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Quarta - 19 de Abril de 2006 às 15:59

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LOS ANGELES (Hollywood Reporter) - A atriz sueca Anita Ekberg admirava Federico Fellini a tal ponto que, quando chegou a Roma para trabalhar em "La Dolce Vita", "recebeu o cineasta deitada na cama, nua, pronta para partir para a ação", contou um dos assessores do célebre diretor.

Fellini não era novato em matéria de romances nos bastidores. Mesmo assim, segundo o assessor, ele foi pego de surpresa e sentiu-se tão constrangido que fingiu um ataque de apendicite — tão bem que chegou a ser levado embora de ambulância e a ser operado.

Nada disso é verdade, segundo o crítico de cinema Tullio Kezich, do jornal Corriere della Sera, no livro "Federico Fellini: His Life and Work" (Federico Fellini — Vida e Obra).

Kezich conheceu Fellini no Festival de Cinema de Veneza de 1952 e continuou em contato com ele até a morte do diretor, em 1993.

Na vida real, Anita Ekberg não quis fazer o trabalho, aceitou o papel apenas depois de ser pressionada por seus empresários e não era o tipo de pessoa que entrava nesse tipo de jogo fora da tela.

Kezich imagina que a história tenha sido invenção do próprio Fellini, uma jogada típica para manter as pessoas falando dele, dando palpites e em dúvida — os mesmos efeitos de perplexidade que seriam criados por filmes como "Satyricon" e "8 e Meio".

Fellini contava muitas histórias a seu próprio respeito, embora filmes supostamente autobiográficos, como o maravilhoso "Amarcord" (1973), não dêem pistas confiáveis sobre sua vida e suas experiências.

COMEÇO DE CARREIRA

Uma história que ele não contou, porém, é uma das muitas surpresas contidas no relato de Kezich: que o mundialmente renomado diretor Fellini na realidade não queria ser diretor de cinema.

Em lugar disso, ele começou como cartunista e, em seguida, foi humorista, jornalista e colunista de jornal, tendo sido preso na Itália de Mussolini.

Depois de passar sua juventude na tranquila cidade de Rimini, na costa do Mar Adriático — onde, em um único ano letivo, faltou 67 dias, "quase um recorde" —, Fellini mudou-se para Roma em 1939, aos 19 anos.

Fellini fez seu aprendizado numa revista satírica para rapazes e depois começou a escrever histórias surreais para serem lidas na rádio e que mal conseguiam passar pela censura — mas que o público adorava.

Dos roteiros de rádio para os roteiros de cinema, a progressão foi natural. Já casado com sua amada Giulietta Masina, que seria imortalizada em seu filme "Julieta dos Espíritos", de 1965, Fellini formou uma parceria com um advogado chamado Tullio Pinelli e passou a escrever dezenas de roteiros, colaborando com grandes nomes do cinema como Carlo Ponti e Dino de Laurentiis.

O trabalho era regular, e ele conquistou reputação sólida por seus escritos. Além disso, Fellini ficou rico e acrescentou 20 quilos a seu corpo antes esbelto.

Foi por acaso que ele começou a dirigir, substituindo outro diretor que foi demitido de um projeto. Mas, escreve Kezich, Fellini em pouco tempo descobriu que gostava da "festa viajante que é criar um filme". Ele gostava do fato de que os diretores eram autorizados a esquivar-se de obrigações sociais e familiares, "podendo cabular aula, por exemplo".

BRIGAS COM LAURENTIIS

Ele não se incomodava com as dores de cabeça, os horários esdrúxulos e os pesadelos logísticos envolvidos no trabalho. Apreciava o dinheiro e as mordomias.

Aparentemente, gostava até mesmo das brigas internas constantes com o produtor com quem trabalhou em vários filmes, Dino de Laurentiis. As disputas normalmente terminavam com Fellini ganhando.

O relato apresentado por Kezich é repleto de acontecimentos e desventuras improváveis, como o furor religioso provocado por vários de seus filmes ou a discussão acirrada entre De Laurentiis e Fellini em torno de quem contracenaria com Anita Ekberg — o produtor insistia em Paul Newman e o diretor exigia Marcello Mastroianni (Fellini venceu).

Além disso, Kezich apresenta algumas interpretações interessantes do trabalho do cineasta, sugerindo, por exemplo, que a personagem de Gelsomina em "A Estrada da Vida" representa não Giuletta, conforme sugere a interpretação padrão, mas o próprio Fellini — e que Zampano e Il Matto também seriam versões do próprio diretor.

Federico Fellini contou muitas histórias, algumas das quais verdadeiras. Kezich separa os fatos das lendas cultivadas com cuidado por Fellini, e os fãs do diretor vão apreciar esse olhar por trás dos bastidores, às vezes se aventurando pela seara da fofoca.





Fonte: Terra

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