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Internacional
Sexta - 17 de Março de 2006 às 17:25

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CLICHY-SOUS-BOIS, França - Enquanto estudantes por toda a França se mobilizam em protestos e enfrentam a polícia contra o novo projeto de lei trabalhista, a vida de jovens descendentes de imigrantes africanos segue normalmente nos subúrbios pobres das grandes metrópoles, onde se iniciaram as ondas de revoltas do ano passado.

Desta vez, os subúrbios mantiveram relativa calma, e foram protestos de estudantes de Paris e outras cidades que queimaram carros e jogaram pedras contra policiais.

O primeiro-ministro Dominique de Villepin tinha os jovens desempregados de subúrbios como Clichy-sous-Bois em mente quando propôs o Contrato Primeiro Emprego (CPE). Com o CPE, ele pretende facilitar contratações e demissões de jovens trabalhadores por companhias, e encontrar um remédio para os altos índices de desemprego entre os jovens. A série de distúrbios que duraram cerca de 20 dias na França no ano passado teve seu início em Clichy-sous-Bois, depois que dois adolescentes morreram eletrocutados enquanto se escondiam da polícia numa sub-estação elétrica.

O CPE prevê que empresas podem demitir funcionários com menos de dois anos de casa sem explicar as razões e sem pagar benefícios. "Este contrato significa dois anos de ansiedade", disse Mohammed, 20, entre lances de futebol em Clichy-sous-Bois.

Outro trabalhador desempregado, que quis se identificar apenas como Mourad, 26, classificou a lei como uma forma de se despejar mais jovens para fora do mercado de trabalho. Ele não quis dar o seu sobrenome, pois disse temer represálias da polícia ou desagradar parentes.

"Nós concordamos com os estudantes", disse Mourad, que passou o último ano na prisão por traficar um passaporte roubado, denúncia que ele nega. "Mas se nos juntarmos a eles, com ou sem pele escura, os policiais irão nos massacrar".

"Nós tivemos uma crise nos subúrbios meses atrás. A taxa de desemprego dos jovens desses subúrbios vai de 40 a 50%, e o que dizemos a eles? Essa é a questão que devemos responder", disse Villepin para defender o projeto.

Porém, a mensagem não está chegando lá. Os jovens não esperam qualquer resultado com o contrato, e insistem que isto não resolverá o real problema deles: descriminação por serem, em sua maioria, descendentes de imigrantes e por morarem em subúrbios problemáticos.

A vida dos jovens do subúrbio de Clichy-sous-Bois está há um mundo de distância da vida levada pelos estudantes da Universidade de Sorbonne, em Paris, um epicentro das manifestações dos últimos dias.

"Antes das manifestações (do ano passado), ao menos as companhias enviavam uma carta de volta, dizendo ´não´ ao meu currículo", disse Mohammed, "depois, muitas nem se quer respondem".

Os protestos do ano passado No dia 27 de outubro, em Clichy-sous-Bois, subúrbio ao norte de Paris, três adolescentes caminhavam para suas casas após um jogo de futebol, quando foram abordados por uma patrulha. Eles fugiram e se esconderam em uma sub-estação de energia. Dois deles morreram eletrocutados e o outro foi internado gravemente ferido.

As mortes simbolizaram o estopim para a série de revoltas e distúrbios dos subúrbios de Paris, e mais tarde, de outras cidades, que ao longo de aproximadamente 20 dias, incendiaram carros e ônibus, e lançaram coquetéis molotov contra prédios de administração municipal, escolas e centros de recreação.

A base da massa presente nos motins é constituída pelos filhos dos imigrantes que chegaram na França entre os anos 50 e 70 por causa do declínio da população masculina na guerra, e porque os franceses, escolarizados, rejeitavam empregos de baixa qualificações e necessitavam de mão-de-obra para ocupar estes postos. A periferia foi erguida às pressas para abrigá-los há décadas atrás, e os imigrantes foram alojados em prédios precários, que hoje, se transformaram em guetos nos subúrbios.

O fio condutor desta série de distúrbios foi a discriminação no mercado de trabalho, a falta de oportunidades para ganhar a vida e o sentimento de marginalização social, reforçado pela alegação do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, de que os manifestantes eram a "escória" do país e que pretendia "limpar essas regiões".





Fonte: AP

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