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Nacional
Sexta - 19 de Maio de 2006 às 12:15

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Em 31 páginas, a degravação da audiência secreta da CPI do Tráfico de Armas, que teria sido vendida para supostos advogados do Primeiro Comando da Capital (PCC) por R$ 200, revela o poder de Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, dentro da organização que ele ajudou a fundar. Detalha ainda os audaciosos planos da facção criminosa, que planeja ter candidato próprio a deputado federal nas eleições de outubro e infiltrar por concurso público agentes penitenciários nos presídios federais. Para isso, já teria encomendado 10 gabaritos com a máfia especializada em fraudar provas desbaratada em 2005 pela Polícia Civil de Brasília. A seleção para agentes foi suspensa depois da prisão dos envolvidos no esquema de venda de gabaritos.

Aos deputados, os delegados paulistas Ruy Ferraz Fontes e Godofredo Bittencourt Filho, diretor do Departamento de Investigações (Deic) descrevem Marcola como um criminoso preparado, um intelectual que leu mais de três mil livros, a maioria “de esquerda”, e responsável por toda a organização de uma facção robusta que gerava uma receita anual de R$ 9 milhões. Tudo anotado em livros de contabilidade, como uma empresa. O dinheiro era arrecadado dos bandidos presos (R$ 50) e livres (R$ 550) e gerenciado por mais de um tesoureiro.

Segundo os delegados, todos os detentos paulistas faziam parte do PCC, cerca de 140 mil. O “exército” era reforçado pelos familiares dos criminosos, estimados pelos delegados em mais de 500 mil. As famílias dos detentos funcionam como um braço da instituição. Os delegados citam o caso da tentativa de fuga de Marcola de um presídio paulista. A polícia conseguiu abortar o plano, mas os criminosos conseguiram sair ilesos com ajuda de familiares de bandidos integrantes da organização. A organização comandaria de dentro dos presídios mais de 70% dos seqüestros ocorridos em São Paulo.

Compra de gabaritos Em relação ao suposto interesse do PCC em infiltrar agentes nos presídios federais, o delegado Bittencourt não titubeia: “Ele (Marcola) com certeza geriu a questão dos concursos. Eles formam, pagam pela formatura de pessoas nas escolas de direito. Está lançado no livro (de contabilidade)”.

Procurada pelo Correio, a Polícia Civil do DF confirmou a existência de provas da conexão entre o homem apontado como líder da máfia dos concursos, Hélio Ortiz, e a facção criminosa. A partir de interceptações telefônicas, foram revelados contatos entre o PCC e Ortiz. “Eles tinham interesse em infiltrar criminosos na administração pública, principalmente no Judiciário, nas polícias e nos presídios”, explicou o delegado Laerte Bessa.

No depoimento reservado à CPI, os delegados paulistas também revelam que a polícia já recorreu, pelo menos uma vez, a Marcola para deter uma onda de rebeliões nos presídios paulistas. O delegado Bittencourt relata, sem citar data, o momento em que mandou chamar o criminoso para uma conversa de “homem para homem”. Do diálogo, ele conseguiu um acordo para que os motins fossem encerrados. “Imediatamente pararam as invasões”, finaliza. Os policiais criticaram ainda a decisão do governo paulista de transferir líderes do PCC para outros presídios do país. Esta estratégia só fez aumentar o poder da organização que, nesta nova onda de ataques, conseguiu também mobilizar detentos no Paraná e no Mato Grosso do Sul. “Virou realmente uma febre. Ser do PCC é bom negócio”.

Nesta quinta-feira, os parlamentares anunciaram que querem convocar Marcola para depor na CPI. Se vier a Brasília, deverá ficar “hospedado” na superintendência da PF, onde está o traficante Fernandinho Beira-Mar. O requerimento para aprovar a convocação será votado na terça-feira. A Justiça paulista decidiu ontem que Marcola ficará os próximos 90 dias em regime disciplinar diferenciado.

“Ele (Marcola) te encara. É realmente uma liderança”, descreve Bittencourt Filho na degravação veiculada no site Congresso em Foco. O presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), não confirma se o material é verdadeiro, mas muitos dos pontos revelados coincidem com denúncias feitas por deputados.

O relato dos delegados revela as regalias atrás das grades. O PCC escolheu e a secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo acatou a mudança dos uniformes dos detentos de laranja para cinza. De lá, os detentos também recebem encomendas nada usuais. Pelos Correios, foi enviado a um presídio um fuzil. Em outras três encomendas chegaram 60 aparelhos de televisão para os detentos assistirem a Copa do Mundo. Tudo comprado com dinheiro da facção.

Na opinião do deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) os integrantes do PCC desfrutam de uma série de privilégios que só poderiam ser conseguidos com a anuência do poder público. “Tudo que eles conseguem é fruto de acordo”, acusou o ex-governador de São Paulo.





Fonte: 24 Horas News

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