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Saúde
Quarta - 29 de Março de 2006 às 07:45

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Comunidade científica e produtores brasileiros estão em alerta. A pandemia (uma espécie de epidemia global) da gripe aviária pode chegar ao Brasil no segundo semestre. A previsão é feita por conta das rotas migratórias das aves que transmitem a doença e já levaram o vírus para a Ásia, Europa e África. “Não há como bloquear as rotas migratórias das aves silvestres. A gripe aviária pode não chegar ao Brasil, essa é uma possibilidade, mas temos que nos preparar, por que o problema é sério e precisa ser tratado com responsabilidade. Não podemos fazer alarde, mas também não podemos negar que o problema existe”, destaca o pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Suínos e Aves, de Curitiba (PR), Paulo Augusto Esteves. Esteves é um dos palestrantes do Encontro Internacional de Pecuária (Enipec) que acontece em Cuiabá entre os dias 7 e 12 de maio.

Paulo Esteves está preocupado com o grande alarde em torno da doença. O pesquisador teme principalmente a circulação de informações erradas que deixam a população assustada. Tanta preocupação, no entanto, é justificada. O Brasil é o maior produtor mundial de aves de corte e o problema pode sim fugir do controle das autoridades. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária (SBMV), Josélio Andrade de Moura, a situação é muito grave e pode gerar um prejuízo superior a 70 bilhões de reais.

“A chegada da gripe aviária no Brasil pode gerar um prejuízo superior a 70 bilhões, por que não somente pelos danos à produção animal, mas acima de tudo da saúde pública. Só para a compra do antiviral será necessário investimentos que vão variar de 200 a 300 milhões e não haverá medicamento suficiente. Já está passando da hora do governo agir. O tempo é agora. Estamos na base do ou se faz agora, ou cale-se para sempre”, dispara.

O pesquisador da Embrapa, Paulo Esteves, não nega que o assunto mereça muita atenção e garante que toda a comunidade científica brasileira, e mundial, está debruçada em torno de pesquisas que buscam frear a disseminação da doença, cuja transmissão ocorre de ave para ave e de ave para humanos. Casos de transmissão de humanos para humanos ainda não foram detectados, mas não estão descartados pelos especialistas, por conta da possibilidade de mutação do vírus, o que agravaria em muito o problema. “Essa situação seria muito ruim. Por isso, estamos tentando encontrar (nas pesquisas) um elo fraco para quebrar, bloquear a transmissão das aves silvestres”, explica. O pesquisador destaca que toda a cadeia produtiva deve ficar atenta. “Temos que tentar evitar o contato da ave silvestre com a ave de quintal, criada solta. Precisamos monitorar a ave da granja”, afirma.

O que o Brasil está fazendo O Governo Federal comprou 90 milhões de doses de Tamiflu, até agora o único medicamento disponível contra o vírus da gripe aviária, mas que não é 100% eficiente. O número de doses, no entanto, não é suficiente. Pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) estão fazendo pesquisas para tentar desenvolver uma vacina eficaz contra a doença.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a importação de produtos derivados de aves procedentes de países com casos confirmados de infecção pelo vírus da gripe aviária. Proibiu também o ingresso, o tráfego e a comercialização de carcaças inteiras, cortes, produtos industrializados, ovos e penas de qualquer região do mundo já infectada. Determinou ainda que seja feito um monitoramento das sobras de alimentos servidos a bordo de aviões que venham dessas regiões.

Mas na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, Josélio Moura, ainda é pouco.

“O Brasil não está preparando um programa à altura do problema e para o tamanho da avicultura nacional. As medidas ainda são pálidas”, critica. Moura chama a atenção para o fato de que ainda falta o envolvimento efetivo do setor produtivo e a articulação entre os setores de saúde animal e saúde pública.

“Este problema afeta a saúde animal em primeiro lugar. Uma vigilância deve ser ativa, o governo tem que estar monitorando a migração o monitoramento da granja”, completa o presidente da SBMV.

Como se prevenir

De acordo com o pesquisador da Embrapa, Paulo Esteves, pequenos cuidados como cercar a área onde ficam as aves, ou construir pequenos galpões são instrumentos importantes na tentativa de evitar a contaminação.

