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Cidades/Geral
Quinta - 30 de Março de 2006 às 15:41

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“O papel da polícia na sociedade não é proporcionar segurança ao cidadão, mas defender o patrimônio público e reprimir manifestações sociais”. As palavras chocantes, mas vivenciadas pela população, embasaram o primeiro debate do ciclo de palestras “Insegurança no Campus”. O ex-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro, Hélio Luz, esteve ontem à noite na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para discutir o assunto com a comunidade universitária.

Ele veio a convite da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat), Sindicato dos Trabalhadores da UFMT (Sintuf) e Diretório Central dos Acadêmicos (DCE). Segundo Hélio Luz, a faculdade é um ambiente de reflexão, onde deve conviver a comunidade escolar. Apesar da ocorrência de furtos, diz que a presença de PMs no campus não resolve o problema da segurança. “Se a polícia atuar na UFMT, a universidade corre risco de ser deformada. Ela precisa agir fora do campus e não entre a comunidade universitária. Deve investigar e prender o receptador, pois o ladrão só furta se tiver para quem vender. Apenas uma ronda por fora do campus já inibe a presença de bandidos. Nenhuma mansão tem policial dentro dela, mas fora, na rua”. Acrescenta que a polícia tem preconceito e a universidade não é um lugar do crime.

A coordenadora do curso de Ciências Sociais, Juliana Ghisolfi, lembra que a polícia atua pelo estereótipo e, por isso, a comunidade escolar é contra a presença dela no campus. Cita o caso da prisão, em fevereiro, de um estudante dentro da UFMT. Segundo ela, a PM agiu de forma arbitrária, já que não tem jurisdição em território federal. “Os meninos estavam no Museu Rondon. A polícia estava fazendo treinamento na piscina. De repente, chegaram nos estudantes e os acusaram de ser elementos suspeitos. O estudante preso tem cabelo comprido e usa brinco”, ironiza.

Segundo o presidente da Adufmat, Carlos Eilert, o ciclo irá debater a segurança no campus com a comunidade antes da assinatura de um convênio entre polícia militar e reitoria. “O reitor tem uma minuta pronta para ser assinada que permitiria a atuação da PM no campus. Queremos discutir outras formas de aumentar a segurança na universidade”.

Durante o evento, serão debatidas propostas como a instalação de câmeras, aumento do número de funcionários da segurança, e experiências de outros campi de instituições federais onde a PM atuou. Os debates ocorrem a cada 15 dias e deve contar com apresentações de representantes da polícia militar e de professores da UFMT que possuem estudos sobre a questão.

O integrante do DCE, Maurício Ferreira, comenta que a preocupação não se restringe apenas à presença da PM no campus, já que a polícia não serve nem mesmo para a sociedade. Diz que a discussão precisa chegar à assinatura de convênios entre a universidade e empresas privadas, pois a terceirização diminui a verba pública.

Polícia é efetiva na corrupção e violência

Hélio Luz explica que, historicamente, a polícia foi criada para ser violenta e corrupta, atender o Estado e a elite. Por isso, não trata a todos como iguais perante a lei. De acordo com ele, para que ela atenda ao cidadão seria necessário não apenas transformar a instituição, mas principalmente a sociedade. Precisaria discutir também o funcionamento do Executivo, Legislativo e Judiciário.

Este debate recai sobre a atuação da polícia cidadã. Para ele, é improvável a existência dela considerando que a polícia reflete a sociedade. “Se o Estado segrega o cidadão, como a polícia será cidadã? Não há como humanizar a polícia porque ela não serve à população”.

Quando o problema é a corrupção, ele questiona se a sociedade realmente quer uma polícia ética. “Se for sim, ninguém poderá parar em local proibido porque será multado. Ninguém poderá cheirar em Ipanema e ricos serão algemados em frente às mansões e na frente de todos. A polícia não pode tocar na classe empresarial, não porque geram empregos, mas porque mantém o poder. A sociedade capitalista não suporta a polícia correta, pois isto esbarra no interesse dos poderosos. Modificar a instituição não é algo real e, se isto acontecesse, deixaria de ser a polícia”.

Pela experiência como chefe da Polícia Civil diz que a instituição é efetiva apenas quando é violenta e corrupta. Quando deixa de atender as necessidades da elite, passa a ser encarada como incompetente. Pondera ainda que o Brasil não é um país violento. Exemplo disso é a convivência de todos diante da má distribuição de renda, como a favela da Rocinha e o bairro nobre de São Conrado, no Rio.





Fonte: Pau e Prosa

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