Repórter News - reporternews.com.br
Marília Pêra reafirma condição de diva da teledramaturgia brasileira
Marília Pêra é nome certo em qualquer lista que reúne as maiores atrizes do Brasil. Na pele da primeira-dama Sarah Kubitschek, na minissérie JK, ela mais uma vez justifica sua condição de diva da teledramaturgia brasileira. Segundo a atriz, o papel de Dona Sarah não foi dos mais fáceis de sua carreira. Primeiro porque, para ela, nunca é fácil interpretar uma pessoa que realmente existiu - e tão recentemente. Depois porque, de acordo com a atriz, a personagem passou por um processo de "endurecimento" ao longo da vida, o que precisava ser retratado.
Feliz com o resultado do trabalho, ela considera a produção um sucesso. "JK é uma minissérie que prima pela elegância. Isso se deve ao Dennis Carvalho e à Maria Adelaide Amaral, que são pessoas elegantes", derrete-se.
Ao longo de mais de 40 anos de carreira, Marília coleciona tipos os mais diversos. Alguns deles acabaram por celebrizar a atriz. É o caso de Rafaela Alvaray, da novela Brega & Chique, de 1987. Se na trama de Cassiano Gabus Mendes ela esbanjava sua veia cômica, nas minisséries Quem Ama Não Mata, de 1982, e O Primo Basílio, de 1988, Marília expôs sua igualmente competente face dramática. Para a atriz, mais do que o sucesso, o que vale é o carinho e o respeito dos profissionais que cercam todo o trabalho. "Eu conheço todo mundo na Globo, do contra-regra ao diretor. Meu contrato foi um dos primeiros. Posso dizer que inaugurei a emissora, em 1965", gaba-se.
Fora da televisão, a carreira de Marília Pêra sempre foi tão ou mais profícua. No cinema, a atriz esteve presente em produções consagradas como Pixote, a Lei do Mais Fraco e Central do Brasil. O teatro, seu "habitat" natural, também sempre reservou grandes personagens para a atriz, especialmente em musicais. No palco, ela já deu vida a Coco Chanel, Dalva de Oliveira e Carmem Miranda, a quem já interpreta há mais de 30 anos. "A primeira vez que eu interpretei a Carmem Miranda no teatro foi em 1972. E hoje continuo cantando nos tons originais", orgulha-se. Leia a seguir a entrevista com a atriz:
P - Que avaliação você faz de JK e da sua participação na minissérie? R - Foi um convite que partiu da Maria Adelaide Amaral e do Dennis Carvalho. Eu já tinha participado dos dois últimos capítulos de Os Maias, da Maria Adelaide. Conheço bem o jeito de escrever da Maria Adelaide, mas é sempre surpreendente o trabalho de pesquisa que ela faz. É uma loucura o que essa mulher sabe quando resolve mergulhar num personagem. Eu não conhecia a história do Juscelino e muito menos conhecia a história de Dona Sarah. E a produção de JK também foi impecável. A cenografia é belíssima, a direção de arte, a iluminação é uma maravilha. O figurino, a equipe de maquiagem e cabeleireiro, os câmeras. É muito difícil numa obra você conseguir essa harmonia.
P - Essa harmonia se reflete no resultado do trabalho? R - Sim. Foi um privilégio fazer a Dona Sarah, uma mulher determinada, discreta e muito elegante, de alma elegante. Uma mulher que sabia se comportar muito bem publicamente. Então, eu pensei todo o tempo nessa elegância da Dona Sarah, a elegância do caráter, que se reflete na elegância formal, da moda. Ela foi uma mulher ligada à moda. Da mesma forma, o Dennis, a Maria Adelaide e o restante da equipe de produção são pessoas muito elegantes mesmo. Acho que eu nunca trabalhei numa obra em que as pessoas se preocupassem tanto com o bem-estar do outro. Isso se reflete na obra. Todo mundo diz que é uma obra imperdível, que a minissérie é chiquérrima, que todo mundo quer ver, que é linda...
P - Existe uma responsabilidade maior em interpretar uma figura histórica como a Dona Sarah?
