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Segunda - 13 de Março de 2006 às 13:00
Por: Mike Collett-White

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A restauração de uma monarquia merovíngia descendente de Jesus, a conversão do imperador Constantino, os Cavaleiros Templários e o misterioso Priorado de Sião são tópicos que normalmente seriam reservados a discussões acadêmicas.

Nas duas últimas semanas, porém, esses e outros temas misteriosos da história ou do folclore da antiguidade e Idade Média ganharam atualidade num julgamento fascinante envolvendo direitos autorais que, na segunda-feira, ingressou em sua terceira e possivelmente última semana.

O milionário escritor Dan Brown, cujo livro "O Código Da Vinci" é um dos romances mais lidos de todos os tempos, tendo vendido cerca de 40 milhões de exemplares, é acusado de plágio extenso de uma obra de contexto histórico escrita em 1982.

Os historiadores Michael Baigent e Richard Leigh estão processando a editora britânica de Dan Brown por infração de direitos autorais, embora seja a mesma editora, Random House, que publica seu próprio livro, "The Holy Blood, and the Holy Grail" ("O Santo Graal e a Linhagem Sagrada", publicado no Brasil pela ed. Nova Fronteira).

O sucesso fenomenal da obra de Brown levou as vendas de "The Holy Blood" a aumentar nos últimos anos, e o próprio julgamento as multiplicou por sete na Grã-Bretanha.

Leigh, com sua longa cabeleira preta, bigode grisalho, casaco de couro marrom e óculos de sol, vem sendo comparado à imagem típica de motoqueiro.

Dezenas de jornalistas de todo o mundo vêm acompanhando cada virada do processo e brincam, dizendo farejar uma teoria conspiratória digna do próprio "Código Da Vinci".

Na medida em que ambos os livros provavelmente vão se beneficiar da publicidade, poderia a própria Random House estar por trás do processo? A editora nega.

"Como editora tanto de ''O Código Da Vinci'' quanto de ''The Holy Blood and the Holy Grail'', lamentamos o fato de dois dos três autores de ''The Holy Blood'' terem optado por abrir este processo litigioso contra nós", disse a editora.

Seriam necessárias muitas vendas de livros para cobrir as custas do processo, que especialistas estimam em mais de 1 milhão de libras (1,75 milhão de dólares).

QUATRO PERSONAGENS CENTRAIS

Os personagens principais da polêmica revelam alguns contrastes curiosos.

Durante mais de três dias da semana passada, Michael Baigent, que fala em tom polido, usa terno e tem ar de professor universitário, foi interrogado de maneira implacável pelo advogado da Random House, John Baldwin, sobre até que ponto "The Holy Blood" e "O Código Da Vinci" de fato se sobrepõem.

Em vários momentos ele foi obrigado a retroceder em relação a afirmações específicas feitas por ele e Leigh e a abrandar o tom de seu depoimento, que se estendeu por 146 páginas.

Na sexta-feira, foi a vez de Leigh depor, e ele imediatamente partiu para o ataque, acusando Dan Brown de roubar suas idéias e Baldwin de agir com descortesia.

Durante sua passagem muito mais breve pelo banco das testemunhas, Leigh foi interrogado sobre a originalidade de sua própria obra, publicada em 1982.

Dan Brown assistiu à maior parte dos procedimentos desde a primeira fileira dos bancos reservados ao público, aparentando calma e ocasionalmente conversando com seu advogado ou passando um bilhete para algum integrante da equipe da Random House.

O autor de 41 anos evita estar ao centro das atenções, mas terá que se acostumar a isso nesta segunda-feira, quando será interrogado pelo advogado dos autores da ação, Jonathan Rayner James.

Mas até agora o astro do julgamento tem sido o juiz Peter Smith, que consegue abrir caminho em meio a argumentos legais labirínticos com clareza e brevidade, além de injetar doses de humor nos procedimentos.

Quando ele afaga seu bigode volumoso e faz observações calmas, o tribunal lotado faz silêncio, ansioso por ouvir cada palavra.

Na semana passada, quando Leigh reclamou que Dan Brown deu crédito insuficiente a ele e seus co-autores por suas pesquisas, Smith o lembrou que "The Holy Blood" foi mencionado no romance — um dos personagens tem um nome que é um anagrama de "Baigent" e "Leigh".

Leigh respondeu que isso não bastava. Mas, nesse momento, o caso todo parecia estar se resumindo à simples solicitação de um agradecimento.

"Se Dan Brown tivesse reconhecido a contribuição de ''The Holy Blood and the Holy Grail'' na abertura de seu livro, duvido que estaríamos aqui", disse Leigh.





Fonte: Reuters

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