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Agronegócios
Quinta - 30 de Março de 2006 às 16:49

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Uma tese de doutorado começa a pôr fim a uma crença existente na pecuária e pode ajudar na mudança de postura de muitos produtores rurais. Por três anos, o médico veterinário Heitor David Medeiros estudou e acompanhou parte do rebanho da fazenda São Marcelo, em Tangará da Serra, no médio-norte de Mato Grosso. O trabalho registrou a evolução do gado desde o nascimento, passando pelas fases de engorda e terminação, chegando ao embarque e transporte e indo até além do frigorífico. Os dois lotes estudados, 51 nelores e 86 cruzados, foram abatidos de forma precoce, com idades entre 26 e 30 meses, e produziram carnes dentro dos mais rígidos quesitos de qualidade: peso vivo, rendimento de carcaça, cobertura de gordura, maciez, cor e sabor.

É na ligação entre estes resultados e um ponto bem anterior a eles que reside o grande avanço da pesquisa: os 137 animais pesquisados nasceram e foram criados em um regime diferenciado e são ótimos exemplos de um conceito surgido da década de 80 que vem ganhando força no mercado internacional: o boi orgânico. "É possível produzir animais de 30 meses com até 16 arrobas", afirma Medeiros, que defendeu sua tese de doutorado em novembro na Universidad de Leon, na Espanha. Os principais resultados serão apresentados em Cuiabá, em maio, em uma palestra durante o XXXIII Conbravet - Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária. O evento será realizado de 7 a 12 de maio em Cuiabá (MT).

Relacionar o chamado "boi de capim" à perda de qualidade e à demora para abate não são os únicos mitos que esta tese derruba. O fator geográfico também entra em xeque. É que geralmente este conceito está associado a criações em pastagens nativas no Pantanal, mas neste caso foi diferente. Até a desmama o rebanho ficou em Juruena, região de floresta, e em seguida foi para Tangará da Serra, região de cerrado. O manejo do orgânico também se diferencia do convencional: o combate das verminoses e da mosca do chifre é feito com a menor quantidade possível de produtos. As doses são gradualmente substituídas pela rotação de pastagens, o que interfere no ciclo dos parasitas, diminui o risco de doenças e pode até gerar economia, já que o gasto com remédios é reduzido. Mas neste momento a principal preocupação não é cortar gastos. "A fitoterapia e a homeopatia estão sendo muito usadas no combate aos carrapatos. O desafio para os técnicos é deixar o mínimo de resíduos na carne", explica Medeiros.

MERCADO - A produção orgânica ainda é um grande laboratório. Não há fórmulas prontas, regras e garantia de lucro. Mas já se tem uma certeza: o "boi de capim" é cada vez mais visto com bons olhos pelo mercado internacional. "Mato Grosso tem o maior rebanho do país e o rebanho brasileiro é o maior do mundo. Imagina se daqui a pouco começam restrições de ordem ambiental e trabalhista? A competição é muito grande. Harmonizar a questão técnica com preocupação ambiental e social dará muito mais segurança ao pecuarista de que o produto dele não sofrerá restrições", alerta. As técnicas com eficácia comprovada podem ser aplicadas em qualquer propriedade. "Não defendo que tudo seja orgânico: mas que o pecuarista tenha o máximo de rigor para permanecer mais forte no mercado porque, quando surge qualquer problema, a primeira reação do consumidor é deixar de comprar aquele produto", explica. Assegurar qualidade sempre significou assegurar mercado. Ocorre agora que os quesitos que definem o que é qualidade são cada vez mais amplos: entram em questão conceitos de bem-estar animal, condições de trabalho e respeito ao meio ambiente.

MANEJO - O curral onde o rebanho fica confinado antes de embarcar, por exemplo, não deve ter frestas. Isto evita que os animais não saibam para onde ir e tenham que ser cutucados, o que gera estresse. Vendo apenas uma única luz, ele vai em direção a ela. O suporte que liga o curral ao caminhão é colocado no mesmo nível do veículo para que os animais não se assustem e tropecem. Os caminhões têm piso anti-derrapante e os motoristas recebem treinamento para não frearem bruscamente nem fazerem ziguezague. "Se ficar cutucando com varas e dando choque elétrico, perde-se todo o trabalho de nutrição, a taxa de glicose cai e isso altera o pH e muda o padrão de acidez", explica. O nível de acidez da carne é um dos fatores de qualidade. Como parte do estudo, o pH das carcaças foi medido 24 horas após o abate. Todas apresentaram índices de acordo com as margens estabelecidas para consumo, variando de 5,7 a 5,8. Já no frigorífico, a rastreabilidade do animal continua sendo feita. Uma sala de matança equipada com computadores lê os códigos de barra dos brincos e imprime etiquetas que acompanham a carne. Dessa forma, é possível saber não apenas de que lote o produto saiu, mas dá também acesso à identificação do animal e a todo o histórico de vida dele, desde quando nasceu.





Fonte: Da Assessoria Enipec

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