R - É sempre difícil interpretar alguém que existiu. Quem a conheceu tem a Dona Sarah na cabeça. E ninguém é de um jeito só. Quando jovem, ela era muito elegante, doce, apaixonada por ele. Já no final da vida, ela era uma mulher extremamente dura. Ela foi uma mulher que passou por problemas seríssimos. A dificuldade de ter uma única filha, que veio muito doente, que morreu antes dela. Tinha um marido extremamente sedutor, inteligente, mas que sofria um assédio... E ela não podia dar um escândalo público e acabar com aquilo, tinha de ficar na intimidade. Foi uma mulher que se reprimiu muito e, já no fim da vida, tinha alguns ¿calos¿ para suportar aquela carga. A Dona Sarah foi dura, mas também foi doce, foi amorosa.
P - Numa trama histórica, existe uma preocupação com a veracidade dos fatos, ou isso cabe aos autores?
R - Autores inteligentes, como são a Maria Adelaide Amaral e o Alcydes Nogueira, conhecem profundamente os fatos mas usam mão da poesia para romancear. Muita coisa em JK foi romanceada. A personagem da Letícia Sabatella, a Marisa, por exemplo, simboliza as várias mulheres que possam ter passado pela vida dele. O autor se dá essa liberdade. Eu não quis interpretar a Dona Sarah dura e determinada desde o começo. Quis ir aos poucos. E ela vai terminar extremamente dura. Eu me dei essa liberdade. Como era a Dona Sarah? Publicamente ela era muito doce com as crianças, com os pobres, era preocupada com o social. Há quem diga que ela era um "cão". Mas por que fazê-la de um jeito só?
P - Como foi a pesquisa para o papel? Você chegou a conversar com parentes da Dona Sarah?
R - Eu li tudo o que foi possível. Mas há pouca coisa sobre a Dona Sarah. Quem me falou mais sobre ela foi sua filha, Maristela, e suas netas, lá em Brasília. A Maria Adelaide também. A Emília Duncan, figurinista da série, me trouxe umas fotos que eu não conhecia, onde ela aparece muito elegante. Ela se preocupava com a etiqueta, fez aulas de etiqueta. E tinha berço. Dona Sarah veio de uma família de gente muito bem educada. Eu me encontrei com a Emília Duncan muitas vezes antes de começar a gravar. Ela me trouxe fotos, filmes, sugestões, roupas que ela conseguiu em antiquários e a gente experimentou. Trocamos muitas idéias, fizemos muitas provas de roupa.
P - Como foi a transição da primeira para a segunda fase da minissérie? Trocou impressões com a Débora Falabella sobre a personagem?
R - Eu conversei com a Débora Falabella e assisti a todos os capítulos. Acho que a Débora me entregou muito bem a bola. Defendeu muito bem a Dona Sarah. Ela fez uma Dona Sarah bem jovem mesmo, uma mulher que tinha uma determinação, mas uma determinação de menina. E eu precisava seguir com essa determinação de mulher. Nos primeiros capítulos, logo que eu entrei, eu procurei imitá-la. Tentei pegar uns gestos dela, um jeito de falar, para que houvesse essa transição sem grandes choques. Mas depois esqueci isso. Mas ela fez muito bem a primeira parte.
P - Você tem preferência pelo formato de minissérie, que em geral prima por um maior cuidado artístico?
R - Não. Acho que quando o autor é bom, ele é bom num trabalho que dure quatro ou oito meses. Agora eu vou voltar a trabalhar com o João Emanuel Carneiro, em Cobras e Lagartos. Já tinha trabalhado com ele em Central do Brasil. O interessante na minissérie é que é uma obra fechada, você sabe o que vai acontecer com o seu personagem. Em uma novela, que é uma obra aberta, o personagem pode se transformar em qualquer coisa. Depende muito, porque o próprio olho do público modifica o personagem.
P - Você já fez várias personagens reais. Gosta desses tipos ou isso simplesmente acontece?
R - Acontece. Eu não planejo as coisas. Sempre tive paixão por Maria Calas. Tinha loucura por ela, ouvia tudo dela, assistia aos documentários, nunca poderia imaginar que um dia a interpretaria. Com relação à Chanel eu também nunca imaginei... Mademoiselle Chanel é um texto que a Maria Adelaide escreveu há 16 anos. O texto rodou pelas mãos de mais de dez atrizes, que não fizeram. E o texto veio para mim por acaso. Para fazer a Dalva de Oliveira, eu também fui convidada. O mesmo com relação à Carmem Miranda. Sempre que faço, eu sou convidada. É por acaso. A peça sobre Carmem Miranda volta agora. A gente parou por duas semanas porque não dá para gravar o dia inteiro e cantar 40 músicas à noite...
