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Sábado - 22 de Abril de 2006 às 14:14

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A última noite do Cine PE — Festival do Audiovisual, na sexta-feira, voltou a lotar inteiramente o Cine-Teatro Guararapes — que, nos últimos dias, registrava uma média de 200 ou 300 pessoas a menos por noite em relação aos anos anteriores, uma diferença que os organizadores atribuíram aos dois feriados prolongados (Semana Santa e Tiradentes).

Foi essa platéia lotada até nos corredores que aplaudiu entusiasmadamente o documentário "Pro Dia Nascer Feliz", do carioca João Jardim, um retrato das angústias da juventude brasileira de todas as classes, e também o aguardado "Árido Movie", ficção do pernambucano Lírio Ferreira (de "Baile Perfumado"), que teve um digno batismo popular em sua terra natal. O filme já estreou em São Paulo e no Rio no dia 14.

Talvez "Pro Dia Nascer Feliz" tenha sido até aplaudido com mais entusiasmo — uma prova de que a platéia do festival, jovem como os protagonistas do documentário, em sua maioria, sintonizou-se perfeitamente com a mensagem de que são muitos os dilemas, as amarguras, os sonhos e as dificuldades dos adolescentes no Brasil de hoje, independentemente de sua condição social.

No entanto, a própria permanência dessa platéia até as cenas finais de "Árido Movie", que se estendeu até a meia-noite e meia, provou que o público manteve o interesse até o fim neste drama que mistura toques de comédia, faroeste e filme de estrada para dar conta da trajetória de diversos jovens: o jornalista de TV Jonas (Guilherme Weber), seus amigos que não têm nada para fazer (Selton Mello, Gustavo Falcão e Mariana Lima) e a índia Wedja (Suyane Medeiros).

Os dois filmes que encerraram a parte competitiva, no final, se aproximaram na temática que explora os dilemas do país e de sua juventude. Da mesma forma que "Pro Dia Nascer Feliz" parece começar onde termina outro documentário concorrente, "Meninas", de Sandra Werneck — que expõe a falta de perspectivas de jovens de baixa renda no Rio de Janeiro e a preocupante incidência da gravidez cada vez mais precoce entre as garotas.

Nestes três longas, "Árido Movie", "Pro Dia Nascer Feliz" e "Meninas", esteve o que o 10o. Cine PE exibiu de melhor. Por conta disso, espera-se que o júri distribua entre eles seus prêmios principais.

Uma outra expectativa forte é que "Tapete Vermelho", de Luiz Alberto Pereira (SP), possa colher algum prêmio — especialmente para o ator Matheus Nachtergaele.

O anúncio das premiações será feito na noite deste sábado, depois da exibição do filme "Achados e Perdidos", de José Joffily, fora de competição.

ANIMAÇÔES

Uma característica desta edição do festival pernambucano foi a presença forte de dois filmes de animação, uma técnica em que o Brasil até agora não teve tanta tradição.

Em 2006, houve seis vídeos nordestinos, três curtas-metragens e até um longa concorrente na seção principal, "Wood & Stock — Sexo, Orégano e RocknRoll", do gaúcho Otto Guerra, o nome mais conhecido nesta área no país, levando à tela as tiras do cartunista paulistano Angeli.

Esse é um outro filme que mereceria no mínimo um prêmio especial, por retratar de modo preciso um universo de humor corrosivo.



Na noite de sexta, foram exibidos dois bons vídeos de animação, "Céus", de Andreza Vasconcelos (PE), e "Concerto Número I para Celular e Orquestra", de Fausto Júnior (BA),que explorava com ironia a perturbação trazida por telefones celulares à exibição de uma orquestra, provocando uma reação radical do maestro.

Outro vídeo baiano, "O Fim do Homem Cordial", de Daniel Lisboa, foi provavelmente o mais provocativo desta seleção. Em apenas três minutos, o diretor coloca a situação de um grupo rebelde que sequestra o principal líder político da Bahia — uma alusão bastante clara ao senador Antônio Carlos Magalhães —, exigindo que a imagem dele amarrado e submetido seja exibida pelo telejornal local. O filme, segundo o diretor, sofreu "tentativa de censura" na Bahia.

Porém, o vídeo mais contundente acabou sendo mesmo um documentário, "O Menino e a Bagaceira", de Lúcio Vilar (PB), que retrata a impressionante decadência física e psíquica de Sávio Rolim, que interpretou, quando menino, o protagonista do filme "Menino de Engenho", adaptação do romance de José Lins do Rego feita pelo cineasta Walter Lima Jr. em 1965.

A seleção de curtas e vídeos do festival, aliás, foi de bom nível, de maneira geral. Entre os curtas, os destaques foram "Eletrodoméstica", de Kleber Mendonça Filho (PE), uma ácida e bem-humorada reflexão sobre o cotidiano da classe média, "Rapsódia para um Homem Comum", de Camilo

Cavalcante (PE), as animações "Deu No Jornal", de Yanko Del Pino (DF), "Historietas Assombradas", de Victor Hugo Borges (SP), e o irônico "Acossada", de Karen Ackerman e Karen Black (RJ).




Fonte: Terra

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