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Sábado - 08 de Abril de 2006 às 08:40
Por: Alecy Alves

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O vigilante Valdevino Alves Ramos, de 60 anos, mora há dez no bairro Ribeirão do Lipa, em um terreno que ganhou após uma invasão na região. No início, a casa da família era um barraco de lona no fundo do terreno. Com o tempo e a ajuda de vizinhos, Valdevino construiu uma casa de três cômodos, onde mora com esposa (dependente de cadeira de rodas) e o filho adolescente. E saiu definitivamente do aluguel.

A história de Valdevino retrata a realidade do bairro, que segundo o último censo do IBGE, possui o maior número de moradores com casas próprias da Capital: 91,91%. O eletricista Miron Araújo Valadares, de 40 anos, também morador de casa própria do Ribeirão do Lipa, concorda com o resultado da pesquisa do IBGE. Para ele, a curta distância para chegar ao centro de Cuiabá e os baixos valores dos terrenos à venda têm atraído mais moradores.

Miron conta que quando chegou a Cuiabá (vindo do Pará) em 1985, pretendia apenas visitar a mãe, que morava no bairro, mas com o tempo gostou do lugar e decidiu ficar. Enquanto conversava com a reportagem, Miron mostrava a região onde antes existiam muitos terrenos baldios e, atualmente, já está repleta de casas. Conforme ele, todas construídas da mesma forma que a dele e seu Valdevino: com recursos próprios e sem auxílio de qualquer órgão público.

“Na época, só existiam barracos e não havia água e luz. Hoje o bairro tem infra-estrutura e a cada ano vemos mais pessoas procurando casas para comprar aqui. Eu mesmo já recebi diversas propostas de pessoas que querem comprar a minha”, diz Miron. Atualmente, ele está ampliando o imóvel.

Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso, José Afonso Portocarrero, o resultado do censo do IBGE não causa surpresa pelos motivos já citados pelos moradores. O Ribeirão do Lipa é um bairro surgido de invasões, com suas áreas loteadas posteriormente pela prefeitura. Com a aquisição mais em conta dos lotes, os moradores conseguem construir a moradia própria, mesmo pequena, e aumentam na medida que tenham condições financeiras.

De acordo com o professor, é interessante perceber que as mesmas características que levaram os moradores a construir casas próprias marcam o bairro colocado em segundo lugar pelo ranking do IBGE para moradias próprias: o Três Barras (90,78%). Em terceiro lugar no ranking dos que têm mais moradores com casa própria está o Lagoa Azul, com 90,36%.

Também surgido de invasões, o Três Bairros foi loteado posteriormente pela prefeitura. No início, as casas também eram de madeira ou lona e só havia uma torneira para todos os moradores tomarem banho, trabalharem na construção e fazerem os serviços de casa. Para conseguir encher os baldes e bacias de água, os moradores enfrentavam até duas horas de fila durante a madrugada.

Quem conta a história do bairro é Maria de Moura, de 55 anos, moradora do Três Barras há 17 anos, desde o loteamento da prefeitura. Dona Maria é costureira e veio do nordeste acompanhar o marido, que procurava melhorar de vida. A casa tem vários cômodos, onde moram sete pessoas.

“Deixamos nossos filhos no nordeste para começar a vida aqui. No início, morávamos em um barraco de lona. Depois, conseguimos construir duas peças e trouxemos as crianças”, lembra Maria.





Fonte: Diário de Cuiabá

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