P - Como é ser uma diva? Você se vê assim e percebe que as pessoas te tratam como tal?
R - Eu não sei... Eu tenho em mim uma menina. Sou do Rio Comprido, apesar de ser de uma família de teatro, eu sou uma menina de subúrbio. Guardo em mim uma alegria de viver, uma paixão pela profissão, um real interesse pelo próximo, uma alegria de conhecer pessoas novas. Então, se alguém me aborda de forma mais respeitosa, não é que eu vá quebrar essa imagem imediatamente, mas em seguida eu vou quebrar. Porque eu tenho humor, não me levo muito a sério. Eu não sei bem como é essa história da diva. Talvez seja porque eu faço muitas divas... Bom, eu devo também ser uma diva, mas acho que a minha menina é mais forte, é mais brincalhona... Agora, respeito pelo seu trabalho é algo sempre bem-vindo.
Sem horário nobre Com mais de 40 anos de carreira na televisão, Marília Pêra pode se gabar de já ter feito praticamente de tudo um pouco. A atriz já fez drama na minissérie Quem Ama Não Mata, já esteve em adaptações de clássicos da literatura como O Primo Basílio e integrou o elenco de novelas mais descontraídas como Brega & Chique. Não por acaso, duas dessas produções estão entre as que Marília cita como as mais marcantes de sua carreira. "É tanto trabalho que a gente até esquece. Mas dos trabalhos que fiz na tevê, eu citaria Brega & Chique e O Primo Basílio", enumera.
A trajetória de Marília Pêra na tevê inclui de minisséries a novelas, passando por humorísticos como Planeta dos Homens e seriados como Brava Gente. Apesar do vasto currículo e do talento que a faz ser considerada uma das maiores atrizes do país, Marília ainda não fez tudo o que gostaria na televisão. Curiosamente, a atriz garante que jamais esteve em uma novela das oito. "Eu nunca fiz uma novela das oito! Já fiz várias novelas das sete, já fiz até novela das dez, mas nunca me deixaram fazer uma novela das oito!", brinca.
Música que vem do berço Além da paixão que diz ter pela profissão de atriz, Marília Pêra garante ser fascinada por uma outra forma de expressão artística: a música. Sua relação com as melodias e harmonias vem desde pequena. Seu pai era músico. Tocava piano, violão, violino e acordeon. Influenciada por ele, Marília começou a estudar piano aos 4 anos de idade. "Eu tenho essa forte ligação com a música, é de berço", avalia.
A familiaridade com a música acabou, anos mais tarde, sendo mais um suporte para a carreira da atriz. Em meados da década de 1960, Marília começou a se interessar por musicais. De tanto perder a voz por utilizá-la inadequadamente, ela percebeu que não bastava gostar, era preciso dominar a técnica vocal.
"A partir daí passei a fazer aulas de canto. Desde então, já tive mais de 30 professores e aprendi muito com essas pessoas maravilhosas", recorda. Com o domínio da técnica, veio também a oportunidade de estrelar musicais sobre a vida de cantoras como Carmem Miranda e Dalva de Oliveira. "É um prazer mesclar interpretação e canto. E a tecitura da minha voz é aguda, fica confortável cantar as músicas dessas cantoras", destaca.
Trajetória Televisiva Rosinha do Sobrado (Globo, 1965) - Rosinha A Moreninha (Globo, 1965) - Carolina Padre Tião (Globo, 1965) Um Rosto de Mulher (Globo, 1966) Beto Rockfeller (Tupi, 1968) - Manoela Super Plá (Tupi, 1969) - Joana Martini O Cafona (Globo, 1971) - Shirley Sexy Bandeira 2 (Globo, 1971) - Noeli Uma Rosa Com Amor (Globo, 1972) - Serafina Rosa Petrone SuperManoela (Globo, 1974) - Manoela Planeta dos Homens (Globo, 1976) Quem Ama Não Mata (Globo, 1982) - Alice Brega & Chique (Globo, 1987) - Rafaela Alvaray O Primo Basílio (Globo, 1988) - Juliana Couceiro Tavira Top Model (Globo, 1989) - Suzana Lua Cheia de Amor (Globo, 1990) - Genu Miranda Incidente em Antares (Globo, 1994) - Erotildes O Campeão (Band, 1996) - Elizabeth Caldeira Mandacaru (Manchete, 1997) - Isadora Meu Bem-Querer (Globo, 1998) - Custódia Alves Serrão Garotas do Programa (Globo, 2000) Brava Gente (Globo, 2000) - Amélia Os Maias (Globo, 2001) - Maria Monforte Começar de Novo (Globo, 2004) - Janis Doidona JK (Globo, 2006) - Sarah Kubitschek
Feliz com o resultado do trabalho, ela considera a produção um sucesso. "JK é uma minissérie que prima pela elegância. Isso se deve ao Dennis Carvalho e à Maria Adelaide Amaral, que são pessoas elegantes", derrete-se.
