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Internacional
Sexta - 24 de Março de 2006 às 16:10

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O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, defendeu na sexta-feira um "tratado de paz, segurança e amizade" com o Paquistão por meio do qual os dois países substituiriam décadas de hostilidade por uma meta comum de progresso.

"Chegou o momento de deixar para trás as animosidades e as desconfianças do passado e de pensar no impensável, pensar em caminharmos juntos na busca do objetivo comum de acabar com a pobreza crônica, a ignorância e as doenças", afirmou Singh.

"Faço essa oferta ao povo do Paquistão neste momento histórico", disse o premiê na cidade sagrada de Amritsar, antes da inauguração de uma nova linha de ônibus ligando os dois países. "Tenho certeza de que a liderança do Paquistão irá agir de forma semelhante."

Singh disse que a Índia estava comprometida com o processo de paz, acrescentando que ele poderia gerar enormes benefícios econômicos para as populações dos dois países.

E, segundo o dirigente indiano, havia um reconhecimento cada vez maior em ambos os países de que "o terrorismo é um inimigo das sociedades civilizadas".

"O general Musharraf (Pervez Musharraf, presidente do Paquistão) adotou medidas concretas para coibir o terrorismo e eu o saúdo por isso. Mas precisamos tomar outras medidas no interesse da Índia e do Paquistão", disse Singh.

A Índia acusa o Paquistão de dar apoio a militantes islâmicos que lutam contra a presença indiana na Caxemira, região que foi objeto de duas das três guerras travadas pelos países vizinhos.

Mais de 45 mil pessoas morreram desde que se iniciou a revolta na Caxemira, em 1989, afirmam autoridades indianas.

O Paquistão recebeu bem as declarações de Singh.

"Acreditamos que esse discurso revela muitos sentimentos positivos e um reconhecimento claro da necessidade de avançarmos na questão de Jammu e Caxemira e em outras questões", disse Tasnim Aslam, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão.

A linha de ônibus ligará a cidade mais sagrada para os sikhs, Amritsar, e seu Templo Dourado a Nankana Sahib, no Paquistão, local de nascimento do fundador da religião, Guru Nanak.

Singh, que é da religião sikh, classificou a inauguração da linha como mais um passo no caminho da paz trilhado pelas duas potências nucleares rivais.

CAXEMIRA PASSO-A-PASSO

As relações entre a Índia e o Paquistão melhoraram desde o lançamento de negociações de paz em 2004. Mas poucos progressos foram feitos quando ao assunto é a disputa em torno da Caxemira.

Segundo Singh, o Paquistão cometia um erro ao condicionar a normalização das relações entre os dois países com a solução das desavenças sobre a região.

"Mas não estamos com medo de discutir Jammu e Caxemira ou de encontrar soluções pragmáticas e práticas para resolver essa questão também", disse, recomendando uma postura cautelosa.

Segundo o premiê, os dois lados deveriam abrir um diálogo com os moradores das partes da Caxemira que controlam e trabalhar a fim de permitir que a fronteira torne-se algo desimportante, através da qual as pessoas passem livremente.

"Trata-se de uma boa proposta, mas como implementá-la sem um acordo prévio a respeito da disputa em torno de Jammu e Caxemira?", perguntou Niaz A. Naik, um ex-secretário do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão.

As palavras de Singh, no entanto, foram recebidas de forma discreta na Caxemira e pelo chefe da ala moderada do grupo separatista Conferência de Todos os Partidos Hurriyat, Mirwaiz Umar Farroq.

"Se o primeiro-ministro está sendo sincero, ele deveria anunciar a desmilitarização da Caxemira, o fim das violações dos direitos humanos e uma solução para o problema segundo o desejo do povo de Jammu e Caxemira", afirmou à Reuters Farroq.

(Reportagem adicional de Sheikh Mushtaq, em Srinagar, e Zeeshan Haider, em Islamabad)





Fonte: Reuters

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