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Economia
Quinta - 23 de Março de 2006 às 08:23

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A crise do campo já afeta o comércio das cidades do centro-sul do Brasil, que têm a economia local baseada no agronegócio. O declínio nas vendas das redes varejistas nessas regiões gira em torno de 20%, em média, comparado ao mesmo período de 2005. Com início da colheita da safra de grãos, os reflexos foram sentidos este mês em lojas de eletrodomésticos e móveis, revendas de veículos, imobiliárias, indústria de máquinas e até nos supermercados.

A queda no faturamento do comércio do interior não se deve apenas ao recuo da receita com os grãos que deverá encolher cerca de R$ 4 bilhões este ano, afetada especialmente pelos baixos preços da soja. Nas contas da RC Consultores, a renda agrícola de 2006 com algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo deverá somar R$ 50,2 bilhões, ante R$ 54,3 bilhões em 2005.

Também a pecuária de corte passa por uma fase de superoferta com cotações historicamente baixas, sobretudo depois da crise da febre aftosa que reduziu a renda dos pecuaristas. Mais recentemente, a retração nas exportações de frango por causa da gripe aviária e ameaças de demissões nas granjas corou o baixo astral no interior.

"Os negócios este ano estão complicados, com a gripe aviária, aftosa, o baixo preço da soja e o câmbio", resume o diretor-presidente da Citylar, Erivelto Gasques, revenda de móveis e eletrodomésticos com 100 lojas espalhadas no Centro-Oeste e Norte do País. Em Mato Grosso e Rondônia, por exemplo, onde a economia local gira em torno da soja e da pecuária e estão 67 lojas da rede, o faturamento em março está 10% menor em relação ao período de 2005. Enquanto isso, na média da empresa, as vendas cresceram 20% este mês na comparação anual.

Esse quadro é confirmado por Carlos Luciano Martins Ribeiro, diretor-superintendente das Lojas Novo Mundo, revenda de eletrodomésticos com forte atuação no Centro-Oeste. "O cenário é diferenciado", afirma o executivo. Em Goiás e Mato Grosso, por exemplo, a rede registra queda de vendas de 30% este mês ante o mesmo período de 2005, enquanto na média das 70 lojas houve um acréscimo de 25%.

"A safra é muito boa em volume, mas não em receita. Com isso, os agricultores cortaram investimentos", atesta Paulo Herrmann, diretor de Marketing para América Latina da John Deere, uma das maiores fabricantes de máquinas agrícolas. Nos tratores, a queda no número de unidades vendidas chega a 30% ante 2005, nas colheitadeiras e plantadeiras, os índices são de 50% e 70%, respectivamente.

Além de reduzir os investimentos, o sonho de trocar de carro a cada safra foi mais uma vez adiado. Na Toycar Veículos, revenda da marca Toyota em Ponta Grossa, região produtora de soja no Paraná, as vendas de carros novos caíram 40% e de usados, 50% ante 2005. "É o pior resultado em 4 anos", afirma o gerente-geral, Leonardo Soncini. Normalmente, observa, os negócios aumentam 60% na época da safra.

Também o mercado de terras está parado. No sudoeste de Goiás, onde predomina a soja, o preço do hectare caiu pela metade, de R$ 10 mil para R$ 5 mil, e praticamente não há negócios, conta Cásio Murilo de Queiróz, da Imagem Empreendimentos Imobiliários.

Há agricultores endividados por conta da safra passada que vão vender a colheita atual para quitar compromissos. Os mais capitalizados optam por manter a safra estocada e vendê-la mais para frente, na expectativa de obter preço melhor.

No noroeste do Paraná, os supermercados estão decepcionados este mês, diz Mario Braz Pinto, vice-presidente da Associação Paranaense de Supermercados. Geralmente as vendas crescem 20% nesse período, mas ainda não reagiram.





Fonte: 24HorasNews

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