Ao longo de mais de 40 anos de carreira, Marília coleciona tipos os mais diversos. Alguns deles acabaram por celebrizar a atriz. É o caso de Rafaela Alvaray, da novela Brega & Chique, de 1987. Se na trama de Cassiano Gabus Mendes ela esbanjava sua veia cômica, nas minisséries Quem Ama Não Mata, de 1982, e O Primo Basílio, de 1988, Marília expôs sua igualmente competente face dramática. Para a atriz, mais do que o sucesso, o que vale é o carinho e o respeito dos profissionais que cercam todo o trabalho. "Eu conheço todo mundo na Globo, do contra-regra ao diretor. Meu contrato foi um dos primeiros. Posso dizer que inaugurei a emissora, em 1965", gaba-se.
Fora da televisão, a carreira de Marília Pêra sempre foi tão ou mais profícua. No cinema, a atriz esteve presente em produções consagradas como Pixote, a Lei do Mais Fraco e Central do Brasil. O teatro, seu "habitat" natural, também sempre reservou grandes personagens para a atriz, especialmente em musicais. No palco, ela já deu vida a Coco Chanel, Dalva de Oliveira e Carmem Miranda, a quem já interpreta há mais de 30 anos. "A primeira vez que eu interpretei a Carmem Miranda no teatro foi em 1972. E hoje continuo cantando nos tons originais", orgulha-se. Leia a seguir a entrevista com a atriz:
P - Que avaliação você faz de JK e da sua participação na minissérie? R - Foi um convite que partiu da Maria Adelaide Amaral e do Dennis Carvalho. Eu já tinha participado dos dois últimos capítulos de Os Maias, da Maria Adelaide. Conheço bem o jeito de escrever da Maria Adelaide, mas é sempre surpreendente o trabalho de pesquisa que ela faz. É uma loucura o que essa mulher sabe quando resolve mergulhar num personagem. Eu não conhecia a história do Juscelino e muito menos conhecia a história de Dona Sarah. E a produção de JK também foi impecável. A cenografia é belíssima, a direção de arte, a iluminação é uma maravilha. O figurino, a equipe de maquiagem e cabeleireiro, os câmeras. É muito difícil numa obra você conseguir essa harmonia.
P - Essa harmonia se reflete no resultado do trabalho? R - Sim. Foi um privilégio fazer a Dona Sarah, uma mulher determinada, discreta e muito elegante, de alma elegante. Uma mulher que sabia se comportar muito bem publicamente. Então, eu pensei todo o tempo nessa elegância da Dona Sarah, a elegância do caráter, que se reflete na elegância formal, da moda. Ela foi uma mulher ligada à moda. Da mesma forma, o Dennis, a Maria Adelaide e o restante da equipe de produção são pessoas muito elegantes mesmo. Acho que eu nunca trabalhei numa obra em que as pessoas se preocupassem tanto com o bem-estar do outro. Isso se reflete na obra. Todo mundo diz que é uma obra imperdível, que a minissérie é chiquérrima, que todo mundo quer ver, que é linda...
P - Existe uma responsabilidade maior em interpretar uma figura histórica como a Dona Sarah?
R - É sempre difícil interpretar alguém que existiu. Quem a conheceu tem a Dona Sarah na cabeça. E ninguém é de um jeito só. Quando jovem, ela era muito elegante, doce, apaixonada por ele. Já no final da vida, ela era uma mulher extremamente dura. Ela foi uma mulher que passou por problemas seríssimos. A dificuldade de ter uma única filha, que veio muito doente, que morreu antes dela. Tinha um marido extremamente sedutor, inteligente, mas que sofria um assédio... E ela não podia dar um escândalo público e acabar com aquilo, tinha de ficar na intimidade. Foi uma mulher que se reprimiu muito e, já no fim da vida, tinha alguns ¿calos¿ para suportar aquela carga. A Dona Sarah foi dura, mas também foi doce, foi amorosa.
