Projeto aproveita rochas naturais para armazenar água no sertão
A estradinha de chão no município de Esperança, no agreste paraibano, conduz até o único refúgio de água da comunidade rural Malhada da Pedra.
Olhando, até parece que a água é limpa. “Parece, mas as impurezas estão por dentro. Ela é limpa só de visão. Tenho medo e nojo e faço consumo dela porque não tem outra”, explica a dona de casa Socorro Custódio.
É ainda nessa condição precária que vivem muitas famílias da região. As pessoas não têm cisterna em casa e ainda não foram beneficiadas com outra forma de armazenamento da água da chuva.
Mas é na própria paisagem da região que, aos poucos, um projeto vem encontrando a solução para minimizar o sofrimento do sertanejo. Formações rochosas têm se transformado em grandes reservatórios de água da chuva, aliviando as dificuldades na convivência com a seca.
Com patrocínio da Petrobras, a Coopacne (Cooperativa de Projetos, Assistência Técnica e Capacitação do Nordeste), desde 2005, toca o trabalho que consiste basicamente em afastar pessoas e animais de perto da água. Para isso, o entorno é murado, cercado e toda terra que cobre a pedra é retirada até que se atinja o fundo do tanque.
O período de chuva na região do semiárido concentra-se nos meses de abril, maio, junho e julho, tempo suficiente para abastecer um tanque com capacidade para armazenar 123 milhões de litros d’água e que mata a sede de 300 famílias das comunidades de Timbaúba e Araras, no município de Esperança.
O agricultor José Feliciano de Almeida é o guardião do tanque de pedra. Para que ninguém e nenhum animal tenham acesso ao tanque, a água é bombeada para uma caixa do lado de fora da cerca. É o chafariz, como se diz na região, com suas torneiras sempre à disposição para quem precisar.
O técnico em saneamento ambiental Daniel Oliveira trabalha na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e rotineiramente faz análises na qualidade da água.
Mesmo que a água do tanque de pedra ainda precise de um tratamento caseiro antes de ser consumida, é evidente o ganho que se teve com o simples fato do rochedo estar cercado.
Dentro de casa, em um canto da pia da cozinha, a agricultora Genalveva Feliciano de Almeida armazena água que vem do tanque de pedra. Passa primeiro por um pano, para coar, dentro de um jarro de barro. Depois de coada, a água passa pelo tratamento com hipoclorito de sódio, distribuído pelo pessoal do projeto, com duas gotas para cada litro de água. Após duas horas, já está adequada para o consumo.
A agrônoma Maria José dos Santos é uma das responsáveis pela Coopacne e coordenadora do projeto de construção dos tanques de pedra. “É uma ferramenta barata, que permite você acumular um volume de água satisfatório e atender toda a população de um entorno”, diz.
As rochas dos tanques tem porosidade baixa, por isso eles funcionam bem como reservatórios. Sobre o custo do tanque, Maria José afirma que fica em torno de R$ 100 mil. "Hoje você sente no rosto de cada agricultor que vem aqui buscar água a satisfação e a certeza de que vai encontrar água disponível. É para todo mundo", conclui.
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