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Quarta - 29 de Março de 2006 às 08:28
Por: Natacha Wogel

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A Polícia Civil de São José dos Quatro Marcos, na região sudoeste do Estado (a 343 quilômetros de Cuiabá), investiga o indevido armazenamento e destinação de restos mortais e fetos humanos praticados pelo Hospital Geral Doutor Guilherme Cardoso. Os materiais foram encontrados em um matagal, próximo a um campo de futebol, na periferia da cidade, pela Polícia Militar, depois de uma denúncia anônima. O delegado Mário Aravechia de Resende quer descobrir se as cirurgias que geraram os restos mortais encontrados foram feitas de forma legal.

“Foi uma cena chocante. Fomos chamados até o local, que fica dentro da cidade, por causa de uma pequena quantidade de lixo hospitalar. Dentre as demais coisas, existiam diversos frascos, tubos com vários fetos, de aproximadamente um mês de gestação. Acredito até que tinha outros pedaços de membros, como ovário e coisas do tipo. Alguns dos vidros tinha identificação e data, dos anos 2003 e 2004, inclusive com os nomes dos médicos”, relatou o delegado.

Diante da constatação, a medida tomada por Resende foi oficiar a Vigilância Sanitária (Visa) no município para fazer a verificação do que foi encontrado. Todo o material foi recolhido pela polícia para ser submetido à perícia. “Muitas peças estavam em péssimo estado de conservação. A proprietária do hospital, que já foi ouvida, alega que são oriundos de procedimentos convencionais de perdas de crianças. Com isso, pedimos para que apresente documentos que comprovem que esses restos foram tirados em procedimentos legais. Essa será nossa investigação: saber se os atos foram feitos dentro da legalidade”.

O delegado também informou que a Visa será a responsável por autuar o hospital sobre a ilegalidade de despejar lixo proveniente de procedimentos médicos em local inapropriado, mas o responsável pelo setor no município, Dejair Azambuja Martins, alegou que ainda não foi oficialmente informado sobre o fato. “Assim que recebermos qualquer documento do delegado sobre o material encontrado, vou encaminhá-lo ao nível regional da Vigilância, em Cáceres, já que nosso nível é de baixa complexidade”, comentou, informando que a orientação repassada ao hospital é para que todo o lixo hospitalar seja incinerado.

Para a proprietária do hospital, Eliane Cardoso, o fato aconteceu por azar. Segundo ela, as peças jogadas estavam armazenadas indevidamente em uma caixa dentro de um depósito da unidade sem o seu conhecimento. “Mandei fazer uma limpeza naquele depósito, local onde ficam objetos que não fazem parte do lixo hospitalar, como pedaços de madeira e prontuários velhos. No meio deles, estava uma caixa com essas peças cirúrgicas antigas, útero, ovário, quisto e dois fetos. Pedi para que meu funcionário acompanhasse o carregamento dos objetos até o lixão, feito por um ‘carrinheiro’ (carroceiro), mas ele não fez isso e acabamos não percebendo que esse material estava ali”, revelou.

Eliane já se defendeu de possíveis acusações sobre estar permitindo abortos clandestinos na unidade. “Temos 30 anos de Quatro Marcos, e se realmente estivesse praticando esse crime, eu deixaria provas? Tudo isso foi produto de aborto espontâneo e todas, peças antigas. Hoje, a prática é entregar tudo que for retirado do organismo ao paciente ou familiares. Se não quiserem, incinera-se, e é o que a gente faz”.

O próximo passo da investigação, conforme o delgado, é verificar o resultado da perícia técnica e, depois, verificar a veracidade dos documentos sobre os procedimentos cirúrgicos que geraram as peças, para então saber se houve crime ou não.





Fonte: Diário de Cuiabá

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