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Nacional
Quinta - 25 de Maio de 2006 às 19:00

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A recuperação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atestada em pesquisas eleitorais estaria vinculada à dinamização do mercado interno e a um início de melhoria na distribuição de renda, na avaliação do Palácio do Planalto.

A inflação sob controle favorece o consumo popular, mesmo com crescimento apenas moderado da economia, e seria um dos motivos para as pesquisas CNT-Sensus e Data Folha, divulgadas na quarta-feira, indicarem que Lula seria reeleito em primeiro turno, se as eleições fossem hoje, apesar da forte crise política que há um ano atingiu o governo.

Analistas e setores da oposição concordam pelo menos parcialmente com a análise oficial.

Um relatório de gestão da Casa Civil, obtido pela Reuters, aponta as ações que teriam tido maior impacto sobre economia doméstica e distribuição de renda: reajuste do salário mínimo para 350 reais em abril, um choque de crédito de 50 bilhões de reais, o pacote da habitação e transferência de 8,7 bilhões de reais do Bolsa Família.

"As pesquisas desde o início do ano captam a percepção de que desta vez o crescimento do país se dá com distribuição de renda", disse o ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, encarregado por Lula de fazer a ponte entre o governo e a campanha da reeleição.

Bombardeado por uma sequência de denúncias de corrupção, Lula decidiu apostar todas as fichas em medidas que pudessem estimular o crescimento, quando a turbulência política somou-se a um recuo do PIB no terceiro trimestre de 2005.

Decisões como reajuste do salário mínimo, a operação tapa-buracos nas estradas, a criação da rede de farmácias populares e a ampliação do programa de saúde bucal foram tomadas depois de uma reunião ministerial em outubro, quando Lula cobrou empenho da equipe e determinou um novo ritmo na execução do Orçamento, até então rigidamente controlada pela Fazenda.

"Naquela reunião, o presidente exigiu que lutássemos rua por rua, casa por casa", recordou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, encarregado de garantir o fluxo dos investimentos públicos no ano da reeleição.

Segundo a pesquisa CNT-Sensus, mais de 50 por cento da população acham que a corrupção aumentou no país. A série do Datafolha mostra que, para cerca de 80 por cento, o presidente Lula tem alguma responsabilidade nisso, mas desde janeiro o presidente voltou a liderar as pesquisas de intenção de voto.

"Antes do escândalo do mensalão, Lula era um presidente fadado a se reeleger apesar do governo, que não era bem avaliado", constatou o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi.

"Hoje, a equação se inverteu: Lula passou a depender, e muito, do desempenho do governo, bem avaliado apesar dos problemas políticos, e éticos, que seguramente serão lembrados pela oposição quando a campanha começa para valer", acrescentou.

Entre 30 de maio e 30 de junho, PSDB, PFL e PPS terão, somados, 106 minutos de programas eleitorais obrigatórios na televisão. O PT faz seu último programa obrigatório, de 20 minutos, nesta quinta-feira.

"Os adversários do governo terão oportunidade de oferecer outro tipo de informação aos eleitores", advertiu Coimbra.

ARROZ E CIMENTO

As pesquisas CNT-Sensus e Datafolha mostram que o presidente obteve sustentação política entre os mais pobres, menos escolarizados e moradores do Nordeste, numa escala inversa à de seu principal adversário, Geraldo Alckmin (PSDB).

"Fica muito mais difícil pedir ao eleitor mais pobre para votar na oposição quando os preços do arroz e do cimento estão caindo", reconheceu o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), ex-secretário da Casa Civil de Geraldo Alckmin e dirigente tucano.

"Vamos lembrar na campanha que a estabilidade é um conquista do governo do PSDB e expor as inconsistências do governo do PT, que impede o crescimento pela política monetária errada."

No começo de 2005, a saca de cimento de 50 quilos custava 20 reais, em média, e chegou a menos de 10 reais para algumas marcas no final do ano por causa dos incentivos ao setor de habitação que estimularam a demanda.

Para Arnaldo Madeira, estaria havendo "uma separação entre o voto da classe média e o voto da pobreza, como demonstram as pesquisas".

Na avaliação de Coimbra, isso não significa necessariamente que a disputa eleitoral tenha se transformado numa batalha entre ricos e pobres.

"Há uma percepção, entre as pessoas menos informadas do processo político, de que as coisas estão melhorando, mas isso não representa nem de longe uma cristalização de opiniões divergentes, uma disputa de classes", disse o diretor do Vox Populi.

O Planalto rejeita a consideração de que Lula estaria privilegiando os segmentos e regiões mais pobres com objetivos eleitorais.

"A dinamização do mercado interno favorece a distribuição de renda, mas não se dá em oposição a qualquer segmento da economia ou da sociedade", disse Dulci.





Fonte: Reuters

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