Repórter News - reporternews.com.br
Agronegócios
Sábado - 13 de Maio de 2006 às 01:20

    Imprimir


Uma das principais feiras agropecuárias de Mato Grosso, e que se realiza todos os anos em Nova Mutum, importante município produtor do Estado, foi suspensa esse ano em função da crise instalada no agronegócio. “Apesar do evento ter sido programado para se realizar em junho próximo, não há a mínima condição dele acontecer, tendo em vista a situação em que se encontra Mato Grosso”, revelou o prefeito de Nova Mutum, Adriano Pivetta. Essa é só uma das conseqüências enfrentadas pelo município, que segundo o prefeito, atualmente está no centro das manifestações do movimento “Grito do Ipiranga”.

Nova Mutum já sofre o racionamento de combustível e o comércio local, a dificuldade no abastecimento de diversos produtos. “O frigorífico responsável pelo abatimento de 2 mil e 500 suínos por dia parou a produção nessa última semana, retomando em seguida, mas ameaça parar por um período sem definição, a qualquer momento”, disse o prefeito. Conforme Pivetta, uma outra indústria do município perdeu uma grande carga de frangos e ovos, parada no bloqueio da BR-163. As fábricas de rações não dispõem mais do farelo, matéria prima necessária para a fabricação das rações.

A manifestação de produtores rurais iniciada há cerca de 20 dias nos municípios produtores do Estado, e que bloqueia as principais vias de escoamento, prevê mais de 20 mil demissões de trabalhadores diretos do campo até o final do mês de maio, caso o movimento não avance nas reivindicações junto ao Governo Federal. Segundo o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja- Aprosoja/MT, Glauber Silveira, o agronegócio do Estado, irá pedir em conjunto nessa segunda-feira (15), a prorrogação dos prazos nos pagamentos junto aos credores, sem data definida, bem como entregará avisos prévios a todos os funcionários que diretamente trabalham no campo ou são ligados às empresas do setor.

Esta medida deve impactar ainda mais na economia dos municípios mato-grossenses que sofrem com a baixa na arrecadação e as demissões em massa de trabalhadores do campo. “Desde o mês de março, o agronegócio de Mato Grosso já demitiu cerca de 30 mil pessoas ligadas diretamente ao campo. Ou seja, metade do efetivo, antes de 60 mil trabalhadores diretos”, ressalta Glauber Silveira, lembrando que para cada trabalhar direto, o campo emprega outros seis indiretos. “Estamos orientando os produtores rurais para que entreguem os avisos prévios de 30 dias para seus funcionários com o intuito de prevê-los sobre as inevitáveis demissões”, disse o vice-presidente.

Em Lucas do Rio Verde, o comércio encontra-se praticamente de portas fechadas. “A maioria dos estabelecimentos já fecharam as portas. Começam a faltar produtos para comercialização e os que existem não podem ser transportados”, disse o prefeito do município, Marino Franz. Para o prefeito o movimento “Grito do Ipiranga”, foi anunciado pelos próprios prefeitos dos municípios produtores, como uma das conseqüências inevitáveis da crise do agronegócio. “23 prefeitos estiveram reunidos em Lucas do Rio Verde no dia 3 de abril passado, onde elaboramos um documento chamado Grito do Médio Norte. Tornamos pública essa carta, inclusive para o ministro da Agricultura, mas não fomos ouvidos”, lamenta Marino.

O prefeito acredita que as saídas que podem por fim às manifestações e trazer soluções para o agronegócio do Estado consistem, a curto prazo, na renegociação das dívidas vencidas, oriundas de financiamentos bancários e nos investimentos com 2 anos de carência e 20 anos para pagar, a juros de 3%/ano. “Além da criação de mecanismos de comercialização ágeis e preços adequados à realidade do produtor”, completa. Para Marino Franz, as ações, a médio e longo prazos, pedem medidas estruturais como menores taxas de juros para novos financiamentos, liberação de transgênicos, importação de genéricos e a desoneração do óleo diesel.

O prefeito de Rondonópolis, Adilton Sachetti, que visitou o bloqueio na BR 364, afirmou que o movimento de protesto está forte no município e conta com a participação da sociedade e também de entidades de classe. Sachetti acredita que o problema instalado não será resolvido a curto prazo e que o município deverá ter mais dificuldades no próximo ano com a falta de renda causada pelas demissões em massa ocorridas pela crise. Para o prefeito é importante esclarecer a população sobre os efeitos e como o setor da agropecuária ficou em crise. “Muitas pessoas que também estão sendo prejudicadas com esta crise não sabem o porquê desta situação e não têm idéia do quanto isto pode afetá-las, por exemplo, com a falta de alimentos como leite e ovo”, explicou o prefeito, que pretende continuar engajado na manifestação de forma ordenada e pacífica.





Fonte: AMM

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/301439/visualizar/