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Internacional
Sábado - 03 de Junho de 2006 às 20:00

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Por trás das declarações em que culpa a elite branca pela escalada da violência em São Paulo, o governador Cláudio Lembo (PFL) mostra um desejo de endurecer no combate ao crime organizado no Estado.

O primeiro indício vem de sua afirmação, ainda que em tom de galhofa, de que gostaria de ter em São Paulo Arnold Schwarzenegger, ator do filme "Exterminador do Futuro" e governador da Califórnia.

"Era bom tê-lo aqui", disse Lembo, de 71 anos, à Reuters, após menção ao nome do seu colega norte-americano.

Lembo também justificou a troca de comando dos presídios paulistas, ocorrida após os ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em maio, como uma necessidade de imprimir maior rigor aos presos.

"Vai haver mais disciplina. Presídio não pode ser administrado com ausência de disciplina, aí é perigoso para os próprios prisioneiros e para a sociedade", afirmou na entrevista concedida no Palácio dos Bandeirantes.

Na semana passada, o procurador de Justiça Antônio Ferreira Pinto assumiu a Secretaria da Administração Penitenciária, após a saída de Nagashi Furukawa, que pregava a humanização dos presídios e ocupou a pasta por sete anos.

O governador, que assumiu o cargo em 31 de março após Geraldo Alckmin (PSDB) renunciar para concorrer à Presidência, reafirmou, no entanto, que os direitos humanos serão respeitados, mas despojado de uma "visão romântica".

Ao mesmo tempo, Lembo confirmou a necessidade de manter Saulo de Abreu Castro Filho à frente da Secretaria de Segurança. Saulo recebeu acusações de defensores de direitos humanos de que policiais tenham cometido excessos nos episódios de combate ao crime organizado.

"O Saulo é o homem da segurança e os homens da segurança nunca são pessoas simpáticas. Tem que ser duro", afirmou o governador, argumentando que, antes dos ataques do PCC, houve queda na criminalidade e nos homicídios no Estado.

Mas não negou possíveis excessos. "Eventualmente houve." E disse que a última palavra caberá ao Ministério Público.

A onda de violência em São Paulo provocou 187 mortes de 12 a 19 de maio, de acordo com a Secretaria de Segurança, entre confrontos com a polícia (123) e agentes públicos.

Advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP), católico e ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o governador deu outra demonstração de dureza com o crime organizado ao elogiar o combate à Máfia nos Estados Unidos e na Itália.

"Nos anos 30, não falavam em direitos humanos nos EUA e liquidaram todos os membros da Máfia."

Na Itália, elogiou que os mafiosos capturados tenham sido recolhidos ao regime diferenciado disciplinar, como cumpre Marcos Camacho, o Marcola, líder do PCC. Ele foi transferido para o presídio de Presidente Bernardes, considerado de segurança máxima, em meio à violência da facção. JEITINHO



Os ataques, de acordo com o governo, foram uma reação à transferência de cerca de 700 presos que integram o PCC para unidades mais rígidas.

O fim das ações foi obtido após o governo do Estado ter levado em avião uma advogada da facção para conversa com Marcola, acompanhada de autoridades do Estado. Ela foi conferir se ele tinha sido torturado em sua passagem no Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), dias antes.

Lembo defendeu a operação. "Para dar resposta aos direitos humanos demonstramos que ele não tinha sofrido violação de seus direitos". Questionado se essa não teria sido uma saída típica do "jeitinho brasileiro", Lembo concordou. "O valor da conciliação talvez seja um valor nacional." IRONIA

Presidente da Arena, partido aliado à ditadura militar, Lembo mudou para o PP de Tancredo Neves e depois para o PFL. Do atual partido, cita elogiosamente apenas o ex-vice-presidente Marco Maciel e vem reagindo a ataques do senador Antonio Carlos Magalhães (BA) —"um ícone da grosseria nacional".

Amante de Maquiavel e de Cervantes, Lembo tem usado a ironia em suas declarações, como quando justificou a ausência de mais telefonemas por parte de Alckmin na crise de segurança em função do alto preço das ligações.

"A ironia não é boa na política porque ela pode trocar sinais de comunicação, porém, em situações de ponta, só a ironia salva, porque ela mostra o total surrealismo de certas situações."

Apesar das críticas a Alckmin, diz que vai apoiá-lo e que ele tem condições de endurecer com Lula. "O Geraldo é duro quando briga, mas é educado. É o genro que toda a sogra queria ter."

O governador negou maior identidade com Lula após a solidariedade prestada pelo presidente durante a onda de violência. "Pode até ter diminuído se ele quis usar politicamente o episódio".

Lembo, que concorreu a senador em 1978 e a vice-presidente em 1989, garante que não disputará o governo em SP. "Sou lúdico, eu só quero o jogo político, não estou interessado no poder, o poder para mim é algo transitório. Conquistei eventualmente, e daí? É isso que as pessoas não perceberam."





Fonte: Terra

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