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Quarta - 22 de Março de 2006 às 15:23
Por: Lorenzão Falcão

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Ele nasceu em Santa Catarina em 1952, mas está radicado em Curitiba há mais de 30 anos, onde é professor universitário. Embora tenha começado sua trajetória escrevendo para teatro, Cristóvão Tezza firma-se como um dos mais notáveis romancistas da literatura brasileira atual, com onze títulos publicados nesse gênero.

O conjunto de sua obra inclui títulos de não ficção, didáticos, contos e crítica, além da participação em antologias. Tezza, que esteve em Cuiabá há aproximadamente três anos, participando de um evento literário, será um dos destaques da Literamérica 2006, com presença já confirmada. O autor tem um site pessoal (www.cristovaotezza.com.br ) onde os interessados poderão saber tudo ou quase isso a seu respeito e em torno da sua vasta obra.

Na rápida entrevista abaixo, concedida por e-mail, segue um aperitivo a respeito do Cristóvão Tezza que o público mato-grossense vai conhecer em setembro próximo.

Assessoria/Literamérica: Curitiba vem revelando grandes talentos da literatura brasileira contemporânea nas últimas décadas. Tem o Dalton Trevisan, o Paulo Leminski... e o Cristóvão Tezza que, apesar de não ser curitibano de nascença, tem pelo menos um ‘rolo’ com essa cidade. Você diria que Curitiba é uma cidade inspiradora?

Cristóvão Tezza: Difícil dizer. De um certo modo, pode-se considerar Curitiba uma cidade “desinspiradora”, porque afinal aqui não acontece nada, e o que acontece parece que está sempre “fora do eixo”, em todos os sentidos. Mas talvez seja essa a qualidade central de Curitiba: o seu silêncio, a sua atmosfera discretamente hostil, esse jeitão que vai se impregnando nas pessoas ao longo dos anos. De tal modo que não consigo mais me imaginar em outro lugar.

Você foi rotulado numa entrevista como colecionador de prêmios. De fato, seu último romance “O fotógrafo”, abocanhou dois dos mais importantes prêmios de língua portuguesa: os prêmios da Academia Brasileira de Letras e o da Revista Bravo! de melhor livro do ano. Além disso, recebeu um prêmio Jabuti (3º lugar) e esteve em todas as listas de finalistas dos principais concursos. Você chegou a imaginar que essa obra teria uma recepção tão calorosa? A que atribui isso?

Não, não imaginei. A recepção dos livros é sempre um mistério. Lembro, por exemplo, do impacto da edição de “Trapo”, em 1988, que me lançou nacionalmente – e levei 6 anos para conseguir publicá-lo. Outro livro meu – “Breve espaço entre cor e sombra” – ganhou o prêmio da Biblioteca Nacional e foi um sucesso de crítica, mas vendeu pouquíssimo e foi pouco lido. Já “O fotógrafo” está tendo uma recepção muito boa também por parte dos leitores. Não sei como funciona essa química.

Sua idéia em torno do ofício de escrever é bastante peculiar. Você já mencionou o fato de que o escritor faz algo que ninguém pediu para ele fazer. Poderia se estender sobre esse conceito?

A arte, em geral, é uma atividade não solicitada socialmente – embora em algumas áreas, como a música, movimente bilhões. Isto é, não há “cursos” oficiais para o artista, não se coloca uma “carreira”, como a de médico, advogado, engenheiro. O impulso de escrever é absolutamente individual, solitário, intransferível. Há mesmo uma resistência social a esse trabalho – se uma criança disser que quer ser “poeta” quando crescer, os pais se preocupam, é claro. Mas isso é muito bom – é a nossa liberdade. Escrever ficção é um exercício de liberdade, e uma atividade que jamais poderá se oficializar. E é um risco: absolutamente nada e ninguém garante que o que você faz tem algum valor. Assim, é preciso que se agüente o tranco, o que nos coloca a dimensão ética do ato de escrever, a escrita como uma escolha sem volta.

Outra frase sua, “a relação ética do escritor com o ato de escrever talvez tenha de ser renovada” também causa um certo impacto negativo em relação a literatura contemporânea. Poderia explicar melhor isso?

Não me lembro do contexto, mas a idéia central é o fato de que o ritmo vertiginoso da produção contemporânea de mercadorias (o que em muitos sentidos é uma coisa muito boa) parece que contaminou também o ato de escrever. Escreve-se demais, em toda parte; há parece que uma pressa insana de publicação. A literatura não precisa entrar nesse jogo – ela sempre foi, e deve ser, uma arte lenta.

Vamos mudar o foco da nossa entrevista para a Literamérica, evento que está trazendo o Tezza, pela segunda vez, a Cuiabá. O que você gostaria de dizer sobre a literatura sul-americana, e aproveito para lembrar uma frase do poeta equatoriano, Edwin Madrid, que esteve na Literamérica do ano passado: “os escritores sul-americanos estão de costas uns para os outros”?

A literatura sul-americana deveria, de fato, ser uma referência para qualquer escritor brasileiro, mesmo que, por uma estranha tradição, nossos olhos estejam muito mais voltados para a Europa. A diferença da língua deve ter pesado um pouco, mas não explica tudo. Parece que a nossa insatisfação atávica com a própria realidade, uma realidade que nunca nos ajudou muito, nos leve a esse distanciamento.

O imaginário da nossa história é triste: golpes de Estado, militarismo, miséria, corrupção, tráfico, tortura, abismo social e uma renitente pobreza. É verdade: conhecemos muito pouco da literatura da América do Sul, e imagino que os outros países também conheçam pouco da nossa. Mesmo assim, alguns escritores marcaram algumas linhas da literatura brasileira. Para nós, os nomes de Cortázar, Borges, Vargas Llosa e Garcia Márquez são referências inevitáveis.





Fonte: Assessoria/Literamérica

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