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Economia
Quinta - 27 de Abril de 2006 às 07:10
Por: Eduardo Gomes

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A maior manifestação registrada pelo movimento Grito do Ipiranga, realizado simultaneamente em várias cidades do Norte mato-grossense, foi registrada ontem à tarde de ontem em Sorriso, maior produtor de soja do país. Cerca de três mil pessoas atenderam ao chamado dos manifestantes e se uniram para fechar a BR 163.

Durante o protesto em Sorriso (470 quilômetros ao Médio Norte de Cuiabá), uma máquina agrícola foi queimada e levantou uma fumaça preta próxima a uma bandeira do Brasil que trazia uma tarja preta com os dizeres: “A agricultura brasileira está em luto”. Em Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao Médio Norte de Cuiabá), uma colheitadeira também foi queimada ontem.

Todos estão no mesmo barco que afunda e o pior é que nenhum dos embarcados tem coleta salva-vida. Este é o sentimento que une agricultores, sem-terra acampados, pecuaristas, comerciantes, profissionais liberais e praticamente a população que vive nos municípios com a economia alicerçada no agronegócio. A crise resulta em bloqueios de rodovias e cerco a agências bancárias. Ninguém sabe até quando o protesto continuará. Manifestantes ameaçam marchar até Paranaguá (PR) e prometem suspender as exportação e importação.

O presidente do sindicato rural do município, Helmut Lawisch, disse que o movimento surgiu das bases, em Ipiranga do Norte (162 quilômetros de Sinop), com o nome de “Grito do Ipiranga”, sem nenhuma participação de sindicalistas e de representantes classistas.

As agências bancárias de Lucas foram cercadas por tratores na segunda-feira, mas voltaram a funcionar depois que uma delas conseguiu uma liminar impedindo o bloqueio. Parte do comércio esteve fechado.

O produtor Genir Cela, que cultiva 1,7 mil hectares (ha) juntamente com três irmãos no município de Sorriso, participou da manifestação em Lucas. Cela resumiu na frieza dos números a inviabilidade da agricultura: o custo de produção da soja na região de Lucas é de R$ 22 a saca de 60 kg, e o mercado atual paga apenas R$ 15 pelos mesmos 60 kg. “Assim não dá. O jeito é parar de plantar”.

A rodovia BR-163 começou a ser bloqueada em Lucas, na segunda-feira passada – e em outros pontos do Médio-Norte também. Dois dia após o primeiro protesto, o juiz federal Julier Sebastião da Silva, concedeu liminar à União determinando a suspensão dos bloqueios. Na cidade, ninguém tem conhecimento oficial e os produtores mantêm máquinas, implementos, caminhões e veículos leves impedindo a passagem na maior parte do dia, a exceção de ambulâncias, viaturas, transporte escolar e cargas vivas. “A gente fica sem entender. Mal o protesto começou e a liminar saiu. Sem-terra cerca estrada para todo lado e nenhum juiz manda retirá-los”, desabafa o produtor Artêmio Gualdescki.

Tanto em Lucas quanto em Sapezal, Campos de Júlio, Comodoro, Nova Mutum e nos demais pontos de bloqueio de rodovias, a chiadeira é uma só: produtores reclamam da defasagem cambial, desembolso abusivo no combate à ferrugem asiática e dos agroquímicos de modo geral, disparada do preço do diesel e do frete, e falta de investimentos federais em logística para reduzir o chamado “Custo Brasil”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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