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Segunda - 28 de Janeiro de 2013 às 15:17
Por: Tahiane Stochero

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Caminhonete de dono da boate foi deixada em estacionamento perto do local (Foto: Thaiane Stochero/G1)
Caminhonete de dono da boate foi deixada em estacionamento perto do local (Foto: Tahiane Stochero/G1)

Peritos da Polícia Civil de Porto Alegre e de Santa Maria vistoriaram na manhã desta segunda-feira (28) o carro de um dos donos da boate Kiss, onde 231 pessoas morreram na madrugada de domingo após um incêndio. Elissandro Calegaro Sphor, conhecido por Kiko, foi detido por determinação judicial em um hospital em Cruz Alta após o incêndio.

Segundo o delegado Sandro Meinerz, Sphor estava na festa e deixou o veículo, uma caminhonete F-250 branca, no estacionamento de um supermercado em frente à boate. "Ele disse que deixou o local de carona, por medo de retaliações", afirmou o delegado.



Flores são depositadas em frente à boate Kiss, em Santa Maria (Foto: Reuters)
Flores são depositadas em frente à boate Kiss,
em Santa Maria (Foto: Reuters)

Outros dois detidos são integrantes da banda que tocava no local.

A perícia isolou o carro e também um pequeno reboque que continha instrumentos da banda. Na madrugada, policiais arrombaram um cadeado que fechava o reboque. A suspeita era que poderia haver mais sinalizadores, mas só foram encontrados instrumentos musicais.

Os veículos que se encontram no subsolo do estacionamento foram numerados com etiquetas pelos policiais, pois podem ser de vítimas da tragédia.

Elissandro Sphor, conhecido como Kiko, um dos donos da casa noturna, foi preso em um hospital de Cruz Alta. O vocalista e um responsável pela segurança do palco da banda foram detidos na cidade Mata. Segundo o Hospital Santa Lúcia, de Cruz Alta, Elissandro está em estado regular por ter inalado fumaça e deve seguir internado por dois dias. De acordo com a polícia, ele sai direto do hospital para Santa Maria.

Eles tiveram o pedido de prisão temporária de cinco dias decretada pelo juiz Regis Adil Bertolin durante a madrugada desta segunda-feira. O vocalista do grupo que se apresentava no momento do incêndio foi detido durante o velório do gaiteiro Danilo Jaques, no município de Mata, na região central. O segurança da banda também foi localizado na cidade.

 

O outro proprietário da casa noturna também teve prisão temporária decretada, mas ainda não foi localizado pela polícia. A previsão é que ele se apresente ainda nesta segunda.

O advogado de um dos donos da boate, Jader Marques, afirmou que viajará para Cruz Alta, onde Kiko Spohr está internado, e ressaltou que seu cliente está à disposição da polícia apesar da prisão temporária.

“Estou viajando para ter contato com meu cliente e o que eu sei é que sempre houve desde ontem a disponibilidade de colaborar e de estar cooperativo com o trabalho da polícia. Indepentende da prisão, do decreto, ele continuará à disposição da polícia para qualquer esclarecimento”.

Depoimento
Em depoimento à Polícia Civil, Sphor disse que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação. Ele também culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio, segundo o delegado Sandro Meinerz.

O dono da boate Kiss também negou tenha ordenado aos seguranças que impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou. Sphor, que estava na boate quando a tragédia ocorreu, negou ainda ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. O gravador sumiu do local, segundo Meinerz, responsável pelo caso.

Incêndio
O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico. Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.

 

O incêndio provocou pânico e muitas pessoas não conseguiram acessar a saída de emergência. A festa "Agromerados" reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, dos cursos de pedagogia, agronomia, medicina veterinária, zootecnia e dois cursos técnicos.

Pelo menos 101 das vítimas identificadas eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, segundo informou a instituição em sua página na internet.

O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.

"Fatalidade"
Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia. A direção do estabelecimento classificou o ocorrido como uma "fatalidade", afirmou que a empresa está em "situação regular" e à disposição das autoridades. A nota foi emitida pelo grupo de advogados associados Kümmel & Kümmel, que representa os proprietários da boate.

Público
O número de total de pessoas que estavam no interior da boate Kiss no momento em que o incêndio começou ainda é desconhecido. Segundo informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil clientes.

De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que é responsável pela perícia, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.

Estudantes que sobreviveram à tragédia relataram que, inicialmente, seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo perceberam a fumaça e liberaram a passagem.

O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. "Tirei mais de 180 pessoas dos banheiros. Eles estavam tentando fugir", disse.

Resgate
Muitas pessoas que conseguiram sair da boate ajudaram a socorrer as vítimas. "A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se proteger da fumaça", disse o jovem Murilo de Toledo Tiecher.
 

Arte - Boate (Foto: Arte/G1)





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