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Economia
Sábado - 03 de Junho de 2006 às 13:28

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De queridinho dos investidores nos últimos anos, o Brasil se destacou nas últimas semanas entre as economias emergentes que mais sofreram diante da sinalização de aperto mais forte dos juros nos Estados Unidos.

O prejuízo gerado a investidores, com queda na Bolsa de Valores e dificuldade para vender títulos do governo, deve servir, na avaliação de especialistas, como sinal de alerta para o governo de que, apesar do recorde das exportações, do aumento das reservas e de todos os avanços obtidos na área externa, o Brasil ainda perde na comparação dos indicadores externos entre os países em desenvolvimento que disputam o capital internacional.

De acordo com levantamento feito pelo economista Caio Megale, da Mauá Investimentos, com base na evolução verificada em 17 economias tidas como emergentes, o Brasil ainda está entre as que obtêm as notas mais baixas.

Isso explica, em parte, por que o país ainda está ao lado do Peru, da Romênia, do Panamá e da Bulgária, no grupo dos cinco que não atingiram o tão sonhado "nível de investimentos".

Esse é o nome dado à classificação das agências internacionais de risco que serve de cartão de entrada para o seleto clube das economias consideradas de alto retorno para os investidores e baixo risco.

Em 2004, as reservas internacionais --uma espécie de poupança do governo para garantir os compromissos externos em momentos de crise-- eram suficientes para cobrir os juros da dívida externa brasileira durante três anos.

Neste ano, deverá ser suficiente para um período de 5,1 anos. Apesar do crescimento, esse valor ainda está longe do verificado em países como Chile (12,2 anos), Índia (13,3 anos), México (6,9 anos) e África do Sul (9,7 anos). Isso sem falar de China (44,2 anos), Coréia (18 anos) e Malásia (35,5 anos). O desempenho brasileiro só ganha do Panamá (2,2 anos).

"Apesar da redução do endividamento externo, a carga de juros do Brasil ainda é alta", diz Megale, explicando que há uma grande participação da dívida emitida num período em que o país pagava taxas mais elevadas no mercado externo. Outros também melhoram

Outro indicador que é utilizado para avaliar a situação de uma economia mede o tempo que o país precisaria acumular receitas obtidas na conta corrente --em que são registrados o dinheiro recebido com as exportações, juros de aplicações do país lá fora, dividendos e transferências unilaterais-- para garantir o pagamento da dívida externa líquida (já abatidas as reservas internacionais).

Em 2004, o Brasil precisava de 1,45 ano. Hoje, com apenas 0,5 ano dessas receitas, o Brasil pagaria essa dívida. Mas, novamente, esse avanço ainda deixa o país com o Peru e, mais uma vez, à frente apenas do Panamá.

"Não é porque o Brasil teve melhoras significativas que está melhor do que outros. Avançamos rapidamente desde 2004, num momento de grande liquidez no mundo. Mas todos esses avanços que alardeamos não deixaram o país em destaque porque os outros também melhoraram", argumenta o economista.

A combinação de melhorias na área externa com juros internos elevados atraiu muito capital para o Brasil.

O desempenho das exportações, com diversificação da pauta de produtos e abertura de novos mercados, contribuiu para a evolução dos dados brasileiros. Valorizar o câmbio

Também ajudaram a recomposição das reservas, o pagamento antecipado de dívidas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o resgate dos títulos da dívida externa renegociada depois do calote dos anos 80.

No entanto, em momentos de crise internacional, outros fatores começam a pesar, e os indicadores externos são os primeiros a serem analisados com lupa. Além disso, a situação fiscal ganha um peso ainda maior.

Para Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, não há dúvida de que o Brasil não pode descuidar da área externa e precisa avançar mais.

"Há duas formas de melhorar. Uma é o Brasil continuar aumentando as exportações e, para isso, o câmbio tem de estar mais desvalorizado. Mais ou menos como está aí, com o dólar a R$ 2,30 ou R$ 2,40, no médio prazo."

A segunda forma, segundo Werlang, é a necessidade de o país avançar em acordos internacionais de integração.

"A importação brasileira sobre o PIB [Produto Interno Bruto] é muito pequena. É uma das menores entre os emergentes. Há muito a ser feito ainda."





Fonte: 24Horas News

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