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Internacional
Sexta - 24 de Março de 2006 às 11:30

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O escândalo pela suposta oferta de cargos de honra em troca de generosas doações no qual o governista Partido Trabalhista do Reino Unido se viu envolvido deixa cada vez mais isolado o primeiro-ministro, Tony Blair.

Essa é a impressão comum dos analistas políticos de Londres, que acham que o líder do Novo Trabalhismo teve um papel central no assunto, inclusive pelas costas de muitos de seus correligionários.

O escândalo já fez sua primeira vítima, o empresário Rod Aldridge, presidente da Capita, grupo britânico de tecnologia da informação dedicado à exportação de serviços empresariais, e que nesta semana anunciou sua demissão para não prejudicar sua empresa.

Ao contrário do ocorrido com outros benfeitores que fizeram doações secretas aos trabalhistas para a campanha eleitoral do ano passado, a Aldridge não foi oferecido nenhum posto na Câmara dos Comuns.

Mas, por outro lado, segundo informações jornalísticas, o empresário, que doou cerca de 1,5 milhão de euros ao Novo Trabalhismo, conseguiu vários contratos de valor alto do Governo, alguns muito criticados por supostas deficiências na execução.

Além disso, Aldridge foi nomeado para presidir um dos principais projetos do ministro das Finanças, Gordon Brown: um serviço a favor dos jovens britânicos criado para competir diretamente com uma proposta conservadora de voluntariado juvenil.

O deputado conservador Chris Grayling formulou uma série de perguntas parlamentares sobre a estreita relação entre a empresa criada por Aldridge e o Governo de Tony Blair.

Por sua vez, o Comitê de Administração Pública da Câmara dos Comuns propôs interrogar outras personalidades que fizeram doações ao Partido Trabalhista, como Chai Patel, fundador de um grupo de clínicas privadas, e o empresário do setor imobiliário Sir David Garrard, ambos indicados para a Câmara dos Lordes.

Segundo a revista conservadora "The Spectator", o problema para Blair é que, por ter recebido esse tipo de doação secreta, o primeiro-ministro "enganou" a Comissão Eleitoral, a Comissão de Nomeações à Câmara dos Lordes e o próprio partido.

A lei sobre Partidos Políticos, Eleições e Referendos do ano 2000 estabelece que as doações anuais superiores a 8.000 euros devem ser declaradas, regra que não vale para transferências feitas nas mesmas condições do mercado de capitais.

O gabinete do primeiro-ministro nega que deveria ter declarado publicamente a doação de aproximadamente 22,5 milhões de euros concedidos ao Novo Trabalhismo por 12 empresários cujos nomes apareceram publicados em toda a imprensa depois que o escândalo veio à tona.

O problema é que, como escreve o semanário "The Spectator", "nenhum banco e nenhuma organização comercial responsável teria concedido créditos como os dados ao Partido Trabalhista, que praticamente não tinha ativos nem meios de devolver esse dinheiro".

"E muito menos teriam feito empréstimos a um juro de 2%, como supostamente fizeram alguns dos benfeitores de Tony Blair".

Por outro lado, a Comissão de Nomeações à Câmara dos Lordes estabelece que, quando indica alguém para essa câmara do Parlamento, o primeiro-ministro deve declarar todas as doações que a pessoa possa ter feito ao partido, algo que supostamente não ocorreu.

Na época do Governo conservador, o financiamento desse partido era tarefa da própria organização, e não do primeiro-ministro, o que permitiu a John Major sobreviver a vários escândalos do tipo. Mas, com Blair, ocorreu o contrário.

Segundo protestos de diversos deputados trabalhistas e até do tesoureiro do partido, o primeiro-ministro parece ter se ocupado pessoalmente de obter ajuda de seus amigos multimilionários, e pelas costas da própria formação.





Fonte: EFE

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