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Economia
Domingo - 04 de Junho de 2006 às 08:24
Por: Rodrigo Vargas

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Na vida do agricultor gaúcho Vilmar Vilani, de 55 anos, nunca faltaram encruzilhadas. Desde que veio buscar futuro nas terras de Mato Grosso, há 27 anos, seu destino sempre esteve marcado por começos, recomeços e arriscadas mudanças de rumo.

Foi assim em 1994 quando, já estabelecido na região de Rondonópolis (210 quilômetros ao Sul de Cuiabá), ele decidiu tentar a sorte ainda mais longe de casa. Era o momento da implantação do Plano Real - justifica ele - e o país vivia um momento de grande incerteza.

“Todo o setor da agricultura estava em crise. Você plantava em um plano econômico e colhia em outro. Não agüentava mais aquilo. Foi quando ouvi falar da fertilidade das terras do outro lado da fronteira”, relembra.

A região leste da Bolívia tinha de fato imensas porções de terras férteis, baratas e pouco exploradas pela agricultura. Desafortunadamente, Vilani acabou por investir todas as economias em uma área seca e improdutiva que, ao longo dos sete anos seguintes, só lhe trouxe prejuízos.

De volta à estaca zero, decidiu não retornar ao Brasil. Com o pouco que restara de seu primeiro investimento, arrendou terras na região de Santa Cruz de la Sierra, a capital do Departamento – o equivalente, no Brasil, a Estado – de Santa Cruz.

Foi a primeira vez que ele sentiu ter encontrado a estabilidade. “Aqui, ao contrário do Brasil, você compra e vende em dólar. Não tem o problema do câmbio. Além disso, a terra garante duas safras por ano e exige pouco preparo. Fertilizante, por exemplo, só começamos a usar há uns três anos”, conta.

Atualmente, Vilani cultiva 1,16 mil hectares (ha) com soja e trigo e comercializa suas safras por meio de uma associação que reúne 13 produtores da região – dez brasileiros e três bolivianos. Vive com a família em uma casa confortável e se diz perfeitamente adaptado. “Nem penso em voltar”, afirma.

Nos últimos meses, porém, a possibilidade de um novo recomeço vem lhe tirando o sono. O agricultor – juntamente com todo o setor produtivo de Santa Cruz (ver matéria) - aguarda com apreensão o anúncio das bases da ampla reforma agrária prometida pelo presidente Evo Morales. “Estamos com muito medo de que venham medidas drásticas”, exclama Vilani.

Cercando-se de cautela a cada palavra, ele relatou alguns dos muitos boatos que se espalham pela região. Da expulsão em massa de estrangeiros ao confisco e redistribuição das áreas não plenamente regularizadas – que somam mais de 80% das propriedades rurais bolivianas -, todas as possibilidades são consideradas.

“A gente não pode nem comentar, porque se trata de uma questão política dos bolivianos. Mas o fato é que há muita conversa sobre esta nacionalização das terras produtivas, principalmente aquelas que pertencem a estrangeiros”, aponta.

Além das terras que estão nas mãos de brasileiros, os rumores também apontam como alvo da “nacionalização” as propriedades de grupos japoneses, canadenses, russos e de alemães menonitas. “Gente que tem uma vida inteira dedicada a produzir nesta região e que agora está com medo de perder tudo”.

A possibilidade mais concreta, até o momento, é mesmo a retirada dos estrangeiros de ocupam terras dentro da faixa de 50 quilômetros a partir das fronteiras do país – medida já anunciada pelo governo boliviano, com base na constituição.

Neste processo, a esperança dos produtores brasileiros é que a boa relação diplomática entre os dois países prevaleça, crê o produtor brasileiro. “Brasil e Bolívia são países vizinhos e amigos. Esperamos que isso seja levado em conta e que os governos percebam que todos aqui, bolivianos ou não, estão trabalhando de forma integrada”. (Veja mais nas páginas C2 e C3)





Fonte: Diarío de Cuiabá

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