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Polícia Brasil
Terça - 02 de Maio de 2006 às 13:22
Por: Jaime Neto

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O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro falou pela primeira vez à imprensa de Mato Grosso nesta manhã de terça-feira (02) em uma sala do setor de administração na penitenciária de Pascoal Ramos onde se encontra preso desde 11 de março após sua extradição do Uruguai. Arcanjo atendeu a imprensa mostrando serenidade e bem-humorado. Não se recusou a responder nenhuma pergunta. A entrevista durou 1h10.

Arcanjo chegou à sala às 9h45 sob forte esquema de segurança e ficou atrás de uma pequena mesa de frente para os repórteres. Em nenhum momento alterou o tom de voz. O ex-bicheiro se armou de negativas. Disse que nunca mandou matar ninguém, nunca teve negócios com bingos ou caça-níqueis, que nunca pagou propina a autoridades e que está à procura da verdade e que acredita na Justiça. De verdade, disse ele, é que de fato comandava o jogo do bicho em Mato Grosso e que teve empresas de factorings que teriam alavancado seus negócios, avaliado, por ele, em R$ 400 milhões.

Arcanjo já foi condenado a 49 anos por crime contra o sistema financeiro, sonegação fiscal, porte ilegal de armas e responde a 8 processos de homicídios, entre eles, o do proprietário da Folha do Estado, Sávio Brandrão. Arcanjo seria o mandante do assassinato fato que voltou a negar hoje.

Negou também que tenha autorizado empréstimos visando às campanhas eleitorais. Voltou a afirmar que era dono das factorings, mas que quem administrava era o seu gerente, Nilson Teixeira. Reafirmou que tem uma dívida a receber no valor de R$ 15,4 milhões, não corrigidos, dos deputados José Riva (PP) e Humberto Bosaipo (PFL). E adiantou que recebeu em sua fazenda (não soube precisar a data), o atual senador Antero Paes de Barros (PSDB) com outros dois empresários. Antero teria solicitado um emprestimo para campanha. Segundo Arcanjo, não foi falado em valores e ele teria dito na ocasião que quem verificava estas operações era o seu gerente, Nilson Teixeira.

Fuga

Arcanjo disse que não fugiu no dia 5 de dezembro de 2002 quando foi desencadeada a Operação Arca de Noé. Ele afirmou que estava em Goiás quando soube do fato e que “portanto não houve fuga”. O ex-bicheiro disse que ficou distante de Cuiabá porque achava que em poucos dias tudo seria resolvido como isso não aconteceu ele não retornou a Mato Grosso para não ser preso. Ele afirmou que não recebeu nenhuma informação privilegiada sobre a operação, porém, admitiu depois que recebeu um envelope anônimo que apontava para as investigações policiais.

Uruguai

Disse que escolheu ficar no Uruguai, mas poderia ser no Paraguai ou Argentina. Arcanjo, porém, tinha negócios naquele país como empresas de off-shore. Na entrevista, disse apenas que pretendia montar um negócio no Uruguai que poderia ser uma factoring e negou que era sócio do ex-vice-presidente uruguaio.

Jogo do Bicho

Arcanjo confirmou que era quem comandava o jogo do bicho em Mato Grosso, mas que deixou o “negócio” no dia 5 de dezembro de 2002. Mesmo sob suspeita de que parentes ainda estariam por trás da contravenção, Arcanjo nada acrescentou. Negou ainda que tenha pago propinas a policiais e juizes para manter o jogo. “O dinheiro que recebia não dava para pagar. Se fosse para pagar era melhor parar”.

Caça-Níqueis

O ex-bicheiro disse que nunca “mexeu” com jogos de azar, ou seja, casas de bingos e caça-níqueis. Sobre os selos com a marca Colibri nas máquinas caça-níqueis ele alegou que quando ficou sabendo mandou tirar. Disse ainda que nunca gostou deste tipo de jogo porque sabia por experiência em outros estados que havia muito “tumulto” e “briga por espaço”.

Sonegação

O Ministério Público Federal estima que o patrimônio de João Arcanjo Ribeiro esteja próximo a R$ 2 bilhões. Ele negou a cifra. Admitiu um patrimônio na ordem de R$ 400 milhões. Sobre as investigações de que teria sonegado mais de R$ 840 milhões ele respondeu: “como posso sonegar um valor bem acima do que tenho”. Arcanjo sempre manteve a linha de que não há provas para incriminá-lo.

Pedro Taques

Arcanjo disse que só conhecia o procurador da República, Pedro Taques, por meio da imprensa e que só veio conhecê-lo pessoalmente nos interrogatórios em que participou. “Ele errou (alegando falta de provas), não tenho mágoas, mas a verdade vai aparecer”.

Políticos

Arcanjo não quis revelar nenhuma afinidade com qualquer político. Citou apenas o ex-governador Júlio Campos e atual conselheiro do Tribunal de Contas como quem teria uma maior aproximação. Questionado sobre como vê o fato das pessoas se afastarem dele agora que está preso, respondeu: “faz parte. A sociedade é assim mesmo”.

Truculento?

O comendador disse que nunca foi um homem truculento e que não sabia que era temido. Disse que andava apenas com 2 seguranças e que nunca mandou matar ninguém. Pergutado se tinha medo de ser morto na prisão, disse: "não há motivo para ninguém me matar".

Sávio

Arcanjo disse que conhecia Sávio Brandrão e que está a procura da verdade sobre a sua morte. Acusado de ser o mandante do assassinato do empresário, Arcanjo voltou a negar. Disse que as matérias contra ele publicadas na Folha do Estado não confrontaram com seus negócios e voltou a dizer que não conhecia o ex-PM Hércules Araújo (réu confesso do crime) e nem o seu comparsa, o policial Célio Alves que está foragido. "A verdade vai aparecer".

Como está vivendo

O ex-bicheiro disse que suas contas estão sendo pagas por um de seus genros. Ele alegou ainda que recebe US$ 10 mil por mês relativo à administração do hotel de sua propriedade em Orlando, nos Estados Unidos. Revelou que acertou com o seu advogado, Zaid Ardib, que só irá pagá-lo ao final dos processos. Admitiu ter um patrimônio de R$ 400 milhões e que tem uma casa em Orlando e uma conta nos EUA, além do hotel avaliado, por ele, em US$ 70 milhões. Negou ter conta na Suíça. Boa parte do patrimônio de Arcanjo está sendo administrada pela Justiça Federal que determinou o seqüestro de seus bens.

Família

Arcanjo revelou que se separou da esposa Silvia Shirata há cerca de 2 anos. Sílvia, segundo ele, está vivendo com “outro homem” no Uruguai. A maior falta que sente na prisão é de não ter um convívio maior com os 5 filhos. Disse ainda que se ficar livre vai continuar a morar em Cuiabá e que não tem interesse em mudar de Estado ou país.





Fonte: Midia News

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