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Agronegócios
Terça - 28 de Março de 2006 às 09:00

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Produtores de soja de Mato Grosso entraram com mais de 30 ações judiciais contra a Bayer CropScience, braço agrícola da multinacional alemã, em que pediam indenizações por perdas devido à suposta ineficiência do fungicida Stratego, usado na prevenção à ferrugem asiática na safra 2003/4. O produto tinha sido recém-lançado.

São 20 ações em Mato Grosso, 15 em Minas Gerais e 1 em Goiás. Em Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, foi criada em outubro passado a Aplus (Associação dos Produtores Lesados pelo Uso do Stratego).

O presidente da entidade, o agrônomo Sônio Aramis dos Santos Blauth, 50, afirma que reúne ao menos 40 sojicultores. Segundo ele, o número de ações é maior e há casos também na Bahia e em Mato Grosso do Sul.

"Acreditamos que as perdas ultrapassem os R$ 150 milhões", diz Blauth. O produtor Lauro Diavan, 29, não-associado à Aplus, pediu indenização de R$ 40 milhões.

Os processos começaram em 2004, mas surgem novas ações. "Em Mato Grosso, temos 40 ações diretas contra a Bayer [que admite 20]. Há mais 12 que ainda vão entrar só por esse escritório", disse o advogado Flávio Bertin.

A Aplus e demais produtores ouvidos pela Folha citam como prova da suposta ineficiência do Stratego um estudo coordenado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na safra 2003/4, feito por 17 fundações de pesquisas e universidades.



Testes

A Embrapa reuniu em uma publicação, de abril de 2005, os resultados de testes (chamados ensaios) feitos com aplicações de fungicidas para checar a eficiência deles no controle da ferrugem asiática da soja.

O Stratego aparece com eficiência de 59% a 74%, ao lado de três produtos. Outros quatro tiveram índices de 80% a 86%, e seis tiveram desempenho acima de 90%.

A Bayer CropScience desqualifica o trabalho (leia texto nesta página), afirmando que houve aplicação em plantas com ferrugem, sendo que o Stratego só tem eficiência preventiva se usado na soja ainda sadia.

"É desculpa deles. Acho que entraram dez ensaios, e um deles aplicado quando [a planta] já tinha sintoma [estava com ferrugem], na condição em que a Bayer não recomenda. Os outros nove, não", afirmou a organizadora do estudo, Cláudia Vieira Godoy, doutora em fitopatologia da Embrapa Soja de Londrina (PR).

"Numa sumarização conjunta, isso não alterava [o resultado], pois era um ensaio entre dez. Então essas alegações deles não têm muito fundamento", diz Godoy.



Ferrugem apareceu

Outro argumento da Bayer é que os sojicultores aplicaram o Stratego de forma incorreta.

"Aplicamos o produto como a empresa recomendou, preventivamente. Quando nós terminamos a primeira aplicação, não tinha ferrugem. Uma semana depois, começou a aparecer", disse Blauth.

O produtor rural e agrônomo Sérgio da Silva Ramos, 51, também de Diamantino, mostra uma perícia judicial -feita com participação, segundo ele, de técnicos da Bayer- na qual foi relatada a perda de 24.208 sacas de soja. Ele pede na Justiça indenização de R$ 1,2 milhão.

Ramos aponta que na parte de sua lavoura onde foi usado apenas o Folicur, outro produto da Bayer, a produção foi de 59,10 sacas por hectare. Em outra parte, pulverizada preventivamente com o Stratego e depois com o Folicur, como curativo, conseguiu obter apenas 17,16 sacas por hectare. "Se é Bayer, é bom, mas não com o Stratego", ironizou Ramos.





Fonte: 24HorasNews

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