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Internacional
Sexta - 12 de Maio de 2006 às 20:50

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Mulheres palestinas que moram na Cisjordânia estão recorrendo aos métodos mais baratos a fim de produzir alimentos, tais como pão, em meio a dificuldades crescentes para conseguir comida em decorrência do isolamento financeiro imposto ao governo palestino, liderado pelo Hamas.

Em sua casa no vilarejo de Kufr Ein, perto de Ramallah, Hind Ahmad quebra pedaços de madeira a fim de manter acesa uma fogueira que utiliza para cozinhar e para fazer pão, em um forno de barro montado no jardim dela.

Essa não é uma tarefa com a qual a diretora de escola de 52 anos de idade esteja acostumada, mas, sem receber seu salário há mais de dois meses, ela não consegue preparar comida de outra forma.

"Tenho de usar esse método primitivo a fim de economizar dinheiro e alimentar minhas crianças", disse, com o rosto vermelho e quente enquanto se abaixava para alimentar as chamas do forno.

"Toda vez que asso pão, meu rosto fica vermelho como um tomate, sem falar que fico cansada porque inalo a fumaça."

Como outros 165 mil palestinos empregados pelo Estado, Ahmad, que ganharia normalmente cerca de 2.000 shekels (450 dólares) por mês, não recebe nada desde que o governo liderado pelo Hamas subiu ao poder.

Como os EUA e a União Européia (UE) consideram o Hamas um grupo terrorista, os doadores internacionais e os bancos locais e estrangeiros suspenderam a transferência de dinheiro ou de ajuda financeira para a Autoridade Palestina.

Como resultado, o Hamas não possui quase verbas para administrar o governo, que já convive com uma dívida de cerca de 1,3 bilhão de dólares.

As restrições, que também incluem Israel retendo 55 milhões de dólares mensais em impostos arrecadados em nome dos palestinos, ameaçam sufocar a economia da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, onde vivem 3,8 milhões de pessoas.

Segundo Ahmad, ela, o marido desempregado dela, dois filhos e uma filha não comem carne desde março. Ela afirmou estar vivendo à base de arroz comprado antes do início do bloqueio e de vegetais plantados no jardim da casa da família.

MULAS NO LUGAR DE ÔNIBUS

Apesar de as potências estrangeiras encarregadas de mediar o processo de paz no Oriente Médio terem decidido, nesta semana, criar um mecanismo para enviar dinheiro aos palestinos, não está claro se esse mecanismo será efetivamente instalado ou se será usado para pagar salários.

Um Mohammad, outra professora de Kufr Ein, afirmou que a crise a tinha obrigado a recorrer à madeira como fonte de energia para alimentar seus oito filhos, dois dos quais são estudantes universitários.

"Nunca cozinhei com madeira e sou alérgica à fumaça. Mas tenho de economizar dinheiro de todas as formas possíveis, não importa o quão primitivo isso seja. Essa é a minha responsabilidade", afirmou, derramando um pote de grão-de-bico em um fogão de pedra para fazer homus.

Nas últimas semanas, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza, as pessoas passaram a vender moedas de ouro e jóias -- que são tradicionalmente, no mundo árabe, as últimas fontes de riqueza de alguém antes da terra -- para tentar obter dinheiro a fim de comprar comida.

Um Mohammad disse que também pensava em vender suas jóias, apesar de, até agora, os pais e os irmãos dela estarem ajudando com as despesas do dia-a-dia.

"Quero apenas ver as crianças se formarem. Nada mais. No vilarejo, podemos viver da terra", afirmou.

As duas mulheres contaram que alguns homens de vilarejos próximos pararam de usar os transportes públicos para chegar à escola e passaram a usar suas mulas.

Na sexta-feira, em Nablus, norte da Cisjordânia, centenas de pessoas, muitas das quais simpatizantes do Hamas, participaram de um comício realizado com o intuito de levantar fundos para o governo palestino.

Várias pessoas, entre as quais crianças carregando seus porquinhos de moeda, doaram dinheiro.

"Vamos superar essa crise financeira voltando-nos para nós mesmos", afirmou à multidão Bassam Shaka, um ex-prefeito de Nablus.

"Nossa intenção, quando nós doamos essas coisas, é mostrar aos norte-americanos que não precisamos do apoio deles, que podemos enfrentar nossos problemas sozinhos."





Fonte: Reuters

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