente ao estádio contra as taxas cobradas pelas universidades públicas alemãs. Em campo, titulares e reservas empataram em 2 a 2.
Na raça
Um imigrante turco de 14 anos roubou a cena ontem no estádio de Offenbach, onde a seleção treinava. Gelal Gebraz, que chegou à Alemanha com os pais quando tinha apenas três anos de idade, invadiu o campo e correu na direção de Ronaldinho Gaúcho. A polícia tentou apanhá-lo, mas o garoto se escondia atrás do jogador brasileiro, que acabou servindo de escudo para o turco.
"Eu queria apenas uma camisa do Ronaldinho", disse Gelal, após ser expulso do estádio pela polícia. O jogador, ao perceber que os seguranças agarrariam o garoto, pediu calma e deu um autógrafo na camisa de Gelal.
Os 25 mil torcedores ovacionaram o jogador e o garoto acabou saindo aplaudido do gramado. Na porta do estádio, Gelal, que vive na cidade de Dillenbrug, disse que comprou o ingresso de cambistas. "Vim ver Ronaldinho, que é um jogador perfeito", disse.
Comentários