Estranhas ligações
“Eles iam de avião particular, para a imprensa não perceber. Os capangas de Arcanjo os buscavam no aeroporto. Na cozinha, comentavam com a gente que os bacanas tinham chegado no avião particular. Como eu ia servir bebida e petisco no escritório durante as reuniões, sempre via essas pessoas e as malas de dinheiro. Quando eu entrava, eles paravam de falar. Mas ele (Arcanjo) fazia lavagem de dinheiro, tanto de fora para dentro do Estado, como de dentro para fora. Todo mundo sabe disso em Cuiabá”, detalhou Zildete.
Para o senador presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais (PFL-PB), o depoimento da cozinheira foi importante para o fechamento do relatório e para algumas conclusões. Mas quanto às informações sobre políticos ligados ao governo, ele disse que precisam ser investigadas antes de qualquer conclusão. “É a palavra dela contra a dos outros. Isso será avaliado e investigado”, comentou.
Segundo a cozinheira, o ex-ministro Palocci era a pessoa do staff federal que mais intimidade com Arcanjo tinha. Questionada sobre quantas vezes o teria visto na residência do “Comendador”, Zildete afirmou que pelo menos três, uma delas carregando uma maleta com dólares. “O Palocci era um amigo, como ele (Arcanjo) mesmo dizia: ‘serve aqui o meu irmão muito bem’. Era aquela amizade. Eu o vi três vezes, uma com mala e duas sem, mas levou dinheiro”, acrescentou. Quanto a Okamoto, Zildete disse se lembrar com tranqüilidade, porque era muito comunicativo e comentava sobre a comida. Sobre Zé Dirceu, a cozinheira afirmou se lembrar de ser arrogante. Os dois também teriam saído da casa de Arcanjo com malas de dinheiro no período pré-eleitoral. “A gente percebia, por conta das conversas, que o assunto era dinheiro para campanha”, contou, informando que eles também iam pescar com Arcanjo em sua fazenda e que ela preparava a comida que seguiria com eles.
Outra revelação feita por Zildete à Comissão foi a sociedade que Arcanjo teria com o empresário Sérgio Gomes da Silva, “O Sombra”, acusado de ser o mandante do crime de Santo André (SP), na atividade de transportes coletivos em Cuiabá. Conforme a cozinheira, Sérgio Gomes freqüentou a casa do “Comendador” em ocasiões distintas aos políticos petistas, uma vez para fechar negócio com a empresa de transportes, e a outra, para pedir que Arcanjo indicasse um pistoleiro que executasse o prefeito Celso Daniel.
“Ele queria um pistoleiro de outro estado, que não fosse conhecido. Quando me aproximei, a porta estava entreaberta. Parei para ouvir a conversa, por curiosidade, como todo empregado tem de ouvir o que patrão tá falando, e ele pedia um pistoleiro. O Arcanjo ainda perguntou, porque queriam calar a boca do prefeito e ele disse que porque sabia de muita coisa na prefeitura”, declarou Zildete.
A cozinheira também contou que Arcanjo fazia negócios com o traficante Fernandinho Beira Mar, para a venda de armas. “Ele ganhou muito dinheiro com armas para a guerrilha do Fernandinho Beira Mar”, comentou, depois de identificar a imagem do traficante em uma foto.
Mas para Efraim Morais, o principal ponto do depoimento de Zildete foi quanto o envolvimento de Sérgio Gomes com o assassinato de Santo André. “Ela reforçou a ligação do “Sombra” com o crime, aquilo que a CPI já afirmava, a tese do relator de pedir o indiciamento do Sérgio Gomes”, avaliou.
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