“Estamos em campanha de conscientização, buscando falar diretamente com os produtores. Temos tentado trabalhar em duas frentes: uma, informando à população que todos podem continuar se alimentando com as aves (o vírus não resiste a temperaturas superiores a 60 graus centígrados). O frango da indústria pode ser consumido sem risco. Também estamos trabalhando na orientação aos pequenos, médios e grandes produtores para minimizar os riscos”, explica.

O pesquisador da Embrapa também chama a atenção para a necessidade de disseminar as informações a respeito da doença. “Há uma grande necessidade de se fazer essa discussão em todos os espaços. É preciso discutir tanto o impacto para a agricultura, como para a saúde humana. O Enipec será uma oportunidade impar para colocarmos o tema em discussão com o setor produtivo de todo o país”, avalia.

Enipec e Conbravet debatem a gripe aviária O Encontro Internacional de Pecuária (Enipec) e o XXXVIII Conbravet (Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária trarão a Cuiabá, entre os dias sete a 12 de maio, as discussões sobre o tema, reunindo especialistas brasileiros. No dia oito de maio, durante o Enipec, o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, de Curitiba (PR), Paulo Augusto Esteves, fará um painel sobre a “Influenza Aviária”.

“Vamos abordar desde o que é o vírus, as características principais de transmissão, até um panorama mundial e as perspectivas de chegada do vírus no Brasil. Não podemos mistificar. Temos que trabalhar. Apresentar o problema, levar uma informação qualificada às pessoas e nos preparar da melhor maneira possível”, explica Esteves.

Já no dia 12 de maio, acontece a mesa redonda “Gripe Aviária: epidemiologia, medidas gerais de controle”com o doutor em Ciências Biomédicas e professor da Unicamp, Edir Nepomuceno e os debatedores Ariel Mendes, que abordará o impacto comercial e Luciano Doretto que falará sobre biologia e classificação viral.

O presidente da SBMV, Josélio Moura, cobra a presença efetiva do Governo nas discussões em torno do tema. “O Ministério tem que estar no Enipec, em todos os congressos, para entregar documentos, discutir medias, dizer o que espera do setor veterinário, do setor técnico, científico e do setor produtivo. O programa nacional tem que ser divulgado. Esta faltando coordenação. A intenção de fazer existe, mas não há nada solidificado”, alerta.

As inscrições para o Enipec e o Conbravet já estão abertas e podem ser feitas pelos sites www.enipec.com.br e www.conbravet.com.br .

MT está definindo normas para controle sanitário de aves O setor produtivo de Mato Grosso já está se articulando e buscando alternativas de se preparar para uma possível chegada da gripe aviária no Estado. O Fórum Estadual de Avicultura já está finalizando uma proposta para o controle sanitário da produção de aves de corte em Mato Grosso.

A proposta está sendo redigida em forma de projeto de lei e deverá ser votada pela Assembléia Legislativa. O projeto de lei quer disciplinar o setor, principalmente no que se refere à biossegurança da produção e a sanidade animal. A idéia é estimular o crescimento do setor no Estado dentro dos padrões exigidos pelos mercados interno e externo.

Hoje nenhum estado da Federação possui legislação que regulamente a produção de aves de corte. Mato Grosso quer sair na frente e garantir um aumento de produção dentro das normas legais e pronto para oferecer um produto de qualidade ao mercado.

A produção de frangos é uma atividade nova no Estado que, por conta de sua vocação econômica, tem todos os pré-requisitos para se tornar, nos próximos anos, um dos maiores produtores de ave do Brasil.

O Estado já é o primeiro produtor de soja e milho do Brasil, produtos essenciais dentro da cadeia produtiva das aves, já que são base para a fabricação de ração.

PRODUÇÃO – Cerca de 300 produtores atuam na avicultura no Estado. Em 2005 foram produzidas 60 milhões de cabeças em Mato Grosso, sendo que 30% deste total foi destinado à exportação. Um crescimento de 6% em relação a 2004.

Contágio A gripe é causada pelo vírus H5N1. É um tipo de influenza, o vírus responsável pela gripe comum. Tanto as aves quanto os homens se infectam, principalmente pelo contato com fezes e secreções contaminadas, pastos, estercos, rações e bebedouros que estejam infectados, ou se comerem ave doente. A contaminação também se dá pelo contato com víceras ou penas de animais infectados e também pelo ar.





Fonte: Da Assessoria Enipec

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