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Internacional
Quarta - 05 de Abril de 2006 às 12:33
Por: Philip Pullella

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Um pronunciamento do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi gerou um debate nacional na Itália nesta semana. Ele utilizou palavrões para se referir aos eleitores de seu oponente nas eleições, Romano Prodi.

"Coglioni", um termo vulgar usado por Berlusconi para desabonar seus adversários, saiu dos bares e chegou às salas de estar da Itália por meio da televisão, detonando um debate nacional antes das eleições gerais do final de semana. O efeito foi semelhante ao provocado nos EUA, em 1998, quando "sexo oral" e todos os seus eufemismos tornaram-se um tópico corrente em meio ao escândalo envolvendo o então presidente Bill Clinton e a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky.

Berlusconi, durante um pronunciamento feito para um grupo de lojistas, usou a palavra "coglioni" (testículos, literalmente) para referir-se aos eleitores de centro-esquerda. Na Itália, o termo é utilizado para dizer que alguém não é muito inteligente.

As traduções comuns para "coglioni," nos dicionários, abarcam palavras como "idiota," "imbecil", "retardado" e "abestado." "Alguém pode, certamente, falar isso na esfera privada, mas não quando se está sendo filmado em público", disse James Walston, diretor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Americana de Roma.

"Se Blair (Tony Blair, primeiro-ministro da Grã-Bretanha) ou Bush (George W. Bush, presidente dos EUA) disserem que qualquer um que votar contra seus interesses é um 'estúpido', não acredito que ninguém, entre aliados ou oposicionistas, acharia que isso é apropriado", afirmou. Na boca dos âncoras

E assim a palavra "coglioni" foi repetida várias vezes no horário nobre de TV por âncoras de jornais que tentavam manter-se compenetrados e não ficar vermelhos ao pronunciar algo que ainda leva estudantes do país para a sala do diretor. A palavra saiu impressa na primeira página de quase todos os jornais italianos. Um apresentador encarregado de ler as manchetes em um canal de TV do país pediu desculpas a seus telespectadores por ter de repetir o termo àquela hora da manhã.

Na charge de um jornal de circulação nacional, um entrevistador de um instituto de pesquisa pergunta a um homem sobre sua intenção de voto afirmando: "Com licença, o senhor é um 'cogline'?"

"Esse comentário é o fundo do poço. Acho que ele ofendeu todos os italianos", disse Maurizio Caprio, enfermeiro de um hospital. Roberto Flamini, um taxista de Roma, afirmou: "Eu não fiquei ofendido. Acho que o comentário revelou mais coisas sobre ele (Berlusconi) do que sobre os italianos."

A atual campanha política, na qual a centro-direita liderada por Berlusconi enfrenta a centro-esquerda encabeçada por Romano Prodi, vem se mostrando uma das mais acirradas das últimas décadas, e insultos foram atirados pelos dois lados.

"Em certa medida, ficamos menos surpresos (com os comentários de Berlusconi) porque houve muitas declarações feitas com palavras inapropriadas", afirmou Walston. O pesquisador notou que Prodi havia classificado as declarações de Berlusconi de "balle" ("bobagens") e tinha comparado o atual premiê a um "beberrão" e o ministro da Economia do país, Giulio Tremonti, a um "delinquente".

Berlusconi, de outro lado, disse que Prodi era um "idiota útil", um "homem lamentável" e uma "fachada" para comunistas cujos companheiros na China de Mao Tsé-Tung já tinham "cozinhado bebês". Como disse o editorial de um jornal italiano na quarta-feira, o debate político no país havia descido ao nível das "discussões de caserna".





Fonte: Reuters

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