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Sábado - 08 de Abril de 2006 às 08:28
Por: Natacha Wogel

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Os extremos estabelecidos pelo índice de alfabetização da população cuiabana demonstram um abismo entre as camadas sociais que habitam os bairros mais e menos escolarizados de Cuiabá. O Jardim das Américas, bairro nobre localizado ao lado da UFMT, tem menos que 1% de analfabetos, de acordo com o censo do IBGE de 2000. O mesmo levantamento aponta o bairro Ribeirão do Lipa como o detentor do maior número de analfabetos, pelo menos 20% de sua população, de maioria assalariada e proprietária de imóveis com apenas dois cômodos.

O fato de não saber ler e escrever parece não incomodar a lavadeira Eva Ferreira de Almeida, de 27 anos. Moradora do Ribeirão do Lipa há mais de 20 anos, Eva tem uma renda de R$ 60 mensais. Com a ajuda do marido, que é servente de pedreiro, Eva cria quatro filhos, os quais garante estarem todos na escola, o que só foi possível neste ano, porque até 2005 nenhum deles tinha registro de nascimento.

“Tenho vergonha de não saber ler e escrever e sei que a vida podia melhorar se aprendesse. Meu marido sabe ler mal-e-mal e o que eu queria mesmo era que ele ganhasse mais para gente poder fazer mais um quarto nessa casa”, conta.

Eva e sua família dormem todos em apenas um cômodo, o único de alvenaria da casa, espalhados em uma cama de casal e em colchões pelo chão. As demais partes da casa, cozinha e banheiro, são feitas de tábuas ‘arrecadas’ de obras em que o marido trabalhou.

De acordo com o presidente da Associação de Moradores do bairro, Jonail da Costa Silva, são muitos os aspectos que contribuem para que ali esteja a população menos alfabetizada da cidade. “Primeiro, só temos uma escola municipal, que até janeiro parecia mais um presídio antes de ser reformada, e não atraía ninguém. Além disso, ela só atende de 1ª a 5ª série, sem ensino noturno. Outra coisa, não existem mais, implantados aqui, projetos para alfabetização de adultos, que são a maioria dos analfabetos, porque não tem um local para que as aulas aconteçam. O bairro não tem centro comunitário. Não existe creche ou outro espaço adequado para instalar a educação. O salão da igreja é acanhado. Precisamos de um espaço de múltiplo uso”, cobra.

Segundo Silva, projetos como Letração e Brasil Alfabetizado, do governo federal, já aconteceram no Ribeirão do Lipa, mas nas residências de algumas professoras que lá vivem, sem nenhuma estrutura. “Ainda temos outro problema, para essas pessoas saírem do bairro à noite para estudar é inviável, por causa da violência. Nem os jovens estão conseguindo terminar, porque quando vão para o segundo grau, são obrigados a sair daqui e sofrem violência. De dez que ingressam na escola, só três continuam”, apontou.

Já nos Jardim das Américas, onde a população é constituída principalmente de funcionários antigos da UFMT, bem como profissionais liberais e empresários, nem as empregadas domésticas ficam sem ler e escrever. “Eu tinha uma empregada que descobri que não era alfabetizada. Na mesma hora arrumei um jeito dela ir estudar e aprender a ler e escrever, porque é inadmissível ter alguém que não saiba fazer isso num ambiente de pessoas que lidam com a Educação”, argumenta o professor doutor de da UFTM, Arnulfo Barroso, que mora desde 1998 no bairro.





Fonte: Diário de Cuiabá

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