Índios protestam contra barragem
“Antes, esse rio era cheio. Hoje, a água bate no peito para atravessarmos. Dentro de pouco tempo, ele vai virar caminho para passarmos a pé. Esse é o principal rio do Xingu, que abastece todo o parque. A gente depende dele diretamente. Essa construção afetará nosso principal meio de sobrevivência, o pescado, prejudicando a todos os povos indígenas do Xingu”, reclamou um dos líderes jovens do movimento, Marcelo Kanawayueri.
Outra alegação dos povos indígenas para que a construção seja demolida, apesar de não estar localizada dentro do parque (está a 100 quilômetros da primeira aldeia do Xingu) é o fato da região ser o berço da tradição do Kuarup. “O Kuarup nasceu naquele lugar, temos uma ligação espiritual com aquele local. Por isso, resolvemos realizar o ritual ali, em cima da barragem, onde ele nasceu”, explicou outro representante dos índios, Kumaré Txão.
Os guerreiros que participarão da festa devem chegar à área da barragem hoje e realizarão a cerimônia durante todo o dia de amanhã. Mas eles pretendem ficar sobre a construção da usina por pelo menos seis dias, até que um representante da empresa construtora apareça para dialogar com as etnias. “Para isso que servirá o manifesto. Queremos chamar o dono da obra para conversar e mostrar a ele o quanto o rio e a região são importantes para todos os povos. Queremos que a obra seja demolida para garantir nossa vida”, reivindicou Txão.
Conforme o procurador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Mato Grosso, Cézar Augusto Nascimento, a questão da hidrelétrica Paranatinga II é discutida entre lideranças indígenas do Xingu, autoridades e entidades representativas dos povos desde 2004. De acordo com ele, a obra foi autorizada pela antiga Fundação Estadual do Meio Ambiente, o que garantiu sua construção, até que a Funai interviesse.
“A obra foi paralisada por uma decisão liminar da Justiça Federal de Mato Grosso para permitir que a Funai se aprofundasse no projeto e sua autorização passasse ser da alçada do Ibama, já que se trata de um parque nacional. Mas o TRF em Brasília concedeu causa ao recurso apresentado pela construtora e a obra andou e em tempo recorde. Mas o juiz daqui já julgou o mérito e declarou a derrubada, em virtude do forte impacto ambiental e da questão do mito de origem com o Kuarup, mas ainda não foi cumprida”, informou o procurador, dizendo que o estudo etnológico sobre a área será apresentado à Funai em junho.
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