P - Numa trama histórica, existe uma preocupação com a veracidade dos fatos, ou isso cabe aos autores?
R - Autores inteligentes, como são a Maria Adelaide Amaral e o Alcydes Nogueira, conhecem profundamente os fatos mas usam mão da poesia para romancear. Muita coisa em JK foi romanceada. A personagem da Letícia Sabatella, a Marisa, por exemplo, simboliza as várias mulheres que possam ter passado pela vida dele. O autor se dá essa liberdade. Eu não quis interpretar a Dona Sarah dura e determinada desde o começo. Quis ir aos poucos. E ela vai terminar extremamente dura. Eu me dei essa liberdade. Como era a Dona Sarah? Publicamente ela era muito doce com as crianças, com os pobres, era preocupada com o social. Há quem diga que ela era um "cão". Mas por que fazê-la de um jeito só?
P - Como foi a pesquisa para o papel? Você chegou a conversar com parentes da Dona Sarah?
R - Eu li tudo o que foi possível. Mas há pouca coisa sobre a Dona Sarah. Quem me falou mais sobre ela foi sua filha, Maristela, e suas netas, lá em Brasília. A Maria Adelaide também. A Emília Duncan, figurinista da série, me trouxe umas fotos que eu não conhecia, onde ela aparece muito elegante. Ela se preocupava com a etiqueta, fez aulas de etiqueta. E tinha berço. Dona Sarah veio de uma família de gente muito bem educada. Eu me encontrei com a Emília Duncan muitas vezes antes de começar a gravar. Ela me trouxe fotos, filmes, sugestões, roupas que ela conseguiu em antiquários e a gente experimentou. Trocamos muitas idéias, fizemos muitas provas de roupa.
P - Como foi a transição da primeira para a segunda fase da minissérie? Trocou impressões com a Débora Falabella sobre a personagem?
R - Eu conversei com a Débora Falabella e assisti a todos os capítulos. Acho que a Débora me entregou muito bem a bola. Defendeu muito bem a Dona Sarah. Ela fez uma Dona Sarah bem jovem mesmo, uma mulher que tinha uma determinação, mas uma determinação de menina. E eu precisava seguir com essa determinação de mulher. Nos primeiros capítulos, logo que eu entrei, eu procurei imitá-la. Tentei pegar uns gestos dela, um jeito de falar, para que houvesse essa transição sem grandes choques. Mas depois esqueci isso. Mas ela fez muito bem a primeira parte.
P - Você tem preferência pelo formato de minissérie, que em geral prima por um maior cuidado artístico?
R - Não. Acho que quando o autor é bom, ele é bom num trabalho que dure quatro ou oito meses. Agora eu vou voltar a trabalhar com o João Emanuel Carneiro, em Cobras e Lagartos. Já tinha trabalhado com ele em Central do Brasil. O interessante na minissérie é que é uma obra fechada, você sabe o que vai acontecer com o seu personagem. Em uma novela, que é uma obra aberta, o personagem pode se transformar em qualquer coisa. Depende muito, porque o próprio olho do público modifica o personagem.
P - Você já fez várias personagens reais. Gosta desses tipos ou isso simplesmente acontece?
R - Acontece. Eu não planejo as coisas. Sempre tive paixão por Maria Calas. Tinha loucura por ela, ouvia tudo dela, assistia aos documentários, nunca poderia imaginar que um dia a interpretaria. Com relação à Chanel eu também nunca imaginei... Mademoiselle Chanel é um texto que a Maria Adelaide escreveu há 16 anos. O texto rodou pelas mãos de mais de dez atrizes, que não fizeram. E o texto veio para mim por acaso. Para fazer a Dalva de Oliveira, eu também fui convidada. O mesmo com relação à Carmem Miranda. Sempre que faço, eu sou convidada. É por acaso. A peça sobre Carmem Miranda volta agora. A gente parou por duas semanas porque não dá para gravar o dia inteiro e cantar 40 músicas à noite...
P - Como é ser uma diva? Você se vê assim e percebe que as pessoas te tratam como tal?
