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Cidades/Geral
Terça - 23 de Maio de 2006 às 16:09
Por: Rosi Medeiros

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Uma oportunidade para o recomeço, “mudar de vida”, trabalhar, estudar, ser reconhecido como cidadão. É este o sonho de 55 jovens infratores que participam do projeto “Consciência Hip Hop”, realizado pelos integrantes da Cufa (Central Única das Favelas) em parceria com o Governo do Estado, no Centro Sócio-Educativo (Complexo do Pomeri), em Cuiabá.

Em visita ao projeto, nesta terça-feira (23.05), o rapper MV Bill ressaltou que este recomeço só será possível se a sociedade também estiver pronta para contribuir. “A sociedade tem que fazer a parte dela quando vocês retornarem para a rua”, disse o cantor durante um bate-papo com os adolescentes. “Se a sociedade não aceita esses jovens, é o mesmo que empurrar eles de novo para o mundo do crime”, enfatizou MV Bill que veio a Cuiabá para o lançamento do livro e documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”.

Evitar que os ex-internos do centro voltem a praticar novos crimes é uma das preocupações da instituição governamental. Para isso, foi formada uma equipe de profissionais (psicólogos, assistente social, servidores da área administrativa) que faz o acompanhamento dos jovens depois que eles retornam para casa. “Se o jovem precisa ser matriculado, vamos atrás da escola; de qualificação, procuramos nossos parceiros Senac, Senai, Cefet”, explicou o superintendente do Sistema Sócio-Educativo da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp/MT), Carlos Caetano.

Atualmente, 180 adolescentes cumprem medida sócio-educativa no centro em Cuiabá. De acordo com o superintendente todos, além do ensino regular, participam de alguma atividade seja esportiva (natação, futebol, atletismo), arte-terapia (aulas de música, artes plásticas e artesanato) e outras.

Dos 180 internos, 55 participam do projeto “Consciência Hip Hop”, que busca o resgate de valores dos adolescentes por meio de oficinas, nas quais os jovens aprendem os elementos da cultura hip hop que são: break (dança), hap (estilo musical herdado das populações latinas e negras, cujas letras retratam o cotidiano das periferias), nesta oficina os jovens aprendem o que é o MC (que significa ‘metre de cerimônia’ que canta música hap), graffiti (artes plásticas) e DJ (artista que alia a técnica à performace, utilizando pick-ups e discos de vinil).

É nas oficinas de hap e grafitti que um dos internos do lar, de 17 anos, se ocupa, enquanto planeja o futuro, depois que terminar o período de internação. “Minha mulher está grávida de 7 meses. É uma responsabilidade, que quero cumprir”, disse. Como já trabalhou com serralheria, ele espera conseguir um emprego na atividade. Quanto ao graffiti, considera uma obra de arte e oportunidade de ser reconhecido como artista. “Chama a atenção das pessoas. O povo que passa e vê fica sabendo que foi nós que fizemos”, disse.

Esperança

“Quando venho a um projeto como esse em que a ‘cadeia’, em vez de se tornar uma prisão, se torna lugar de reabilitação, trazendo inclusive esforço de fora para dentro, em que a imprensa pode vir não só para fazer matéria de tragédia, mas mostrar coisas boas também, isso me dá uma esperança no futuro”, afirmou MV Bill. “Mas, também não dá para se iludir, ainda temos muito o que fazer”, concluiu.

O projeto da Cufa no Pomeri, em Cuiabá, teve início no ano passado, com a duração de seis meses. Nesse ano a parceria foi retomada para o desenvolvimento das atividades durante todo ano. Até o final de 2006, 140 adolescentes terão participado do projeto. “São atendidos adolescentes internos do centro e ‘externos’. Aqueles que já cumpriram a medida sócio-educativa continuarão as atividades na sede da Cufa”, explicou o superintendente.

Para o rapper MV Bill o projeto desenvolvido em Mato Grosso, por meio da parceria do Governo com a organização não-governamental Cufa, é um exemplo de uma das ações para evitar a reincidência dos jovens na criminalidade. “Este é um dos vários caminhos que esta questão precisa tomar. Ver que Cuiabá está à frente de muitas cidades que visitei, antes e depois da exibição do documentário, mostra que é necessário isso que está acontecendo, boa vontade, vontade política de fazer alguma coisa de fato, de mobilização”, afirmou.

“Se isto que está acontecendo aqui hoje fosse reproduzido em outros lugares, não iria resolver o problema, mas muitas histórias poderiam ser escritas de forma diferente”, destacou. “Você passa a dar ao jovem o mínimo de dignidade, de respeito para retomar a vida lá fora. Se isto não acontece aqui dentro, ele vai voltar com a cabeça mais negativa e vai ‘delinqüir’ de forma mais pesada”, complementou.

Durante a visita MV Bill falou com os jovens e prometeu retornar outras vezes a instituição. “Espero que vocês já tenham saído daqui, não por fuga, mas por bom comportamento”, disse. “Esperamos encontrá-los do ‘lado de fora’, visitar a escola que vocês estudem, no trabalho. Mas, já os considero vencedores por estarem aqui dentro fazendo alguma atividade”, afirmou.





Fonte: Da Assessoria

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