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Nacional
Quinta - 23 de Março de 2006 às 17:14
Por: Daniela Machado

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Representantes da indústria criticaram nesta quinta-feira a amarra imposta ao crescimento brasileiro por conta do chamado PIB potencial —uma estimativa de quanto seria possível crescer sem gerar inflação.

A avaliação do setor é de que se trata de uma "profecia auto-realizável", fazendo com que as autoridades monetárias freiem a economia sempre que a expansão se aproxima de 3 ou 3,5 por cento.

"Toda vez que começamos a crescer perto desse patamar, a economia é abatida a tiros. Com isso, (a equipe econômica) sempre vai provar que esse é mesmo o limite para o crescimento", afirmou o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Josué Gomes da Silva.

"Essa ferramenta (do produto potencial) tem suas virtudes, mas tem inúmeros defeitos se for mal utilizada. E está constrangendo o crescimento", acrescentou ele, frisando que a idéia não é relaxar o controle da inflação. Gomes da Silva, que preside o grup Coteminas, é filho do vice-presidente da República, José Alencar.

Estudo elaborado pela entidade destaca que, ao calcular o produto potencial com base em uma média do passado, o Brasil fica com projeções muito conservadoras.

"O BC pode acabar ''produzindo'' o hiato do produto que justifica sua política monetária", acrescentou Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.

O gargalo entre oferta e demanda agregada é um dos pontos mais observados pelo Banco Central ao definir a taxa de juros.

Outra crítica levantada pelo Iedi é a de que o produto potencial não leva em conta mudanças estruturais na economia, que a colocaram em um patamar mais forte.

Para Gomes de Almeida, as empresas têm uma certa flexibilidade para ampliar a produção num cenário de demanda maior mesmo que não elevem muito o investimento —o que brecaria as pressões inflacionárias indesejadas.

ESPAÇO PARA CRESCER

Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elaborada em 2005, sustenta que é possível aumentar a produção em até 57 por cento sem aumento de preços e com investimentos pontuais.

"Tem setores com menos flexibilidade, mas daí o governo pode adotar políticas mais específicas", defendeu o diretor de pesquisas econômicas da Fiesp, Paulo Francini, censurando a equipe econômica por ter pouco contato com o setor real.

"Se me perguntarem quantas vezes o BC falou com a Fiesp querendo saber sobre as condições do setor real, PIB potencial, preços... a resposta é nenhuma."

Gomes de Almeida citou que o crescimento arrefeceu no ano passado —a 2,3 por cento— pela queda do investimento e não do consumo. "Portanto, a política monetária atingiu mais o investimento", disse. "Precisamos sair dessa armadilha."

CRESCER PARA INVESTIR OU INVESTIR PARA CRESCER?

No mesmo encontro sobre o estudo do Iedi, o empresário Eugênio Staub, da Gradiente, apontou que é uma falácia a argumentação de que o país não pode crescer mais.

"Essa é uma profecia que se auto-confirma até por conta dos empresários. Porque o governo acreditando nisso (em um teto para o crescimento), os empresários também não investem porque não apostam numa expansão maior", disse.

"Outra faceta dessa falácia é que a economia não pode crescer mais porque a taxa de investimento não é maior e a taxa de investimento não é maior porque o país não cresce mais."

Segundo Staub, o setor em que atua já mostrou que é possível crescer sem inflação. "Não só houve capacidade para fazer produção a mais, como os preços caíram."

A idéia foi reforçada pelo presidente do conselho da Natura, Pedro Barreiro Passos. "Nosso setor cresce 5 a 6 por cento (em termos reais) nos últimos 10 anos e não reajustamos os preços acima do IPCA."

Passos defendeu que, se houver crescimento, haverá solução para os gargalos da economia.





Fonte: Reuters

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