MST destrói 200 mil mudas e desocupa fazenda na BA
Os militantes saíram da propriedade sem nenhuma garantia de que a reivindicação por assentamentos na área seja atendida. Mas deixaram um saldo de pelo menos 200 mil pés de eucalipto destruídos, como forma de protesto, segundo um dos coordenadores regionais do movimento, Weldes Valeriano Queiroz. O líder sem-terra repetiu as ameaças de novas invasões e atos contra a monocultura na região.
"Não vamos enfrentar a polícia, não somos loucos. Agora, ninguém vai nos impedir de fazer a reação, com a ocupação de outras propriedades", avisou Queiroz, enquanto os acampados desmontavam a estrutura erguida nos 11 dias de invasão e recolhiam bandeiras e pertences. "Se o empecilho da reforma agrária são as empresas de eucalipto, nós vamos questionar com as ocupações."
Desocupação foi pacífica
Contrariando a tensão que reinava no dia anterior, a desocupação foi pacífica, sem a presença da Polícia Militar. Os sem-terra começaram a desmontar os barracos logo no início da manhã. Às 10 horas, eles já preparavam um novo acampamento às margens da BR-101, nas proximidades da fazenda.
Durante cerca de cinco minutos, um grupo formado por homens, mulheres e crianças bloqueou o tráfego na rodovia, erguendo enxadas, facões e foices. No meio da estrada, os sem-terra batucaram e cantaram refrões hostis às empresas de celulose da região. O prazo dado pela Justiça para a saída dos 3 mil invasores da Fazenda Céu Azul expirou na quarta-feira. A PM então avisou que, se não deixassem a área por conta própria, iria usar a força para expulsá-los.
A corporação chegou a mobilizar 120 homens, fortemente armados, para a entrada no acampamento. No entanto, aceitou prorrogar por 24 horas o prazo para a reintegração, atendendo a um pedido do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nesse período, o superintendente regional do órgão, José Vieira Leal Filho, firmou um acordo com os líderes do movimento e prometeu fazer um levantamento na região de fazendas que poderão ser consideradas improdutivas e destinadas para reforma agrária.
Leal disse também que vai propor à Suzano Papel e Celulose a aquisição da Céu Azul por meio de decreto. A invasão impede que o Incra vistorie a área por um período de dois anos. "Mas é facultado ao proprietário aceitar ou não. A legislação agora o favorece, porque houve a ocupação", observou.
Recuo
Trabalhadores ligados às 11 entidades da Articulação de Movimentos Sociais, Rurais e Urbanos da Bahia que realizam protestos e manifestações esta semana no Estado decidiram ontem recuar em todas as ações radicais desencadeadas para pressionar os governos federal e do Estado a atender a uma lista de 300 reivindicações feitas desde o ano passado. Pela manhã, um grupo chegou a interditar mais uma vez o trecho da rodovia BR-324 no município de Capim Grosso, mas a estrada foi liberada ao meio-dia.
Manifestantes desocuparam também o prédio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e um projeto de irrigação que está sendo construído pelo governo estadual no município de Tucano e decidiram não cumprir as ameaças de fechar outras três rodovias federais. "Como fomos recebidos por representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e Ministério Público Federal, resolvemos recuar", disse Gilmar dos Santos Andrade, um dos líderes do movimento.
Segundo ele, os prédios públicos do Estado também deixaram de ser alvo dos manifestantes por causa de uma nova promessa de reuniões com secretários estaduais. Mas, no fim da tarde de ontem, sentindo-se mais uma vez ludibriados, pois os trabalhadores não haviam sido recebidos por ninguém do governo baiano, cerca de 400 manifestantes discutiam a possibilidade de voltar a radicalizar as ações. De acordo com Andrade, eles conseguiram uma área do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) em Salvador para acampar e ficar na capital até definir "os rumos do movimento".
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