R - Eu não sei... Eu tenho em mim uma menina. Sou do Rio Comprido, apesar de ser de uma família de teatro, eu sou uma menina de subúrbio. Guardo em mim uma alegria de viver, uma paixão pela profissão, um real interesse pelo próximo, uma alegria de conhecer pessoas novas. Então, se alguém me aborda de forma mais respeitosa, não é que eu vá quebrar essa imagem imediatamente, mas em seguida eu vou quebrar. Porque eu tenho humor, não me levo muito a sério. Eu não sei bem como é essa história da diva. Talvez seja porque eu faço muitas divas... Bom, eu devo também ser uma diva, mas acho que a minha menina é mais forte, é mais brincalhona... Agora, respeito pelo seu trabalho é algo sempre bem-vindo.
Sem horário nobre Com mais de 40 anos de carreira na televisão, Marília Pêra pode se gabar de já ter feito praticamente de tudo um pouco. A atriz já fez drama na minissérie Quem Ama Não Mata, já esteve em adaptações de clássicos da literatura como O Primo Basílio e integrou o elenco de novelas mais descontraídas como Brega & Chique. Não por acaso, duas dessas produções estão entre as que Marília cita como as mais marcantes de sua carreira. "É tanto trabalho que a gente até esquece. Mas dos trabalhos que fiz na tevê, eu citaria Brega & Chique e O Primo Basílio", enumera.
A trajetória de Marília Pêra na tevê inclui de minisséries a novelas, passando por humorísticos como Planeta dos Homens e seriados como Brava Gente. Apesar do vasto currículo e do talento que a faz ser considerada uma das maiores atrizes do país, Marília ainda não fez tudo o que gostaria na televisão. Curiosamente, a atriz garante que jamais esteve em uma novela das oito. "Eu nunca fiz uma novela das oito! Já fiz várias novelas das sete, já fiz até novela das dez, mas nunca me deixaram fazer uma novela das oito!", brinca.
Música que vem do berço Além da paixão que diz ter pela profissão de atriz, Marília Pêra garante ser fascinada por uma outra forma de expressão artística: a música. Sua relação com as melodias e harmonias vem desde pequena. Seu pai era músico. Tocava piano, violão, violino e acordeon. Influenciada por ele, Marília começou a estudar piano aos 4 anos de idade. "Eu tenho essa forte ligação com a música, é de berço", avalia.
A familiaridade com a música acabou, anos mais tarde, sendo mais um suporte para a carreira da atriz. Em meados da década de 1960, Marília começou a se interessar por musicais. De tanto perder a voz por utilizá-la inadequadamente, ela percebeu que não bastava gostar, era preciso dominar a técnica vocal.
"A partir daí passei a fazer aulas de canto. Desde então, já tive mais de 30 professores e aprendi muito com essas pessoas maravilhosas", recorda. Com o domínio da técnica, veio também a oportunidade de estrelar musicais sobre a vida de cantoras como Carmem Miranda e Dalva de Oliveira. "É um prazer mesclar interpretação e canto. E a tecitura da minha voz é aguda, fica confortável cantar as músicas dessas cantoras", destaca.
Trajetória Televisiva Rosinha do Sobrado (Globo, 1965) - Rosinha A Moreninha (Globo, 1965) - Carolina Padre Tião (Globo, 1965) Um Rosto de Mulher (Globo, 1966) Beto Rockfeller (Tupi, 1968) - Manoela Super Plá (Tupi, 1969) - Joana Martini O Cafona (Globo, 1971) - Shirley Sexy Bandeira 2 (Globo, 1971) - Noeli Uma Rosa Com Amor (Globo, 1972) - Serafina Rosa Petrone SuperManoela (Globo, 1974) - Manoela Planeta dos Homens (Globo, 1976) Quem Ama Não Mata (Globo, 1982) - Alice Brega & Chique (Globo, 1987) - Rafaela Alvaray O Primo Basílio (Globo, 1988) - Juliana Couceiro Tavira Top Model (Globo, 1989) - Suzana Lua Cheia de Amor (Globo, 1990) - Genu Miranda Incidente em Antares (Globo, 1994) - Erotildes O Campeão (Band, 1996) - Elizabeth Caldeira Mandacaru (Manchete, 1997) - Isadora Meu Bem-Querer (Globo, 1998) - Custódia Alves Serrão Garotas do Programa (Globo, 2000) Brava Gente (Globo, 2000) - Amélia Os Maias (Globo, 2001) - Maria Monforte Começar de Novo (Globo, 2004) - Janis Doidona JK (Globo, 2006) - Sarah Kubitschek
Fonte:
TV press
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/311669/visualizar/
Comentários