Influência de Chávez divide bolivianos
Durante quarta visita de Chávez ao país em apenas cinco meses, será assinada uma série de acordos bilaterais que incluem a liberação de recursos venezuelanos para o lançamento da campanha para as eleições da Assembléia Constituinte, em 2 de julho.
A colaboração venezuelana na política boliviana já vem sendo notada com o trabalho de venezuelanos no cadastramento de eleitores que vivem no campo e não têm documento para votar no próximo pleito.
Segundo o Palácio Queimado, sede do governo da Bolívia, também está previsto o anúncio da chegada de dois bancos venezuelanos ao país, o aumento presença da petroleira PDVSA na Bolívia e o envio de técnicos da equipe de Chávez que vão auxiliar na reforma agrária boliviana. Polêmica
A relação entre os dois países já virou assunto na mídia. Na semana passada, a emissora de televisão Bolivisión perguntou nas ruas de Laz Paz: "O que você acha da presença e da ajuda do presidente venezuelano?".
As respostas foram variadas, mas houve quem questionasse o grau de aproximação entre os dois.
"Mas até o avião presidencial tinha que ser emprestado pelo presidente venezuelano? Não precisamos disso", respondeu um senhor.
A opinião reflete a visão de um importante segmento da sociedade boliviana.
Em entrevista à BBC Brasil por telefone, o vice-presidente do Comitê Pró-Santa Cruz de la Sierra, Jayme Santa Cruz, disse não concordar com essa influência crescente da Venezuela nos assuntos bolivianos.
"Isso é humilhação. Para que essa ajuda? Essa aproximação de Chávez e Morales vai acabar prejudicando nossa economia", disse.
O Comitê Pró-Santa Cruz é opositor das principais medidas de Morales, como a nacionalização dos hidrocarbonetos – que teve apoio de Chávez – e o projeto de recuperação de terras sem títulos, previsto na reforma agrária e cujos detalhes ainda estão sendo discutidos.
Ouvidos pela BBCBrasil, outros representantes da sociedade boliviana disseram temer que Morales se torne uma "sombra" de Chávez.
"É notória a intromissão de Hugo Chávez na gestão do país", criticou o presidente da Associação Boliviana de Ciência Política, Marcelo Varnoux.
"A impressão que muitos têm aqui na Bolívia é que saímos da subordinação dos Estados Unidos e, agora, estamos nos submetendo à Venezuela", acrescentou.
"Essa ingerência de Chávez é preocupante. A Bolívia não é um país acostumado à subordinação", disse Varnoux.
Para ele, quando a "esmola é demais o santo desconfia", e Morales já devia estar desconfiado dos créditos que Hugo Chávez vem prometendo ao país.
Entre eles, US$ 30 milhões para a construção de uma refinaria e a importação de diesel, com desconto, do território venezuelano.
Ao mesmo tempo, na Petrobras, segundo fontes do governo brasileiro, desconfia-se que técnicos venezuelanos também estejam auxiliando a Bolívia na nacionalização dos hidrocarbonetos.
"Eles estão em todos os lados e presentes nas decisões do governo", disse um interlocutor da empresa brasileira. "Afinidade"
O diretor de ciências políticas da Universidade Maior de San Andrés, Johnny Villarroel, discorda.
Para ele, ao se aproximar do governo venezuelano e se afastar de idéias como o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, a Bolívia se torna "mais independente" e com mais "chances de resolver seus problemas sociais".
A Bolívia – como já foi a Venezuela – faz parte da Comunidade Andina de Nações (CAN). Colômbia e Peru, que também integram a CAN optaram por fechar um acordo comercial com os Estados Unidos, medida rejeitada por Chávez e pelo governo Morales.
Villarroel e Varnoux concordam, porém, que existe "grande afinidade" entre os dois presidentes.
"Eles representam uma crítica ao sistema, que inclui o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outros organismos internacionais", disse Villarroel.
Comentários