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Nacional
Segunda - 03 de Abril de 2006 às 17:40

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O rapper MV Bill, produtor do documentário Falcão - Meninos do Tráfico, em parceria com Celso Athayde, teria omitido o fato de presenciar seqüestrados em cativeiro durante as gravações do filme. A descrição das três pessoas "amarradas e encapuzadas esperando a morte chegar" está no livro que conta bastidores do documentário.

A revelação de que nunca alertaram sobre o cativeiro e que três vidas estavam ameaçadas foi feita por Athayde ontem, na coluna "Ai, que Loucura!", do jornal O Dia. Para o rapper, "o grande mérito do documentarista é não interferir na realidade filmada".

Ele diz que não estava ali "para isso". No entanto, a atitude do cantor e Athayde - que estava ao seu lado no cativeiro - foram duramente criticadas por parlamentares, criminalistas, estudiosos, e agentes de segurança pública, que vêem no ato um caso claro de omissão e descaso com a vida humana.

"Há limites", diz Cano "Acima do documentário, do trabalho importante que eles estavam fazendo, há a necessidade imperial de salvar essas vidas que, provavelmente, já se acabaram também. Nossa senhora. É uma tristeza", desabafou o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ). Já o sociólogo Ignácio Cano, membro do Laboratório de Análise da Violência e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), todo trabalho de pesquisa possui parâmetros. "Há limites e, se há pessoas que vão ser mortas, para mim esse seria o limite."

Os documentaristas ainda podem ter que se explicar na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. Segundo o presidente da comissão, José Militão (PTB-MG), uma reunião, na quarta-feira, decidirá o rumo da história. "Se uma reportagem que causa uma indignação enorme em todo o País omite um fato desse que, talvez, seja um dos mais relevantes, é lógico que a gente tem que investigar isso."

Em defesa de Bill e Athayde está o antropólogo Luiz Eduardo Soares, com quem escreveram o livro Cabeça de Porco. "Eu não acredito. Eu não acredito que tenha sido assim. Conhecendo os dois como conheço, não acredito que tenha sido assim."

Já para os parentes do jornalista Ivandel Godinho, seqüestrado em São Paulo, em outubro de 2003, e nunca resgatado, Bill cometeu um ato contra a vida humana. "Aí, dane-se a ética profissional, dane-se o furo de reportagem. Se você pode salvar a pessoa, você tem que salvar", afirma Ivens Godinho, 55, irmão do jornalista.

Para Ivens, o ser humano banalizou a violência. "Acho que se você tem condições de ajudar alguém, esteja a pessoa em qualquer situação, você tem que fazer a tua parte. Ele teve a chance, deixou passar e agora tá tentando tirar a culpa dele", explicou Ivens, que acredita que MV Bill não teria agido da mesma forma se as vítimas fossem de sua família.





Fonte: O Dia

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