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Polícia Brasil
Domingo - 21 de Maio de 2006 às 08:52

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Cerca de 24 horas depois de denunciar à reportagem de A Gazeta de ter sido negligenciado no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), o gerente de vendas Delamare Malta da Silva, 33, morreu na Capital, na quinta-feira (18), às 17h30.

Politraumatizado porém totalmente lúcido, Delamare, que sofreu acidente de moto há 1 mês, em Alta Floresta (765 km de Cuiabá), revelou, na última quarta-feira (17), de manhã, estar sendo vítima de uma uma máfia que age no setor de ortopedia do PSMC, deixando pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) sem a devida assistência e se aproveitando desta situação de descaso para agenciá-los ao atendimento particular.

O laudo da necropsia, feita no Instituto Médico Legal (IML) de Cuiabá a pedido do delegado Wladmir Françosi, aponta que Delamare tinha uma bolha de sangue no pâncreas provocada pelo acidente, mas não identificada nem no Hospital Municipal de Alta Floresta, onde Delamare ficou internado nos 13 primeiros dias após o trauma, nem no PSMC, nem na Santa Casa de Misericórdia, onde ele acabou sendo operado.

A reportagem tentou falar com a direção do Hospital Municipal de Alta Floresta por três dias, deixando recado e telefone com a secretária, mas não obteve retorno.

Indagado sobre a denúncia de Delamare, o médico Fernando Luiz de Carvalho, superintendente do PSMC, argumenta que o paciente já chegou do interior com problemas, como uma infecção na perna, mas saiu de lá "nos trinques". Carvalho sugeriu à reportagem que cobrasse respostas da Santa Casa de Misericórdia.

O médico Luis Sabóia, diretor presidente da Santa Casa Misericórdia, explica que mandou um ortopedista ao PSMC para avaliar o estado geral do paciente. "É um absurdo, as fraturas dele já estavam se consolidando. Não sou mágico, nem charlatão, mas não é difícil avaliar que, um politraumatizado, com 30 dias sem a devida assistência teria complicações cirúrgicas e foi o que aconteceu".



Sabóia explica que, minutos após a cirurgia ortopédica, o paciente, que já estava acordando e sem o tubo, começou a ficar sem ar e arroxeado. Durante 2h30, a equipe médica tentou várias manobras de ressuscitação. "O sangramento se soltou e ele teve uma embolia pulmonar".

A denúncia de Delamare coincide com um pedido de providências protocolado no Ministério Público Estadual (MPE), em 6 de maio deste ano, por cinco enfermeiros do PSMC, dando conta, entre outras precariedades na unidade, da máfia da ortopedia. "É voz corrente dentro do pronto-socorro que o paciente é abordado por gesseiros ou maqueiros os quais sugerem a realização do tratamento em hospital particular, por valores promocionais, onde o próprio médico, pertencente ao quadro do pronto-socorro, vai fazer o atendimento e receber por isso", diz trecho da denúncia.

Delamare ficou internado por 13 dias no Hospital Municipal de Alta Floresta, como paciente particular, aguardando autorização da saúde pública para vir operar em Cuiabá pelo SUS.

Diz ter sido abordado já quando a ambulância o deixou na porta do PSMC dia 3 de maio. "Me avisaram que eu ia mofar ali. Me tratando como um possível cliente, me chamavam de professor". Delamare disse que começou a se irritar ao perceber a demora na cirurgia, que, conforme o haviam informado em Alta Floresta, já estava marcada.

Segundo ele, os dias se passavam e ele temia pelo atendimento precário no PSMC. No sábado (6) e domingo (7), disse ter ficado sem antibióticos. "Isso não podia acontecer. Eu tenho um ferro enfiado na minha perna para segurar o osso", reclama.

Delamare contou também que uma manhã acordou e o soro tinha soltado do ombro. "Fiquei o dia inteiro pedindo que recolocassem, mas só fizeram isso às 4 horas da tarde. Fiquei sem tomar medicamentos. Outro dia também deixaram a sonda sem esvaziar até as 21 horas. Parecia que ia explodir."

Delamare diz ter começado a questionar. "Eu virei um problema para eles, porque perguntava muito, queria saber de tudo, mas ali ninguém te explica nada direito", reclamou.

Continuou contando que dia 10, uma quarta-feira, o ortopedista passou visita às 5h45, pedindo que ele ficasse em jejum, que seria operado às 14h.

"Eu fiquei, mas às 11 horas ele voltou, meio sem graça, e disse que não ia mais me operar, porque não tinha conseguido ajudante".

Diante disso tudo, na última quarta-feira (17), Delamare revelou ter recebido a seguinte proposta de um maqueiro."Ele me disse que eu já estava chocando demais ali, que ali era assim mesmo e que eu poderia ser operado naquele dia mesmo, à tarde, se pagasse R$ 8 mil. A mesma proposta foi feita quatro vezes ao meu patrão. Achei um absurdo!"





Fonte: Gazeta Digital

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